domingo, 1 de abril de 2018

Memorativo da Armada


A canhoneira "Bengo"

Com numerosa assistência foi hoje realizada a cerimónia do lançamento à água da canhoneira “Bengo”, construída no Arsenal de Marinha. Às duas horas da tarde, todas as oficinas do Arsenal paralisaram começando o público a entrar pela porta principal do largo do Pelourinho.
O Arsenal encheu-se de povo e no rio, grande número de botes, fragatas e vapores estavam cheios de gente.
Pouco depois chega uma força de marinha, com a respectiva banda.
Em seguida chegou o sr. Presidente da República, que foi aclamado pela multidão, sendo recebido pelos srs. Ministro da Marinha e Finanças, Major-general sr. Amado, director do Arsenal de Marinha, comandante da Divisão Naval, comandantes de todos os navios de guerra e grande número de oficiais do Arsenal.
Após alguns momentos de descanso na sala da Balança, dirigem-se todos para o local onde está a “Bengo”, ao lado da qual se encontram mais duas canhoneiras, “Mandovi” e “Quanza”, que em breve serão lançadas ao rio.

Imagem da canhoneira "Bengo" em Leixões
Foto de autor desconhecido

O sr. Presidente da República e as pessoas que o acompanhavam foram para uma tribuna levantada à proa do novo navio, assistindo dali ao retirar das escoras.
Logo que terminou esta faina, o sr. Dr. Bernardino Machado pôs a mão na quilha do navio, dizendo:
- Vai, pela Pátria e pela República.
A canhoneira deslizou suavemente na carreira, entrando direita na água, levando a bordo oito operários do troço do mar, o cabo da ponte ramal Joaquim Lopes da silva, patrão-mor João Gonçalves e sota-mor Cascais, dois operários de máquinas, sete de construções navais, quatro carpinteiros de máquinas e operário-chefe Guilherme Santos.
Nesse momento a banda da marinha tocou a marcha de continência, sendo erguidos muitos vivas e silvando todos os navios surtos no Tejo.
Terminada a cerimónia o sr. Presidente da República foi visitar outros navios em construção, recebendo mais tarde, no gabinete da administração fabril, os oficiais e encarregados da construção, a quem felicitou, encontrando-se também presente o sr. Ministro das Finanças.
A “Bengo”, que ia embandeirada, foi fundear em frente do Terreiro do Paço, devendo estar pronta a navegar dentro de seis a oito meses.
Tem de comprimento 48 metros e 8,30 metros de boca. As máquinas são da força de 400 cavalos e tem 4 peças de 47 e duas metralhadoras.
A sua construção foi iniciada em 1915, sob a direcção dos srs. agente-técnico Guilherme de Almeida e engenheiros Sequeira e Almeida Garrett.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Março de 1918)

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