Leixões, Março de 1923
Dias de angustiosa incerteza
Um vapor encalha ao sair do porto
Quando ontem, cerca das 10 horas da manhã, o vapor francês “Ouessant” se preparava para sair a barra de Leixões, com destino ao Havre, encalhou à entrada do porto, devido, ao que parece, ao assoreamento produzido pelo mar.
Matosinhos-Leça, 1 – Hoje, pelas 4 horas e meia da madrugada, entrou em Leixões o paquete francês “Ouessant”, da companhia Chargeurs Réunis, que, vindo de Montevideo e escalas, pretendia desembarcar passageiros neste porto, o que levou a efeito, levantando ferro às 9 horas e 45 minutos.
Porém, quando ia a sair, encalhou na embocadura do porto, junto da cabeça do molhe norte, correndo o risco de ir de encontro ao molhe sul. Durante cerca de 10 minutos o referido paquete não pôde safar-se; mas, afinal, com o auxílio das suas máquinas, conseguiu recuar mais para o interior do porto, onde fundeou, esperando a preia-mar para sair novamente, o que sucedeu cerca da 1 hora da tarde, tomando a direcção de Vigo.
O “Ouessant” demandava 26 e meio pés de calado ou sejam oito metros e, felizmente, não sofreu qualquer avaria.
Matosinhos-Leça, 1 – Hoje, pelas 4 horas e meia da madrugada, entrou em Leixões o paquete francês “Ouessant”, da companhia Chargeurs Réunis, que, vindo de Montevideo e escalas, pretendia desembarcar passageiros neste porto, o que levou a efeito, levantando ferro às 9 horas e 45 minutos.
Porém, quando ia a sair, encalhou na embocadura do porto, junto da cabeça do molhe norte, correndo o risco de ir de encontro ao molhe sul. Durante cerca de 10 minutos o referido paquete não pôde safar-se; mas, afinal, com o auxílio das suas máquinas, conseguiu recuar mais para o interior do porto, onde fundeou, esperando a preia-mar para sair novamente, o que sucedeu cerca da 1 hora da tarde, tomando a direcção de Vigo.
O “Ouessant” demandava 26 e meio pés de calado ou sejam oito metros e, felizmente, não sofreu qualquer avaria.
Características do vapor francês “Ouessant”
1908 - 1928
1908 - 1928
Armador: Comp. de Navigation des Chargeurs Réunis, Le Havre
Nº Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de registo: Le Havre
Construtor: Ateliers et Chantiers de la Loire, St. Nazaire, 3.2.1908
Arqueação: Tab 8.497 tons
Dimensões: Pp 147,88 mts - Boca 17,10 mts
Propulsão: Do construtor - 2:Te - 8.200 Hp - Velocidade: 14 m/h
Nº Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de registo: Le Havre
Construtor: Ateliers et Chantiers de la Loire, St. Nazaire, 3.2.1908
Arqueação: Tab 8.497 tons
Dimensões: Pp 147,88 mts - Boca 17,10 mts
Propulsão: Do construtor - 2:Te - 8.200 Hp - Velocidade: 14 m/h
Após este lamentável acidente, que profundamente prejudica o crédito do segundo porto de mar do país, as autoridades marítimas ordenaram imediatamente uma sondagem no lugar onde se deu o encalhe, sondagem que acusou 24 pés de profundidade, pelo que foram dadas ordens terminantes para que se não permitisse a entrada no porto de Leixões a navios que demandassem mais que 24 pés de calado.
O resultado deste acidente já se fez sentir, pois que o vapor “Deseado”, da Mala Real Inglesa, que devia entrar hoje em Leixões, para embarcar 280 passageiros, destinados a vários portos do Brasil e que já estava à vista do porto, recebeu instruções dos seus consignatários para tomar o rumo de Lisboa, visto que o seu calado estava em 27 pés.
Por informações que obtivemos, o encalhe do “Ouessant” deu-se em virtude de se ter formado recentemente à entrada do porto, junto da cabeça do molhe norte, um banco de areia. Entretanto, podemos assegurar que o assoreamento do porto de Leixões é de recente data, atendendo a que em Janeiro do ano corrente nele entraram vários vapores apresentado calados superiores.
Assim, no dia 27 de Janeiro, entrou o vapor francês “Connissair Ramel”, com 27 pés e meio; em 14, o vapor holandês “Gelria”, que, presentemente, é o de maior calado, com 28 pés, e o vapor francês “Eubée”, com 27 pés; todos eles entraram e saíram sem qualquer incidente.
Urge que se tomem imediatas providências. Sabemos que a Junta Autónoma, que directamente superintende nas obras de Leixões, nada pode fazer, porque o Estado lhe não faculta o numerário indispensável para as obras a realizar.
E isto é tão certo que, para o provarmos, bastará dizer que a respectiva Junta, para reparar as avarias ultimamente ocorridas no porto de Leixões, tem de recorrer ao Estado para que este lhe conceda a verba para esse fim, valendo-se de um crédito de 750 contos, que figura no orçamento geral do Estado, como garantia para o empréstimo de 30.000 contos, destinados às obras do porto comercial, mas cuja retirada necessita de autorização ministerial.
Além disso a Junta vê-se cerceada nas suas receitas, visto que o Estado lhe absorve 55% em ouro de taxas cobradas directamente à navegação e que deveriam reverter a seu favor para fazer face aos seus encargos.
A agência, no Porto, da Companhia a que o “Ouessant” pertence, está confiada ao Comptoir Maritime Franco Portugais, Limitada, com sede na rua da Nova Alfândega, da qual é seu gerente o sr. Diogo Joaquim de Matos, actual membro da Junta Autónoma, onde representa as Companhias de Navegação.
Consta que o vapor holandês “Gelria” é esperado amanhã em Leixões.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 2 de Março de 1923)
O resultado deste acidente já se fez sentir, pois que o vapor “Deseado”, da Mala Real Inglesa, que devia entrar hoje em Leixões, para embarcar 280 passageiros, destinados a vários portos do Brasil e que já estava à vista do porto, recebeu instruções dos seus consignatários para tomar o rumo de Lisboa, visto que o seu calado estava em 27 pés.
Por informações que obtivemos, o encalhe do “Ouessant” deu-se em virtude de se ter formado recentemente à entrada do porto, junto da cabeça do molhe norte, um banco de areia. Entretanto, podemos assegurar que o assoreamento do porto de Leixões é de recente data, atendendo a que em Janeiro do ano corrente nele entraram vários vapores apresentado calados superiores.
Assim, no dia 27 de Janeiro, entrou o vapor francês “Connissair Ramel”, com 27 pés e meio; em 14, o vapor holandês “Gelria”, que, presentemente, é o de maior calado, com 28 pés, e o vapor francês “Eubée”, com 27 pés; todos eles entraram e saíram sem qualquer incidente.
Urge que se tomem imediatas providências. Sabemos que a Junta Autónoma, que directamente superintende nas obras de Leixões, nada pode fazer, porque o Estado lhe não faculta o numerário indispensável para as obras a realizar.
E isto é tão certo que, para o provarmos, bastará dizer que a respectiva Junta, para reparar as avarias ultimamente ocorridas no porto de Leixões, tem de recorrer ao Estado para que este lhe conceda a verba para esse fim, valendo-se de um crédito de 750 contos, que figura no orçamento geral do Estado, como garantia para o empréstimo de 30.000 contos, destinados às obras do porto comercial, mas cuja retirada necessita de autorização ministerial.
Além disso a Junta vê-se cerceada nas suas receitas, visto que o Estado lhe absorve 55% em ouro de taxas cobradas directamente à navegação e que deveriam reverter a seu favor para fazer face aos seus encargos.
A agência, no Porto, da Companhia a que o “Ouessant” pertence, está confiada ao Comptoir Maritime Franco Portugais, Limitada, com sede na rua da Nova Alfândega, da qual é seu gerente o sr. Diogo Joaquim de Matos, actual membro da Junta Autónoma, onde representa as Companhias de Navegação.
Consta que o vapor holandês “Gelria” é esperado amanhã em Leixões.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 2 de Março de 1923)
Em Leixões
O encalhe do vapor “Ouessant” – Encalha também o “Bagé”
O encalhe do vapor “Ouessant” – Encalha também o “Bagé”
Matosinhos-Leça, 2 – Hoje, de manhã, cerca das 8 horas, foi avistado no mar, demandando o porto de Leixões, o vapor brasileiro “Bagé”.
Na capitania do porto foi içado o sinal de barra perigosa, mas o comandante do “Bagé” não tomou na devida conta aquela prevenção, continuando na sua marcha em direcção à barra. Quando passava entre os dois molhes encalhou, precisamente no ponto onde ontem tinha encalhado o vapor “Ouessant”.
A bordo nota-se grande confusão e o “Bagé”, apesar dos seus esforços e da potência das suas máquinas, não conseguiu flutuar, permanecendo naquela posição, um tanto perigosa, cerca de meia hora.
Felizmente que a preia-mar não se fez demorar e o “Bagé” só então conseguiu safar-se, indo ancorar dentro do porto. Valeu-lhe não se ter perdido o facto do mar se ter conservado razoavelmente bonançoso.
O “Bagé” pertence ao Lloyd Brasileiro e é um dos vários vapores ex alemães que foram requisitados pelo Brasil durante a guerra, fazendo actualmente a carreira entre o Brasil e o norte da Europa. Trás um carregamento de algodão, açúcar, piaçaba e outros produtos brasileiros, destinados a Leixões.
Na capitania do porto foi içado o sinal de barra perigosa, mas o comandante do “Bagé” não tomou na devida conta aquela prevenção, continuando na sua marcha em direcção à barra. Quando passava entre os dois molhes encalhou, precisamente no ponto onde ontem tinha encalhado o vapor “Ouessant”.
A bordo nota-se grande confusão e o “Bagé”, apesar dos seus esforços e da potência das suas máquinas, não conseguiu flutuar, permanecendo naquela posição, um tanto perigosa, cerca de meia hora.
Felizmente que a preia-mar não se fez demorar e o “Bagé” só então conseguiu safar-se, indo ancorar dentro do porto. Valeu-lhe não se ter perdido o facto do mar se ter conservado razoavelmente bonançoso.
O “Bagé” pertence ao Lloyd Brasileiro e é um dos vários vapores ex alemães que foram requisitados pelo Brasil durante a guerra, fazendo actualmente a carreira entre o Brasil e o norte da Europa. Trás um carregamento de algodão, açúcar, piaçaba e outros produtos brasileiros, destinados a Leixões.
Características do vapor brasileiro “Bagé”
1922 - 1943
1922 - 1943
Armador: Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro
Nº Oficial: N/d - N/d - Porto de registo: Rio de Janeiro
Construtor: Stettiner Maschinenbau A.G., Vulkan, Stettin, 24.08.1912
Arqueação: Tab 8.235,00 tons - Tal 4.969,00 tons
Dimensões: Pp 133,86 mts - Boca 17,07 mts - Pontal 10,69 mts
Propulsão: Do construtor - 2:Te - 600 Nhp - Velocidade 14 m/h
Pelas autoridades marítimas está proibida a entrada em Leixões, na baixa-mar, aos navios que demandem mais de 20 pés.
O “Gelria” não entrou, desembarcando em Lisboa os passageiros destinados a Leixões.
Nos escritórios do Comptoir Maritime Franco Portugais reuniram-se ontem, sob a presidência do sr. Diogo Joaquim de Matos, os agentes das grandes linhas de navegação, para se ocuparem do encalhe dos paquetes “Ouessant” e “Bagé” e das suas consequências.
Estiveram representadas as seguintes casas: Comptoir Maritime Franco Portugais; Kendall, Pinto Basto & Cª., Lda.; Tait & Cª.; Orey Antunes & Cª., Lda.; Francis Dawson; Pinto & Sotto Mayor; Henry Burnay & Cª., Burmester & Cª.; W. Sruve & Cª.; Companhia Nacional de Navegação; e Garland, Laidley & Cª., Lda.
Por unanimidade, foi resolvido enviar ao presidente do senado, presidente da câmara dos deputados, presidente do conselho de ministros, ministro do comércio, deputados srs. dr. José Domingos dos Santos e dr. Joaquim de Matos o seguinte telegrama:
«Os abaixo assinados, representantes das linhas de navegação, altamente alarmados pelo constante assoreamento interior do porto de Leixões, consideravam que dentro de breves meses ficaria ele deserto por impossível ser aproveitado pela navegação transatlântica se dragagens não fossem realizadas, evitando assim a perda total do porto, o que representaria verdadeira desgraça para o norte de Portugal; porém, mais alarmados ficaram agora observando o paquete “Ouessant”, na ocasião da saída de Leixões, que por duas vezes encalhou precisamente entre as cabeças dos molhes, conseguindo safar-se por possuir duas hélices e potentes máquinas, sem o que naufragaria, ficando atravessado à entrada do porto, fechando-o a todo o movimento, e já hoje encalhou também o vapor “Bagé”, safando-se com dificuldade. Nesta conjuntura os signatários constatam que desde ontem Leixões não dá entrada senão a navios de reduzida tonelagem e vários paquetes estão já seguindo outros rumos por ser impossível efectuar operações aqui. Os signatários cumprem o doloroso dever de comunicar a V.Exa., que se urgentes medidas não forem tomadas sem perda de um só dia dando poderes públicos e auxílio imediato à Junta Autónoma para proceder a obras, fazendo dragagens imediatas na entrada do porto de Leixões, seguindo-se outras no interior do mesmo porto, será indispensável então suspender já toda a navegação por Leixões. Apresentamos a V.Exa., protestos toda a nossa consideração».
Foi nomeada uma comissão, composta pelos srs. Tait, Orey e Garland, para ir a Lisboa entender-se com o governo acerca de tão gravíssimo assunto.
Uma cópia do telegrama mencionado foi remetida às presidências da Junta Autónoma, Associação Comercial do Porto, Centro Comercial do Porto e Associação dos Armadores Fluviais.
Os agentes das Companhias que estiveram presentes à reunião conservam-se em sessão permanente.
Torna-se indispensável que o governo acuda à situação em que se encontra o porto de Leixões impedindo que constitua, como agora sucede, um perigo para a navegação. Trata-se dos mais altos interesses do Porto e norte do país, que não podem continuar a ser descurados como até aqui.
Também foi enviado o seguinte telegrama:
«Exmo. ministro do comércio – Lisboa – Associação Armadores Fluviais reunidos vendo altamente ameaçados os seus interesses com o assoreamento do porto de Leixões, que ficará imediatamente inutilizado se não se fizerem dragagens dentro e à entrada do porto, vem pedir a V.Exa., todo o auxílio seja imediatamente prestado a tão momentoso assunto, pelo risco iminente em que estamos de nos vermos abandonados pela navegação de que tanto necessitamos. – O 1º secretário da direcção, António F. Domingos de Freitas».
Sobre o porto de Leixões enviaram-nos as seguintes curiosas notas:
1 de Março de 1891 - «Muita gente em Leça e Matosinhos presenciando a entrada do primeiro vapor da Mala Real Inglesa, no porto de Leixões, onde podem entrar os maiores vapores, ainda que demandassem 60 pés».
1 de Março de 1923 - «Um vapor encalhado à entrada do porto, em 26 pés, e um vapor da Mala Real a seguir viagem para Lisboa».
É triste!
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Março de 1923)
Nº Oficial: N/d - N/d - Porto de registo: Rio de Janeiro
Construtor: Stettiner Maschinenbau A.G., Vulkan, Stettin, 24.08.1912
Arqueação: Tab 8.235,00 tons - Tal 4.969,00 tons
Dimensões: Pp 133,86 mts - Boca 17,07 mts - Pontal 10,69 mts
Propulsão: Do construtor - 2:Te - 600 Nhp - Velocidade 14 m/h
Pelas autoridades marítimas está proibida a entrada em Leixões, na baixa-mar, aos navios que demandem mais de 20 pés.
O “Gelria” não entrou, desembarcando em Lisboa os passageiros destinados a Leixões.
Nos escritórios do Comptoir Maritime Franco Portugais reuniram-se ontem, sob a presidência do sr. Diogo Joaquim de Matos, os agentes das grandes linhas de navegação, para se ocuparem do encalhe dos paquetes “Ouessant” e “Bagé” e das suas consequências.
Estiveram representadas as seguintes casas: Comptoir Maritime Franco Portugais; Kendall, Pinto Basto & Cª., Lda.; Tait & Cª.; Orey Antunes & Cª., Lda.; Francis Dawson; Pinto & Sotto Mayor; Henry Burnay & Cª., Burmester & Cª.; W. Sruve & Cª.; Companhia Nacional de Navegação; e Garland, Laidley & Cª., Lda.
Por unanimidade, foi resolvido enviar ao presidente do senado, presidente da câmara dos deputados, presidente do conselho de ministros, ministro do comércio, deputados srs. dr. José Domingos dos Santos e dr. Joaquim de Matos o seguinte telegrama:
«Os abaixo assinados, representantes das linhas de navegação, altamente alarmados pelo constante assoreamento interior do porto de Leixões, consideravam que dentro de breves meses ficaria ele deserto por impossível ser aproveitado pela navegação transatlântica se dragagens não fossem realizadas, evitando assim a perda total do porto, o que representaria verdadeira desgraça para o norte de Portugal; porém, mais alarmados ficaram agora observando o paquete “Ouessant”, na ocasião da saída de Leixões, que por duas vezes encalhou precisamente entre as cabeças dos molhes, conseguindo safar-se por possuir duas hélices e potentes máquinas, sem o que naufragaria, ficando atravessado à entrada do porto, fechando-o a todo o movimento, e já hoje encalhou também o vapor “Bagé”, safando-se com dificuldade. Nesta conjuntura os signatários constatam que desde ontem Leixões não dá entrada senão a navios de reduzida tonelagem e vários paquetes estão já seguindo outros rumos por ser impossível efectuar operações aqui. Os signatários cumprem o doloroso dever de comunicar a V.Exa., que se urgentes medidas não forem tomadas sem perda de um só dia dando poderes públicos e auxílio imediato à Junta Autónoma para proceder a obras, fazendo dragagens imediatas na entrada do porto de Leixões, seguindo-se outras no interior do mesmo porto, será indispensável então suspender já toda a navegação por Leixões. Apresentamos a V.Exa., protestos toda a nossa consideração».
Foi nomeada uma comissão, composta pelos srs. Tait, Orey e Garland, para ir a Lisboa entender-se com o governo acerca de tão gravíssimo assunto.
Uma cópia do telegrama mencionado foi remetida às presidências da Junta Autónoma, Associação Comercial do Porto, Centro Comercial do Porto e Associação dos Armadores Fluviais.
Os agentes das Companhias que estiveram presentes à reunião conservam-se em sessão permanente.
Torna-se indispensável que o governo acuda à situação em que se encontra o porto de Leixões impedindo que constitua, como agora sucede, um perigo para a navegação. Trata-se dos mais altos interesses do Porto e norte do país, que não podem continuar a ser descurados como até aqui.
Também foi enviado o seguinte telegrama:
«Exmo. ministro do comércio – Lisboa – Associação Armadores Fluviais reunidos vendo altamente ameaçados os seus interesses com o assoreamento do porto de Leixões, que ficará imediatamente inutilizado se não se fizerem dragagens dentro e à entrada do porto, vem pedir a V.Exa., todo o auxílio seja imediatamente prestado a tão momentoso assunto, pelo risco iminente em que estamos de nos vermos abandonados pela navegação de que tanto necessitamos. – O 1º secretário da direcção, António F. Domingos de Freitas».
Sobre o porto de Leixões enviaram-nos as seguintes curiosas notas:
1 de Março de 1891 - «Muita gente em Leça e Matosinhos presenciando a entrada do primeiro vapor da Mala Real Inglesa, no porto de Leixões, onde podem entrar os maiores vapores, ainda que demandassem 60 pés».
1 de Março de 1923 - «Um vapor encalhado à entrada do porto, em 26 pés, e um vapor da Mala Real a seguir viagem para Lisboa».
É triste!
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Março de 1923)
O porto de Leixões
O acidente sucedido ante-ontem, à saída do porto de Leixões, com o vapor francês “Ouessant”, vem demonstrar mais uma vez a necessidade urgente de serem dadas às obras do porto a atenção que a sua manifesta importância para o desenvolvimento e riqueza do Porto e do norte do país merece. Pode dizer-se que o futuro de toda a região do norte está dependente da realização de obra de tamanho vulto, como é o porto comercial de Leixões.
É uma questão vital. É um problema em que a riqueza e desenvolvimento do Porto e norte dp país estão em jogo. O que ante-ontem e ainda ontem se deu, demonstra-o plenamente.
É a navegação a fugir do porto, é o comércio e a indústria atingidos num dos seus mais admiráveis meios de comunicação com o exterior, com o mundo inteiro, enfim.
Falta de recursos, falta de quem queira tomar conta de obras que demandam avultadíssimas despesas, o certo é que as obras do porto de Leixões estão paralisadas, enquanto o mar na sua cólera indomável, vai, todos os invernos, destruindo um pouco do que foi feito, transformando o nosso principal porto de abrigo num lugar perigoso, de onde a navegação se afasta receosa.
Esta situação não pode manter-se. Os recursos de que a Junta Autónoma dispõe são exíguos para, não diremos prosseguir com as obras no porto de Leixões, mas até para manter e conservar o pouco que está feito. Ao governo cumpre acudir a uma situação que tão graves prejuízos acarreta para a cidade e norte do país, facilitando à Junta Autónoma os recursos com que possa obstar a que chega a completa ruína o único porto aberto no norte à grande navegação.
Tem sido gasto tanto dinheiro em coisas inúteis, tem sido tão perdulariamente desfalcado o tesouro público que causa pena que de todo esse dinheiro gasto não se tivesse desviado uma parcela ao menos para o prosseguimento e conclusão das obras de um porto destinado a servir uma das mais populosas e ricas regiões do país.
Nas condições em que o porto de Leixões se encontra, só pode dar entrada a vapores de reduzida tonelagem, afastando a grande navegação que irá, naturalmente, procurar outros portos, com grave prejuízo para a economia nacional.
Problema de tal magnitude teria já merecido, em outra terra, a mais cuidadosa atenção dos respectivos governos. Em Portugal adormece-se sobre estes casos e só quando troveja é que se chama por Santa Bárbara.
Esteve iminente um sinistro marítimo que traria para o país o maior descrédito, fechando, ao mesmo tempo, à navegação, a entrada no porto de Leixões. Procure-se, enquanto é tempo, acudir a tamanho mal.
Infelizmente, só tarde se resolve agir. Tarde e a más horas. A Junta Autónoma das Instalações Marítimas (Douro-Leixões), tem grandes deveres a cumprir, neste momento.
Clame perante os poderes públicos. Clame em seu auxílio as principais corporações portuenses, câmara municipal, associações comerciais e industriais. Se nem assim a sua voz fôr escutada apele para a opinião da cidade, em comícios públicos.
Ressalvará assim as suas responsabilidades, que são grandes e demonstrará ter empenhado os últimos esforços para bem servir o país e o Porto, e para desempenhar condignamente as importantes funções que lhe foram confiadas.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingos, 4 de Março de 1923)
É uma questão vital. É um problema em que a riqueza e desenvolvimento do Porto e norte dp país estão em jogo. O que ante-ontem e ainda ontem se deu, demonstra-o plenamente.
É a navegação a fugir do porto, é o comércio e a indústria atingidos num dos seus mais admiráveis meios de comunicação com o exterior, com o mundo inteiro, enfim.
Falta de recursos, falta de quem queira tomar conta de obras que demandam avultadíssimas despesas, o certo é que as obras do porto de Leixões estão paralisadas, enquanto o mar na sua cólera indomável, vai, todos os invernos, destruindo um pouco do que foi feito, transformando o nosso principal porto de abrigo num lugar perigoso, de onde a navegação se afasta receosa.
Esta situação não pode manter-se. Os recursos de que a Junta Autónoma dispõe são exíguos para, não diremos prosseguir com as obras no porto de Leixões, mas até para manter e conservar o pouco que está feito. Ao governo cumpre acudir a uma situação que tão graves prejuízos acarreta para a cidade e norte do país, facilitando à Junta Autónoma os recursos com que possa obstar a que chega a completa ruína o único porto aberto no norte à grande navegação.
Tem sido gasto tanto dinheiro em coisas inúteis, tem sido tão perdulariamente desfalcado o tesouro público que causa pena que de todo esse dinheiro gasto não se tivesse desviado uma parcela ao menos para o prosseguimento e conclusão das obras de um porto destinado a servir uma das mais populosas e ricas regiões do país.
Nas condições em que o porto de Leixões se encontra, só pode dar entrada a vapores de reduzida tonelagem, afastando a grande navegação que irá, naturalmente, procurar outros portos, com grave prejuízo para a economia nacional.
Problema de tal magnitude teria já merecido, em outra terra, a mais cuidadosa atenção dos respectivos governos. Em Portugal adormece-se sobre estes casos e só quando troveja é que se chama por Santa Bárbara.
Esteve iminente um sinistro marítimo que traria para o país o maior descrédito, fechando, ao mesmo tempo, à navegação, a entrada no porto de Leixões. Procure-se, enquanto é tempo, acudir a tamanho mal.
Infelizmente, só tarde se resolve agir. Tarde e a más horas. A Junta Autónoma das Instalações Marítimas (Douro-Leixões), tem grandes deveres a cumprir, neste momento.
Clame perante os poderes públicos. Clame em seu auxílio as principais corporações portuenses, câmara municipal, associações comerciais e industriais. Se nem assim a sua voz fôr escutada apele para a opinião da cidade, em comícios públicos.
Ressalvará assim as suas responsabilidades, que são grandes e demonstrará ter empenhado os últimos esforços para bem servir o país e o Porto, e para desempenhar condignamente as importantes funções que lhe foram confiadas.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingos, 4 de Março de 1923)
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