Vila do Conde, 1964
Cada vez se trabalha em piores condições na construção naval,
devido ao assoreamento do rio
Vila do Conde, 14 – Não é a primeira vez que tratamos deste assunto e de todas elas nos tem animado o único propósito de chamarmos à atenção de quem de direito para as dificuldades que os construtores navais têm de vencer, para conseguirem desenvolver a sua actividade, a que corresponde, como é evidente, a labuta diária de numerosos operários da especialidade, daqui naturais ou que aqui se fixaram, no bom propósito de granjearem o sustento para si e para os seus, na dura luta pela vida, em troca de muito suor e de muito esforço.
Dum lado e do outro do rio Ave, nesta vila (agora cidade), com características que já são de sobejo conhecidas e ligadas à história dos descobrimentos dos portugueses, é supérfluo referir a importância que a indústria da construção naval teve e ainda tem na economia do País, levantam os estaleiros vilacondenses, sob a direcção de construtores com provas dadas da sua competência e da sua dedicação à indústria.
De vez em quando, promessas surgem tendentes a dar uma melhoria de condições à sua actividade e embalados por elas, a sua acção continua na esperança de melhores dias, isto é, almejando poderem dar maior desenvolvimento dos seus trabalhos. A verdade, porém, é que, o tempo passa e o que mais se verifica - para além de todas as promessas - é que o rio está cada vez mais assoreado e as dificuldades para lançar os barcos à água, são cada vez maiores.
Foi prometida a vinda de uma draga por se reconhecer que o rio está em péssimas condições para qualquer navegação e muito menos para a indústria da construção naval e embora tenham decorridos dias, sem conta, a desejada draga nunca chegou. Foi dito que os estaleiros deveriam ser localizados na margem esquerda e que para tal não faltaria o Estado com a sua comparticipação; que a foz e o leito do rio seriam modificados, de forma a permitir uma melhor navegabilidade.
Tudo tem sido dito, mas na realidade, o que acontece é que, cada vez, maiores são as dificuldades a suportar por quantos os que têm a sua vida ligada a assuntos que dependem do bom estado do rio.
Por isso, lembrando aqui o que se está a passar, queremos traduzir os clamores que até nós chegam daqueles que pretendem contribuir para o desenvolvimento do País, dando em troca o seu trabalho árduo, na esperança de colherem os proventos de que necessitam para viver.
E se nos convencermos de que as promessas, um dia, serão uma realidade, que o seu cumprimento não seja demorado para bem de quantos anseiam por essas melhorias. Pelo que aqui fica exposto, poderão todos formar uma ideia do que será lançar um barco à água, com o elevado assoreamento que se estende pelo leito do rio.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Abril de 1964)
Dum lado e do outro do rio Ave, nesta vila (agora cidade), com características que já são de sobejo conhecidas e ligadas à história dos descobrimentos dos portugueses, é supérfluo referir a importância que a indústria da construção naval teve e ainda tem na economia do País, levantam os estaleiros vilacondenses, sob a direcção de construtores com provas dadas da sua competência e da sua dedicação à indústria.
De vez em quando, promessas surgem tendentes a dar uma melhoria de condições à sua actividade e embalados por elas, a sua acção continua na esperança de melhores dias, isto é, almejando poderem dar maior desenvolvimento dos seus trabalhos. A verdade, porém, é que, o tempo passa e o que mais se verifica - para além de todas as promessas - é que o rio está cada vez mais assoreado e as dificuldades para lançar os barcos à água, são cada vez maiores.
Foi prometida a vinda de uma draga por se reconhecer que o rio está em péssimas condições para qualquer navegação e muito menos para a indústria da construção naval e embora tenham decorridos dias, sem conta, a desejada draga nunca chegou. Foi dito que os estaleiros deveriam ser localizados na margem esquerda e que para tal não faltaria o Estado com a sua comparticipação; que a foz e o leito do rio seriam modificados, de forma a permitir uma melhor navegabilidade.
Tudo tem sido dito, mas na realidade, o que acontece é que, cada vez, maiores são as dificuldades a suportar por quantos os que têm a sua vida ligada a assuntos que dependem do bom estado do rio.
Por isso, lembrando aqui o que se está a passar, queremos traduzir os clamores que até nós chegam daqueles que pretendem contribuir para o desenvolvimento do País, dando em troca o seu trabalho árduo, na esperança de colherem os proventos de que necessitam para viver.
E se nos convencermos de que as promessas, um dia, serão uma realidade, que o seu cumprimento não seja demorado para bem de quantos anseiam por essas melhorias. Pelo que aqui fica exposto, poderão todos formar uma ideia do que será lançar um barco à água, com o elevado assoreamento que se estende pelo leito do rio.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Abril de 1964)
Vila do Conde, 1984
“Lírios do Mar” – o primeiro barco de cooperativa empreendedora
Cal Brandão e Fernando Gomes no bota-abaixo em Vila do Conde
“Lírios do Mar” – o primeiro barco de cooperativa empreendedora
Cal Brandão e Fernando Gomes no bota-abaixo em Vila do Conde
Modelo do navio de pesca "Lírios do Mar"
Cortesia António Carmo por Samuel & Filhos, Lda.
Demonstração de plena teimosia, a Cooperativa de Pescas de Responsabilidade Limitada, «Lírios do Mar» procedeu ao bota-abaixo, ante-ontem à tarde, no rio Ave, em Vila do Conde, a sua primeira embarcação “Lírios do Mar”.
O barco atuneiro polivalente, está orçado em 76 mil contos, tem uma arqueação bruta de 170 toneladas, tanques de combustível para 50.000 litros e autonomia para 30 dias consecutivos.
Durante a cerimónia, presidida pelo governador civil do Porto, Mário Cal Brandão, e a que se associaram, entre outros, o secretário de Estado da Habitação, Fernando Gomes e o presidente da Câmara de Vila do Conde, o mestre do “Lírios do Mar”, José Pereira da Silva, referiu-nos que este barco foi construído por Samuel & Filhos, Lda., dos estaleiros de Vila do Conde, tendo demorado um ano e três meses a ser construído, «creio que ficará pago, em definitivo, daqui a oito anos».
Na verdade esta cooperativa de pescas, fundada em 1980, só investiu seis mil contos na construção de uma sede social, que se destina a escritórios e armazéns, por um lado e 76 mil contos na construção do barco por outro.
Relativamente a perspectivas futuras, o presidente da direcção da Cooperativa «Lírios do Mar” considerou que «enquanto este barco não fôr pago, não investiremos no que quer que seja».
Muito embora, se tenha procedido ontem ao bota-abaixo, esta nova embarcação só estará definitivamente pronta daqui a mês e meio, uma vez que ainda se vão proceder a pequenos acabamentos e que se prendem, essencialmente com a electrónica, reposição da alcatifa e afinamentos gerais. Ainda sobre o barco, podemos afirmar que ele tem 30 metros de comprimento, um motor propulsor “Alpha” de 600 cavalos e dois porões refrigerados para 90 m3.
No entender do mestre José Pereira da Silva o “Lírios do Mar” destinar-se-á essencialmente à pesca do atum, no mar dos Açores, mas dado à sua condição de atuneiro polivalente, «também poderá ser utilizado para pescar chernes, garoupas e outras qualidades de peixe, igualmente no mar dos Açores».
Por outro lado, conforme já referido, este barco custou 76 mil contos, tendo sido subsidiado em 20% pela Secretaria de Estado das Pescas, tendo o restante sido possível através dum empréstimo de 45 mil contos feito pela Caixa Geral de Depósitos, e os restantes 12 mil contos ficam por conta de um empréstimo, que os vinte e dois cooperantes contraíram junto da Secretaria de Estado da População e Emprego.
Para amortizarem a divida e pagarem os respectivos juros, estes vinte e dois cooperantes, a maior parte deles jovens, terão de pagar, obrigatoriamente, cerca de 1.200 contos por mês.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 20 de Abril de 1984)
O barco atuneiro polivalente, está orçado em 76 mil contos, tem uma arqueação bruta de 170 toneladas, tanques de combustível para 50.000 litros e autonomia para 30 dias consecutivos.
Durante a cerimónia, presidida pelo governador civil do Porto, Mário Cal Brandão, e a que se associaram, entre outros, o secretário de Estado da Habitação, Fernando Gomes e o presidente da Câmara de Vila do Conde, o mestre do “Lírios do Mar”, José Pereira da Silva, referiu-nos que este barco foi construído por Samuel & Filhos, Lda., dos estaleiros de Vila do Conde, tendo demorado um ano e três meses a ser construído, «creio que ficará pago, em definitivo, daqui a oito anos».
Na verdade esta cooperativa de pescas, fundada em 1980, só investiu seis mil contos na construção de uma sede social, que se destina a escritórios e armazéns, por um lado e 76 mil contos na construção do barco por outro.
Relativamente a perspectivas futuras, o presidente da direcção da Cooperativa «Lírios do Mar” considerou que «enquanto este barco não fôr pago, não investiremos no que quer que seja».
Muito embora, se tenha procedido ontem ao bota-abaixo, esta nova embarcação só estará definitivamente pronta daqui a mês e meio, uma vez que ainda se vão proceder a pequenos acabamentos e que se prendem, essencialmente com a electrónica, reposição da alcatifa e afinamentos gerais. Ainda sobre o barco, podemos afirmar que ele tem 30 metros de comprimento, um motor propulsor “Alpha” de 600 cavalos e dois porões refrigerados para 90 m3.
No entender do mestre José Pereira da Silva o “Lírios do Mar” destinar-se-á essencialmente à pesca do atum, no mar dos Açores, mas dado à sua condição de atuneiro polivalente, «também poderá ser utilizado para pescar chernes, garoupas e outras qualidades de peixe, igualmente no mar dos Açores».
Por outro lado, conforme já referido, este barco custou 76 mil contos, tendo sido subsidiado em 20% pela Secretaria de Estado das Pescas, tendo o restante sido possível através dum empréstimo de 45 mil contos feito pela Caixa Geral de Depósitos, e os restantes 12 mil contos ficam por conta de um empréstimo, que os vinte e dois cooperantes contraíram junto da Secretaria de Estado da População e Emprego.
Para amortizarem a divida e pagarem os respectivos juros, estes vinte e dois cooperantes, a maior parte deles jovens, terão de pagar, obrigatoriamente, cerca de 1.200 contos por mês.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 20 de Abril de 1984)
1 comentário:
E incrivel a sensacao que tenho depois de ler parte da historia da minha vida...sou filho do fundador entretanto ja falecido ha uns anos e para alem da enorme alegria que senti quando lia cada veridica palavra deste arigo, tambem realizava que de facto esta primeira parte da historia era muito azul, contrastando com o final bastante esccuro e em muitos casos ate pouco digno...por fim reconheco que este foi um dos marcos da construcao naval em madeira, nao só pelo design, tecnologia e ate alguma coragem, levada a cabo pelos nao menos emblematicos estaleiros de samuel & Filhos, Ltd e respectivos cooperates da empresa Lirios do Mar.
Muitas vezes a historia deixa de ser historia se ninguem a alimenta e a mantem presente/viva.
Muito Obrigado
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