segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

História trágico-marítima (CLXXVI)


O naufrágio do vapor “Sagres”

Continuando a dar visibilidade às páginas da revista Ilustração Portuguesa, avanço com nova história relacionada com as imagens e textos sobre naufrágios nela reproduzidos, coincidentes com episódios vividos durante o período da Iª Grande Guerra Mundial.
A opção desta feita concerne ao afundamento do vapor “Sagres”, que para melhor interpretar a ocorrência, obrigou-nos à leitura de um conjunto de notícias que vieram a público numa fase posterior, permitindo aquilatar do drama que resultou deste acto de guerra.
Na realidade, partindo da presunção que parte das informações publicadas apontam no sentido da existência de 46 tripulantes desaparecidos, e por conseguinte mortos aquando da explosão da mina, ou minas, que destruíram o navio, as notícias posteriores esclarecem que a equipagem era composta por 42 tripulantes, tendo-se salvo apenas seis, cujos nomes estão indicados pelo cônsul português em Marselha.
O que era ignorado por ausência de informação fidedigna, é que o navio transportava igualmente uma força militar composta por 106 soldados, dos quais apenas sobreviveram 9, presumivelmente de origem francesa e igualmente desembarcados em França. Isto para não mencionar também a presença a bordo de 320 cavalos.
Em função destes números é de admitir que o naufrágio do vapor “Sagres” possa representar a maior tragédia vivida por um navio com tripulação nacional nessa guerra, a que se juntam os diversos militares vitimados e que seguiam destacados com destino a Salónica.


Características do vapor “Sagres”
1916-1917
Nº Oficial: N/s - Iic: H.S.A.G. - Porto de registo: Lisboa
Armador: Transportes Marítimos do Estado, Lisboa
Construtor: Neptun Schiffswerft A.G., Rostock, Junho de 1911
ex “Taygetos”, Deutsche Levant Line, Hamburgo, 1911-1916
Arqueação: Tab 2.986,19 tons - Tal 1.816,59 tons
Dimensões: Pp 103,00 metros - Boca 14,70 metros
Propulsão: Neptun A.G., 1911 - 1:Te - 12 m/h
Equipagem: 42 tripulantes

Para evitar uma eventual captura por forças navais dos países aliados o vapor alemão "Taygetos" amarrou em Lisboa em Agosto de 1914. Posteriormente foi requisitado pelo Governo Português, em 17 de Fevereiro de 1916, passando a integrar a frota de navios do Estado subjacente à designação de Comissão Administrativa dos Serviços de Transportes Marítimos, criada para o efeito através do Decreto Nº 2229.
O navio ainda no mesmo ano de 1916 entra em contrato de fretamento com o governo inglês, através da empresa Furness, Withy & Cª., que abre escritório em Lisboa, a fim de negociarem directamente sobre o aluguer dos vapores requisitados que se encontrassem disponíveis, depois de convenientemente reparados.
O valor diário acordado para esses fretamentos foi de 14 shillings e 3 pence, porém diversos vapores colocados ao serviço da Entente foram subalugados ao governo francês, para efectuarem viagens redondas com operação a partir de Marselha. Esses mesmos vapores receberam canhões de tiro rápido, para enfrentarem situações de confronto com unidades mercantes inimigas ou tentar repelir ataques de submarinos.
O navio perde-se após colisão com mina no Mar Mediterrâneo, ao largo de Cap Blanc, na Tunísia, em 16 de Abril de 1917.

Portugal e a guerra
Constou hoje que o antigo vapor alemão “Sagres”, que se encontrava ao serviço da Intendência francesa, foi afundado por torpedeamento no Mediterrâneo. A tripulação foi salva, recolhendo ao porto mais próximo do local do sinistro.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 25 de Abril de 1917)

Portugal e a guerra
A tripulação do “Sagres”
Nota oficiosa do Ministério da Marinha:
«Segundo informações recebidas no Ministério da Marinha, sabe-se que foi torpedeado por um submarino alemão, no dia 16 do último mês, o vapor “Sagres”, de 2.966 toneladas.»
«Desembarcaram em Marselha os seguintes tripulantes: A. Serra, contra-mestre; Adriano Vieira,  paioleiro; João Moura, despenseiro; José Lopes Pitta, Manoel Barreiros e José da Silva.»
«É desconhecido o paradeiro da restante tripulação.»
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 2 de Maio de 1917)

Os sobreviventes do “Sagres”
Tendo o governo telegrafado ao cônsul português em Marselha, perguntando quais os sobreviventes do vapor “Sagres”, há tempos torpedeado, aquela autoridade respondeu ontem, dizendo que os únicos sobreviventes são: Sebastião Alfarra, Adrião Vieira, João Lopes, João Moura, Manoel Barreiros e José Silva.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 10 de Maio de 1917)


Portugal e a guerra
A tripulação do “Sagres”
Da tripulação do “Sagres”, torpedeado no Mediterrâneo, apenas se salvaram seis pessoas. Hoje apresentaram-se quatro dos sobreviventes no Instituto de Socorros a Náufragos, onde lhes foram abonadas passagens para as terras das suas naturalidades e um subsídio.

Como foi dito, dos 42 tripulantes do vapor “Sagres”, apenas se salvaram seis, e estes porque estavam no convés. Quando sentiram a explosão do torpedo que partiu o navio ao meio, afundando-o em 4 minutos, só tiveram tempo de deitar ao mar uma embarcação, onde se salvaram, manobra essa feita por quatro dos sobreviventes, porque os outros dois foram, projectados pela borda fora, sendo recolhidos no mar pelos seus companheiros.
O navio ia de Marselha para Salónica, com escala por Bizerta. Para este porto levava mil e tantas malas do correio e para Salónica 106 soldados e 320 cavalos, canhões de pequeno e grande calibre e grande quantidade de munições, indo tudo para o fundo. Dos 106 soldados apenas se salvaram 9.
O torpedeamento deu-se no dia 16 de Abril último, às 10 horas da noite. O mesmo submarino meteu a seguir no fundo mais dois navios ingleses, sendo um deles o vapor “Lanfranc”.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 16 de Maio de 1917)

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