segunda-feira, 7 de abril de 2014

História trágico-marítima (CXXXV)


O encalhe do vapor "Kurt Hartwig Siemers", no rio Douro

Sinistro marítimo
Ontem (28.12.1927), cerca das 15 horas e trinta minutos, quando o vapor alemão “Kurt Hartwig Siemers” demandava a barra do Douro, devido à forte corrente de água, desgovernou em frente à «Ponta do Dente» e, descaindo para estibordo, foi encalhar num banco de areia, que a força da corrente havia arrastado dos lados do Cabedelo.
Reclamados os socorros, compareceram imediatamente os rebocadores “Magnete” e o “Burnay IIº”, que tentando lançar amarretas à popa do vapor encalhado, não o conseguiram, em virtude dos cabos se terem partido.
Chegando, então, mais dois rebocadores, o “Lusitânia” e o “América”, este da praça de Lisboa, sempre conseguiram lançar as amarretas à proa e à popa do “Kurt Hartwig Siemers”, que, puxado violentamente e com o auxílio da sua própria propulsão, conseguiu safar-se e rumar a caminho de Leixões, onde fundeou depois das 6 horas da tarde.
Supõe-se que o “Kurt Hartwig Siemers”, que desloca 647 toneladas e trazia para o Porto, desde Port Talbot, um grande carregamento de carvão para a C.P. – sofreu, além do forte impulso da água, alguma avaria nas máquinas.
No local do sinistro compareceram também o salva-vidas da Afurada e os rebocadores “Audaz” e “Mars 2º”. Estes não chegaram a ser utilizados e aquele auxiliou eficazmente o “América” a lançar a amarreta.
O piloto que guiava o “Kurt Hartwig Siemers” era o sr. Afonso Costa Pinto que, como se compreende, nenhuma responsabilidade teve no desastre – que se explica deste modo; devido à forte corrente de água, da praia do Cabedelo foi arrastado um largo banco de areia que, saindo fora da barra, se firmou a pouca distância da saída do rio. Foi nesse banco que o navio encalhou – que, ao que consta apenas sofreu ligeiras avarias.
(In “Jornal de Notícias”, quinta, 29 de Dezembro de 1927)

Desenho de um vapor, sem correspondência ao texto

Identificação do vapor “Kurt Hartwig Siemers”
Armador: G.J.H. Siemers & Co., Hamburgo, 1922-1943
Construtor: Wilton’s E & Slpwy. Co., Roterdão, 01.1918
ex “Graaf Lodewijk”, Scheepv. “Oranje”, Nassau, 1918-1922
Arqueação: Tab 1.147,00 tons - Tal 662,00 tons
Dimensões: Pp 70,17 mts - Boca 10,36 mts - Pontal 4,02 mts
Propulsão: Wilton’s, Roterdão - 1:Te - 3:Ci - 124 Nhp - 9 m/h
O navio perdeu-se por encalhe em Klockfotsrev, próximo a Nidingen, Suécia, em 11 de Fevereiro de 1943, quando em viagem de Gotemburgo para a Alemanha, com um carregamento de papel.

Na barra do Douro – O encalhe do vapor alemão
Ontem, à tarde, auxiliado pelo rebocador “Lusitânia”, entrou a barra do Douro o vapor alemão “Kurt Hartwig Siemers”, que, ao tentar, ante-ontem, fazer a mesma manobra, encalhou num banco de areia, que se havia deslocado da praia do Cabedelo.
A propósito do sinistro sofrido pelo “Kurt Hartwig Siemers”, informações colhidas ontem na Foz, asseguram que o rebocador “Lusitânia” foi que, depois de cerca de 3 quartos de hora de violentos esforços conseguiu safá-lo. Depois disso é que o rebocador “América”, o outro rebocador de Lisboa, ajudou, também, a levar o vapor alemão até Leixões.
Entretanto, contrariando um pouco a primeira versão, o mestre do rebocador “América”, no próprio dia do sinistro, à noite, disse que, tendo o “Lusitânia” lançado uma amarreta à proa do “Kurt Hartwig Siemers”, o “América”, que lhe pegou pela popa, foi quem, com os seus empurrões, o conseguiu safar e rebocar para o canal navegável.
Como à volta deste assunto giram interesses materiais – todos defensáveis -, aqui ficam as duas versões, para que se não diga que foi tomado partido no assunto. A quem competir, em última instância, que resolva o caso como fôr de justiça.
(In “Jornal de Notícias”, sexta, 30 de Dezembro de 1927)

2 comentários:

Anónimo disse...

Qual foi o vapor alemão (Salvo erro) que naufragou no cabedelo, já dentro do Rio Douro, por alturas de 1928 ou 1929, cujos destroços eram ainda visiveis em meados dos anos 70?

reimar disse...

Boa noite,
De acordo com os meus apontamentos julgo que o navio sinistrado possa ter sido o vapor "Deister", no dia 3 de Fevereiro de 1929, considerado perda total.
No dia 15 de Abril, também em 1929, o vapor alemão "Stahleck", esteve igualmente encalhado no Cabedelo, mas foi entretanto recuperado.
Em casos futuros, continuarei a dar resposta às suas perguntas, mas agradeço antecipadamente o favor de deixar a sua identificação.
Muitos cumprimentos,
Reinaldo Delgado