sábado, 5 de março de 2011

História trágico-marítima ( VI )


O incêndio a bordo do vapor "Catania"
1894 - 1904
Armador: Etnea di Catania, Catania, Itália

Construtor: R. & J. Evans & Co., Liverpool, Inglaterra, 05.1893
ex "Bernina", Richard Mills, Liverpool, Inglaterra, 1893-1894
Arqueação: Tab 1.483,00 tons.
dp "Ausonia", G. Savona, Itália, 1904-1917
Torpedeado e afundado por submarino próximo ao Cabo Tortosa, em 14 de Setembro de 1917.

Provável foto do vapor italiano "Catania"
Imagem Photoship.Uk

Incêndio a bordo - Cerca das 4 horas da tarde de ontem foram as povoações de Leça da Palmeira e Matosinhos alvoraçadas pelo alarme dado pelo vapor italiano “Catania”, surto na bacia de Leixões, por motivo de fogo a bordo. Numerosas pessoas afluíram logo aos dois molhes do porto, enquanto outras seguiram embarcadas à força de remos para aquele navio. O incêndio manifestara-se num dos porões da proa, o mais próximo da casa das máquinas e lavrava com intensidade no carregamento do enxofre transportado.
Os primeiros socorros a chegar foram os dos bombeiros voluntários de Matosinhos-Leça, que metendo uma das máquinas numa barcaça, seguiram com ela para junto do vapor, aprestando-se para o combate. Pelo telefone foram requisitados os socorros dos bombeiros municipais e voluntários desta cidade, que imediatamente se puseram a caminho, depois da devida autorização do sr. presidente da câmara municipal. Chegados ali, os bombeiros municipais foram para bordo do vapor incendiado, ficando os voluntários de prevenção no molhe norte. O ataque começou desde logo e com a maior energia, sendo lançada água a jorros para dentro do porão onde lavrava o fogo. Nesta faina foram os bombeiros coadjuvados pelos tripulantes dos vapores inglês “City of York” e italiano “Brento”, que indubitavelmente prestaram bom serviço.
Os bombeiros municipais fizeram uso do respirador “Conig”, sendo mandadas abrir as escotilhas do vapor para melhor lhes facilitar os trabalhos de extinção do incêndio. Esses trabalhos foram dificílimos e penosos pela densa fumarada, que era verdadeiramente sufocante. A despeito desta contrariedade e mesmo do perigo, todos se mantiveram nos seus postos não afrouxando os esforços para debelar o incêndio.
A bordo compareceram os srs. Joaquim de Freitas Vasconcelos, aspirante da alfândega em serviço na delegação de Leixões, o guarda-mor de saúde sr. dr. António Gonçalves de Azevedo e o patrão de remadores sr. Leonardo Ferreira Viseu, que ao ser dado o alarme do sinistro prestaram também excelentes serviços, montando mangueiras e auxiliando noutros trabalhos de preparativo para a extinção. Estiveram igualmente ali, além do chefe do departamento marítimo do norte, o sr. Aristides Pais de Faria, capitão de fragata e do porto, o patrão-mor sr. Manuel Esteves do Vale e os pilotos da barra em serviço no porto de Leixões, acorrendo ainda pescadores, catraieiros e muitas outras pessoas, que se afadigaram em secundar os esforços dos bombeiros.
O vapor “Catania” entrou em Leixões no dia 20 do corrente, vindo de Catania, por Gibraltar e Lisboa, com um carregamento de 31.667 sacos de enxofre ou sejam 1.825 toneladas, para a firma Fonseca & Araújo limitado a A.M. Faria Couto & Cª., Sucessores e consignado a H. Burmester & Cª. É seu capitão o sr. Francisco Costanze e tem 23 homens de tripulação. O vapor tem 1.850 toneladas de registo, obstando o seu enorme calado a que pudesse entrar na barra do rio Douro. Havia já descarregado para bordo do iate “Dinorah Costa”, com destino à Figueira da Foz, 5.000 sacos de enxofre, bem como mais 220 toneladas para a barca “Jesset”, com destino ao Porto. Depois de aliviado da carga, devia o “Catania” entrar na barra do Douro, para proceder ao resto da descarga. A barcaça que conduziu o material dos bombeiros voluntários de Leça, foi levada para junto do “Catania” pelo rebocador “Mindelo”, da Empresa do porto de Leixões.
O trabalho dos bombeiros foi dirigido pelo inspector sr. capitão Arthur Ramos, pelo ajudante Nogueira e pelo chefe de companhia sr. Henrique. A forte ventania e abundante chuva que caiu dificultou por vezes o serviço de extinção, tornando arriscada a travessia nas aguas revoltosas do porto, sendo por isso a condução dos bombeiros e mais pessoas feita com as maiores precauções. Cerca das 9 horas da noite seguiu do Porto para Leça um reforço de bombeiros municipais. Além do material da estação principal, seguiu para o local do sinistro o da estação de Lordelo do Ouro. Às 2 horas da madrugada ainda trabalhavam na extinção do incêndio todos os bombeiros da localidade e do Porto. Não consta que se tenha dado qualquer desastre pessoal.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 28 de Março de 1903).

Incêndio a bordo - Cerca da 1 hora da tarde de ontem ficou extinto o incêndio que se manifestou ante-ontem a bordo do navio italiano “Catania”, fundeado em Leixões. Na noite de ante-ontem para ontem, os bombeiros suspenderam os trabalhos de extinção e retiraram; depois de haverem sido fechadas as escotilhas do porão. Assim o determinou o inspector dos incêndios sr. Arthur Ramos, por entender que melhor serviço se faria de dia. No entanto, a bordo do “Catania” ficaram de prevenção alguns bombeiros municipais do Porto e voluntários de Matosinhos-Leça. Ontem às 6 horas da manhã, sob a direcção do ajudante sr. José Joaquim Nogueira, os bombeiros das duas corporações recomeçaram a faina da extinção, aliás muito dificultosa por ser impossível suportar por muito tempo a densa fumarada asfixiante. Os trabalhos foram poderosamente auxiliados pela excelente bomba estanca-rios do rebocador “Lívio e Flávio”, do sr. Ambrósio dos Santos Gomes, que despejou grande quantidade de agua para o porão onde estavam os sacos de enxofre incendiado.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Março de 1903).

1 comentário:

Rui Amaro disse...

Ahoy!
Foi mesmo um incendio do "Caetano"!
Boas descrições para a História Trágico-msritima.
Parabéns
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro