sábado, 16 de outubro de 2010

Navios bacalhoeiros da frota do Porto - A empresa "Gaduana"


Subsídios para a história da pesca do bacalhau
na cidade do Porto

Pesca de bacalhau
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Empreza de Pesca de Bacalhau, Limitada
(em organização)

A retumbância que tem tido nos meios comerciais e capitalistas, a propaganda feita por alguns dos nossos mais eminentes homens de negócios e a exposição das condições especiais em que o nosso país se encontra, no que respeita à pesca do bacalhau, vem dando lugar à formação de empresas, destinadas a este patriótico objectivo.
Chega-nos hoje (i.e. véspera da data de publicação) à mão uma circular interessante a tal respeito, firmada por várias casas bancarias desta cidade e por vários comerciantes e outras pessoas de elevada posição no meio portuense.
Trata ela sucintamente da organização de uma flotilha destinada à pesca do bacalhau e das perspectivas financeiras, que se antevêem ao novo empreendimento.
Dos seus patrióticos intuitos podemos nós lisonjeiramente julgar e em verdade os afirmamos com a certeza de não errar. Do futuro da iniciativa não podemos deixar de acreditar também, uma vez que na comissão organizadora vem incluídos os nomes dos conhecidos banqueiros Srs. José Augusto Dias, Filho & Cª., e Joaquim Pinto Leite, Filho & Cª., da firma Barreto, Braga & Cª., Lda., e muitos outros nomes individuais de nós também bem conhecidos.
A empresa foi iniciada sob os melhores auspícios e a parte já subscrita, particularmente do capital social foi muito elevada até ontem. Mas a subscrição continua aberta até ao fim do corrente mês, nos lugares que vem indicados no anúncio inserto na secção respectiva e as condições dessa subscrição afiguram-se-nos suaves porque foram estudadas de modo equilibrado.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 24 de Janeiro de 1922)

O anúncio da subscrição referido no texto supra
(In jornal "O Comércio do Porto", de 24 de Janeiro de 1922)

Em resultado da apresentação da nova empresa cujo teor transcrevemos na integra e ainda conforme o respectivo anúncio copiado acima, julgamos por vários motivos tratar-se do nascimento da firma designada por Empresa de Pesca de Bacalhau “A Gaduana”, que foi proprietária de 2 lugres bacalhoeiros, ambos com início de actividade na campanha de pesca de 1922. Esses navios estiveram presentes nos grandes bancos pelo menos até 1928, considerando a mais que provável dissolução da empresa em 1929, por razões que desconhecemos. Ainda nesse mesmo ano teve lugar a correspondente venda dos lugres, entretanto registados em nome de novos proprietários.

Empresa de Pesca de Bacalhau “A Gaduana”, Lda., Porto

Lugre “ Luzo I “
1922 - 1928

O lugre-patacho "Famalicão", tal como se apresentava após o
bota-abaixo em Esposende, a aguardar oportunidade de saída
com destino ao Porto
Imagem (c) da colecção de José Eduardo Felgueiras, Esposende

Nº Oficial : B-150 - Iic.: H.L.U.P. - Porto de registo : Porto
Cttor.: José Dias dos Santos Borda Júnior, Esposende, 03.1920
ex “Famalicão”, Soc. de Pesca Marít. Esposende, Porto, 1920-1921
ex “Barreto Braga Iº”, Barreto, Braga & Cª., Lda., Porto, 1921-1922
Arqueação : Tab 476,66 tons - Tal 391,17 tons
Dimensões : Pp 48,60 mtrs - Boca 9,83 mtrs - Pontal 4,43 mtrs
Capitães embarcados : Paulo Fernandes Bagão (1923)

Em função das informações recolhidas em organismo oficial, o navio não deve ter efectuado qualquer viagem enquanto baptizado com o nome “Famalicão”. A compra por Barreto, Braga & Cª., Lda. orçou em Esc. 166.500$00, ignorando-se o valor da transferência para a nova empresa. Era um lugre de 3 mastros, com popa redonda, dispondo de 2 pavimentos. Em 1928 foi vendido a proprietário não identificado, tendo eventualmente transferido a matricula para a praça de Vila Real de Santo António. Todavia esta informação infelizmente não pode ser confirmada, por não constar na lista de navios nacionais qualquer registo de construção em Esposende, relativa ao ano de 1920, como igualmente não há registo de naufrágio de nenhum lugre, entre 1929 e 1930, com características semelhantes. Nesse sentido, fica em aberto a possibilidade da embarcação ter sido vendida para o estrangeiro, pelo que o considero sem rasto desde esse período.

Lugre “ Luzo 2 “
1922 - 1928

Nº Oficial : B-153 - Iic.: H.U.S.O. - Porto de registo : Porto
Construtor : Empresa Construtora Naval, Caminha, 1919
ex “Oito de Dezembro”, Emp. Constr. Naval, Porto, 1919-1920
ex “Barreto Braga IIº”, Barreto, Braga & Cª., Porto, 1920-1922
Arqueação : Tab 376,20 tons - Tal 250,19 tons
Dimensões : Pp 47,20 mtrs - Boca 9,35 mtrs - Pontal 4,24 mtrs
Capitães embarcados : Paulo Nunes Bagão (1923) e Paulo Fernandes Bagão (1924 e 1925)

Navio com características semelhantes ao anterior, foi vendido em 1929 a Manuel Gonçalves Moreira, do Porto, que rebaptizou o lugre com o nome “Ribeirinho”. Por sua vez, a tripulação viu-se forçada a abandonar o navio, ainda no decorrer do ano de 1929, num porto das Ilhas Canárias, devido a falta de segurança e por não oferecer condições de navegabilidade para sequer efectuar a viagem de regresso ao país.

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