Acredite, se quiser !
O capitão preto seguiu hoje no “Navegante II”, para a Terra Nova, a comandar uma tripulação de brancos.
(In “Jornal do Pescador”, 1949)
(In “Jornal do Pescador”, 1949)
O tal capitão preto, que mereceu um tratamento desnecessário, impróprio e repulsivamente xenófilo, foi contratado pela empresa de João Maria Vilarinho, para comandar o referido navio. Chama-se João Tavares Juff Ramos e era natural de Cabo Verde.
Reparamos que foi extremamente infeliz nesta sua viagem à Terra Nova em 1949, pois por lá teve a infelicidade de perder o seu navio no dia 25 de Agosto, por motivo de mau tempo.
Talvez tenha sido essa a razão deste seu primeiro e único embarque nos navios da pesca longínqua. Assim, de episódio em episódio, tentamos reconstruir um pouco da história da grande epopeia dos bacalhoeiros.
Reparamos que foi extremamente infeliz nesta sua viagem à Terra Nova em 1949, pois por lá teve a infelicidade de perder o seu navio no dia 25 de Agosto, por motivo de mau tempo.
Talvez tenha sido essa a razão deste seu primeiro e único embarque nos navios da pesca longínqua. Assim, de episódio em episódio, tentamos reconstruir um pouco da história da grande epopeia dos bacalhoeiros.
1 comentário:
Caro Reinaldo
Ao ler o teu post sobre o capitão Juff, fez-me relembrar um pequeno episódio, que presenciei por volta de 1950, num Domingo, e em que foi protagonista um piloto de raça Africana, que fazia parte da equipagem do lugre MARIA FREDERICO atracado no topo Oeste da doca nº 1 do porto de Leixões, que viera aliviar carga e aguardar melhor maré na barra de Aveiro, e que certamente era mesmo o capitão João Tavares Juff Ramos.
Como te deves lembrar naqueles tempos, o porto de Leixões era facultado a visitas sem restrições, fosse de dia, à noite ou mesmo de madrugada, pagava-se nas várias portarias uma coroa ($50) e podia-se permanecer dentro das docas o tempo que se quisesse, e se saísse para ir ao café próximo e regressasse à doca, o mesmo bilhete era válido, o que agora “infelizmente” é impensável, nem para entusiastas de navios e fotógrafos amadores. No molhe Sul era de borla, e de lá tirei milhentas de fotos de navios. Aos Sábados e Domingos os cais de Leixões ficavam enxameados de visitantes e até os comandantes facultavam a visita aos seus navios, até parecia que os paquetes como o ANGOLA, PÁTRIA, NOVA LISBOA, COLONIAL, NIASSA, UIGE, HILDEBRAND e muitos outros já estavam de largada com tanto visitante a bordo. Já agora em pequenos navios de carga, por vezes algum oficial mais malandreco accionava o sinal de alarme de exercício de salvamento, e então os visitantes ficavam em pânico, ao verem a tripulação equipada de coletes em correria desenfreada, a saltar para as baleeiras, forquetas e remos prontos a actuar, baleeiras suspensas nos turcos, etc. Aconteceu-me isso no Ellerman’s PALMELIAN e no Woerman’s TRANSVAAL, está claro que alguns tripulantes acalmavam os visitantes, dando uma explicação para o caso, que era deveras incomodativo.
Mas voltando ao motivo do meu comentário, acontece que aquele oficial náutico de estatura mediana mas um pouco anafado e de sotaque Ilhavense, que espairecia em terra junto ao seu lugre, fora interpelado por visitantes do porto de Leixões, gente da província, que o questionavam acerca daqueles pequenos barquinhos, empilhados no convés daquela “caravela” de costado com muita falha de tinta branca, e ao dizer-lhes qual era a sua patente a bordo, ficaram muito surpreendidos por um individuo de cor preta ser oficial do navio, muito possivelmente era o seu imediato, quase que duvidavam do que ele lhes tinha divulgado. Então o cavalheiro de cor preta, disse-lhes que na Marinha Mercante Portuguesa haviam muitos mais oficiais da sua raça, nomeadamente no arquipélago de Cabo Verde, o que não deixava de ser verdade, pois no consulado de Salazar houve intenções de lá se abrir uma escola náutica para formação de oficiais Cabo-verdianos. Aliás conheci alguns, e mais tarde na minha actividade de empregado de agência de navegação, encontrei oficiais e marinheiros da potencial marinha mercante Holandesa, apesar da sua nacionalidade Portuguesa, e que eram muito bem aceites por armadores do Benelux.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro
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