segunda-feira, 31 de maio de 2010

Navios bacalhoeiros da frota do Porto (VI)


Lugre “ Boa Sorte “
1919 - 1921
Pescarias Vilacondenses, Lda., (J. d’Almeida), Porto

O lugre "Margaret Moulton" varado na praia do Titã, em Leixões
Foto de autor desconhecido (copyright) - minha colecção

A aquisição deste navio, apesar de se tratar duma construção recente, resulta do desinteresse do armador Moulton Fisheries, no sentido de efectuar reparações na embarcação, propondo a sua venda através dos seus agentes no Porto, após ter sido vítima de acidente em Leixões. O lugre chegou procedente da Terra Nova, para descarregar uma partida de bacalhau fresco, quando por motivo de mau tempo garrou do ancoradouro, adornando devido à grande quantidade de água entrada no porão, depois de embater contra as pedras do enrocamento Oeste, no interior das instalações portuárias, a 8 de Dezembro de 1918. Nesse dia choveu copiosamente, tendo igualmente soprado vento violento acompanhado de forte trovoada. Os 4 elementos da tripulação foram resgatados pelo salva-vidas. (in “Caderno de registo de acidentes marítimos, da Capitania do porto de Leixões).

Nº Oficial : B-125 > Iic.: -?- > Registo : Porto
Construtor : M. Leary, Dayspring, Nova Escócia, 1918
ex “Margaret Moulton”, Lunenburg, Nova Escócia, 1918-1918
Arqueação : Tab 185,00 to > Tal 174,00 to
Cpmts.: Pp 36,70 mt > Boca 8,53 mt > Pontal 3,81 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
Capitães embarcados : Luiz Fernandes Pinto (1919) e José António Moço (1920 e 1921)
Adquirido em 1921 pelo Banco Industrial Português - Agência de Viana do Castelo, representado pelo gerente Augusto d'Abreu da Rocha e Sá, para a Empresa de Pesca Estrella de Portugal, Lda., por 186.000$00 (escudos). Mudou o nome para “Estrella I” e alterou o registo para a praça de Viana do Castelo. Integrou a frota de navios bacalhoeiros na campanha de pesca de 1922.

Lugre “ Estrella I “
1921 - 1926
Empresa de Pesca Estrella de Portugal, Lda., Viana do Castelo

Nº Oficial : 75 > Iic.: H.E.L.A. > Registo : Viana do Castelo
Arqueação : Tab 189,10 to > Tal 144,45 to
Cpmts.: Pp 41,00 mt > Boca 8,30 mt > Pontal 3,75 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
Capitães embarcados : João Francisco Grillo (1922), José Francisco Carrapichano (1923 a 1925) e Manuel Pereira Ramalheira Júnior (1926).
Vendido ao Dr. Nuno Freire Themudo, em 1927, por 115.000$00 (escudos). Foi rebaptizado “Maria Carlota”, conservando o registo em Viana do Castelo, com data de 21 de Maio de 1927. Toma parte na frota de navios bacalhoeiros na campanha de pesca de 1927.

Lugre “ Maria Carlota “
1926 - 1933
Dr. Nuno Freire Themudo, Viana do Castelo

Nº Oficial : 75 > Iic.: H.M.C.T. > Registo : Viana do Castelo
Arqueação : Tab 189,10 to > Tal 144,45 to
Cpmts.: Pp 41,00 mt > Boca 8,30 mt > Pontal 3,75 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
Equipagem : 8 tripulantes e 28 pescadores
Capitães embarcados : Manuel Pereira Ramalheira Júnior (1927 e 1928) e Alexandre Simões Ré (1929 e 1930).
Vendido a João Norberto Gonçalves Guerra, mantém o mesmo nome, tendo alterado o registo para a praça do Porto, em 7 de Abril de 1932. Participa na frota de navios bacalhoeiros na campanha de pesca de 1933.

O lugre e os 36 dóris disponíveis a bordo em 1928, estavam avaliados em 301.000$00 (escudos). Foram utilizadas 37 linhas completas com anzóis e azagaias, cujo preço de aquisição rondou os 31.000$00 (escudos). O produto da pesca nesse ano foi de cerca de 988 quintais de bacalhau e foram produzidos 1.013 kgs. de óleo de fígado de bacalhau. O valor conseguido com a comercialização do pescado e do óleo de fígado foi de 148.397$00 (escudos).

Lugre “ Maria Carlota “
1932 - 1947
João Norberto Gonçalves Guerra, Porto

O lugre "Maria Carlota" em porto
Foto de autor desconhecido

Nº Oficial : C-106 > Iic.: C.S.L.U. > Registo : Porto (a)
P-434-N > Iic.: C.S.L.U. > Registo : Porto (b)
Arqueação : Tab 211,40 to > Tal 155,87 to (a) > 3.600 quintais
Tab 230,05 to > Tal 167,27 to (b) > 4.632 quintais
Cpmts.: Ff 42,00 mt > Pp 36,60 mt > Bc 8,51 mt > Ptl 3,58 mt (c)
Ff 42,00 mt > Pp 36,89 mt > Bc 8,51 mt > Ptl 3,80 mt (d)
(a) em 1934 (b) em 1946 (c) em 1935 e (d) em 1939
Máquina : Sem motor auxiliar
Equipagem : 5 tripulantes e 28 pescadores
Capitães embarcados : Manuel Nunes Guerra (1934 e 1935), Marcos Luís Andorinha (1936 a 1939), José André Senos (1940 até 1945) e António Fernandes Matias (1946 e 1947).

O lugre em 1934 dispunha de 27 dóris. O produto da pesca nesse ano, conseguido nos bancos na Terra Nova e Gronelândia, foi de cerca de 3.150 quintais de bacalhau, sendo produzidos 2.000 kgs. de óleo de fígado de bacalhau. O valor conseguido com a comercialização do pescado e do óleo de fígado foi de 294.000$00 (escudos).

P.s.- A cada alteração na arqueação e/ ou no comprimento, deve corresponder a reparações ou remodelações a que o lugre foi sujeito, no percurso da sua existência. Se a primeira reparação pode ter sido efectuada em estaleiros no rio Douro, como acontecia habitualmente, em função do nome da empresa proprietária, os trabalhos de recuperação do lugre, podem igualmente ter ocorrido em Vila do Conde. Não temos conhecimento, dos locais ou estaleiros onde foram efectuados os restantes melhoramentos.
Os meus agradecimentos ao amigo Manuel de Oliveira Martins (blog "Mar de Viana"), pela gentil colaboração, melhorando significativamente a qualidade das informações disponíveis.

O histórico comercial do lugre termina com o naufrágio, por motivo de alquebramento, que teve lugar em pleno Atlântico, a cerca de 640 milhas a Leste-nordeste do porto de Argentia, na Terra Nova, a 4 de Novembro de 1947. Ao ser abandonado pela equipagem, foi-lhe ateado fogo para não constituir ameaça à navegação, pois encontrava-se na rota de ligação entre os portos europeus e o porto de Nova Iorque. Deve igualmente ser salientado o trabalho de resgate dos 31 elementos da tripulação, efectuado em duas abordagens dum escaler do navio-hospital americano “Charles A. Stafford”, sob o comando do capitão Gunnar van Rosen, nascido em Brooklyn.
O referido navio-hospital transportava na ocasião militares doentes, embarcados no porto de Bremerhaven, na Alemanha, tendo navegado com a tripulação do lugre até à sua base naval em Nova Iorque, onde foram desembarcados.

3 comentários:

Rui Amaro disse...

Caro Reinaldo
Não sei ao certo mas pelos menos a partir de 1943, embora o MARIA CARLOTA estivesse registado na capitania do Porto já não escalava nem hibernava no rio Douro, e digo isto porque desde a minha infancia jamais vi esse navio amarrado em Massarelos ou no Cavaco, tenho uma ideia que passou a amarrar em Lisboa.
A foto mostra-o fundeado no estuário do Tejo, diante do parque da Exposição do Mundo Português,na Junqueira, em 05/1940, pronto para a cerimónia religiosa da benção dos bacalhoeiros.
Saudações maritimo-entusiásticas.
Rui Amaro

reimar disse...

Ol'chap!
Como sabes os navios tinham porto de registo e porto de armamento. O registo é oficial, o armamento era facultativo. Variava consoante o interesse dos armadores e no caso dos navios da pesca longínqua, de preferência era escolhido o porto onde era efectuada a secagem do peixe.
Tal como o "Senhora da Saúde", que
fazia armamento no Douro, mas na quase totalidade do tempo esteve registado em Aveiro. Ou ainda como
foi o caso do "Vencedor", da casa Gouveia, muito tripeira, que teve o lugre sempre registado em Lisboa.
Big-hug, Reinaldo

Rui Amaro disse...

Âlõ "Doryman" Reinaldo!
Entendido e compreendido!
Eu sei desses pormenores, apenas gostava de saber para que porto foi ele passar o Inverno, se bem que Inverno era o fado desses navios e das suas eauipagens, cá e lá nos gelos.
Aqui no Douro era o se te avias no Inverno, para os pilotos, que andavam sempre a espiar ferros, com cheias ou mau tempo, apesar desses navios terem boas amarras e reforço de cabos para terra.
Saudações maritimo-entusiásticas.
Rui Amaro