Da leitura do texto publicado anteriormente ressalta a informação de navios naufragados, devido às más condições de tempo e mar revolto, nas ilhas do grupo central açoriano, que seguidamente se relatam para resgate da memória histórica, relacionados com o intenso movimento marítimo dessa época, e ainda em função do importante tráfego de passageiros e comércio existente no arquipélago.
Termo de protesto do naufrágio da barca brasileira “Providência”, de 279 toneladas, do porto do Rio de Janeiro, sendo capitão e proprietário João Lopes da Costa, ocorrido no porto de Angra do Heroísmo, em 15 de Novembro de 1851, e conta da venda dos salvados da dita barca.
Conforme consta deste protesto por virtude do temporal que originou este naufrágio, sabe-se que naufragaram no porto de Angra do Heroísmo no dia deste sinistro e nos anteriores, além da dita barca “Providência”, mais 7 navios de nacionalidade inglesa.
Conforme consta deste protesto por virtude do temporal que originou este naufrágio, sabe-se que naufragaram no porto de Angra do Heroísmo no dia deste sinistro e nos anteriores, além da dita barca “Providência”, mais 7 navios de nacionalidade inglesa.
(Termo de protesto e conta exarada a fls.31 e seguintes
do livro de «Registo dos diferentes actos praticados no
Vice-Consulado do Império do Brasil na ilha Terceira»).
do livro de «Registo dos diferentes actos praticados no
Vice-Consulado do Império do Brasil na ilha Terceira»).
Por este público instrumento de protesto se faz saber a todos que o presente virem, que perante mim, pessoalmente, compareceram neste Vice-Consulado do Império do Brasil na ilha Terceira, João Lopes da Costa, capitão e proprietário da barca brasileira “Providência”, de duzentas e setenta e nove toneladas, conforme o registo Nº 1641, procedente do Rio de Janeiro por Pernambuco e ilha de S. Miguel, e bem assim o primeiro piloto da dita barca e os respectivos marinheiros, todos abaixo assinados, os quais declararam ter o navio entrado no porto de Angra de Heroísmo em 14 de Setembro do corrente ano, com carga de géneros do Brasil, em cujo dia foi a mencionada barca ancorada como é costume neste dito porto, por ordem do Patrão-mor, com quatro amarras de ferro e ferros correspondentes, onde procedeu à descarga até ao dia 22 do mesmo mês de Setembro, ocasião em que foi visitada pela Repartição da Alfândega; e como a mencionada barca “Providência” estivesse destinada a regressar ao Rio de Janeiro, com passageiros colonos, tornou-se por isso indispensável ter pelo menos dois meses de demora, fundeada no porto, para a prontificação de mantimentos e aprestos necessários, passaportes de passageiros, etc.
Acrescentou o sobredito capitão haver solicitado ao Capitão do Porto desta cidade de Angra do Heroísmo, mandar-lhe um prático do serviço do porto, para novamente ancorar o navio em ancoradouro onde ficasse menos exposto à força do mar e ventos, que costumam reinar nesta estação, o que efectivamente se verificou sem inconveniente, até ao dia 28 de Outubro do corrente ano, em que aparecendo a atmosfera carregada, mandara reforçar a amarração de proa da barca com mais uma amarra de ferro, ficando desta forma muito bem ancorada com três boas amarras de ferro e ferros pela proa, e dois pela popa; não obstante, principiando no dia 5 do corrente mês de Novembro a refrescar com ventos de Leste e Sueste, que se mantiveram pelo espaço de 10 dias, e de dia em dia aumentando de velocidade, com o mar cada vez mais agitado e encapelado, ficando os navios incomunicaveis de terra para o mar e deste para terra; aconteceu que no dia 14 deste mês de Novembro, crescendo fortemente o temporal, deu este motivo ao funesto acontecimento de se verem naufragar três chalupas inglesas, denomidadas “Pearl”, “Speedy” e “Adelaide”, salvando-se a maior parte das suas tripulações e de outras embarcações inglesas que haviam abandonado os seus navios, permanecendo a bordo da mencionada barca “Providência”, até às 9 horas da manhã do dia 15, porque tendo sido reconhecido o eminente perigo de vida das pessoas que estavam a bordo, por razão de haverem rebentado na noite de 14 as duas amarras de ferro da popa, devido à escuna inglesa “Susan”, que garrando-lhe as suas âncoras, foi aguentar-se aos ferros das correntes da popa da “Providência”, partindo-as, pelo que veio a naufragar à meia-noite desse dia; e em seguida, já na madrugada do dia 15, às 3 horas da manhã naufragou a escuna inglesa “Miranda”.
À vista de tão tristíssimos incidentes, foi forçoso e de extrema necessidade lançar-se mão do feliz meio de se salvarem as vidas das muitas pessoas, que se achavam a bordo da “Providência”, sendo sete tripulantes da referida barca, e quatorze ingleses pertencentes às tripulações das chalupas naufragadas na véspera; conseguido o fim de se salvarem as vidas de todos à referida hora, realizado por meio dos cabos que se passaram de um dos mastros para a muralha do Castelo de S. João Baptista, no Monte Brasil, assim como a mais 16 ingleses, que à vista daquele benéfico socorro se passaram dos seus navios a ameaçar naufrágio, para bordo da “Providência”, o que felizmente conseguiram, cerca das 10 horas da manhã, continuando ainda à mesma hora fundeadas na baía do porto seis embarcações inglesas abandonadas, a barca “Providência” e o patacho português “Respeito”, unico navio que conservou a bordo, não só parte da tripulação, como a de três navios ingleses; todavia, sendo meio-dia, deitou o mesmo patacho bandeira a pedir socorro para terra, para que fosse salva a vida das pessoas embarcadas, o que foi conseguido por meio dos cabos de salvação, ficando igualmente abandonado.
Sensívelmente à mesma hora naufragaram mais duas escunas inglesas, das seis que permaneciam ancoradas às 9 horas da manhã; a “Spratley” e a “Ellen-Tane”. À 1 hora e meia da tarde foi visto de terra, haver-se rebentado uma das amarras da proa da barca “Providência”, perdendo de seguida o leme, ao colidir com a cortina do Monte Brasil, e próximo das 2 horas, o cadaste da popa ameaçava dentro em pouco ficar destruido, presumindo-se acharem-se os mastros seguros pelas amarras, tal como estavam antes de se dar o naufrágio.
Por este sinistro protesta o capitão e proprietário contra quem direito tiver, podendo ratificar o protesto, onde e perante qualquer autoridade se necessário, para que possa haver dos seguradores a importância respectiva. Em consequência do dito acontecimento, os comparecentes requereram um Auto, que servisse para eles e outros interessados, onde e quando seja necessário; por isso em virtude do seu requerimento lhes tomei o protesto, que ele capitão e todos comigo assinaram, em Angra do Heroísmo - Ilha Terceira, 17 de Novembro de 1851.
Acrescentou o sobredito capitão haver solicitado ao Capitão do Porto desta cidade de Angra do Heroísmo, mandar-lhe um prático do serviço do porto, para novamente ancorar o navio em ancoradouro onde ficasse menos exposto à força do mar e ventos, que costumam reinar nesta estação, o que efectivamente se verificou sem inconveniente, até ao dia 28 de Outubro do corrente ano, em que aparecendo a atmosfera carregada, mandara reforçar a amarração de proa da barca com mais uma amarra de ferro, ficando desta forma muito bem ancorada com três boas amarras de ferro e ferros pela proa, e dois pela popa; não obstante, principiando no dia 5 do corrente mês de Novembro a refrescar com ventos de Leste e Sueste, que se mantiveram pelo espaço de 10 dias, e de dia em dia aumentando de velocidade, com o mar cada vez mais agitado e encapelado, ficando os navios incomunicaveis de terra para o mar e deste para terra; aconteceu que no dia 14 deste mês de Novembro, crescendo fortemente o temporal, deu este motivo ao funesto acontecimento de se verem naufragar três chalupas inglesas, denomidadas “Pearl”, “Speedy” e “Adelaide”, salvando-se a maior parte das suas tripulações e de outras embarcações inglesas que haviam abandonado os seus navios, permanecendo a bordo da mencionada barca “Providência”, até às 9 horas da manhã do dia 15, porque tendo sido reconhecido o eminente perigo de vida das pessoas que estavam a bordo, por razão de haverem rebentado na noite de 14 as duas amarras de ferro da popa, devido à escuna inglesa “Susan”, que garrando-lhe as suas âncoras, foi aguentar-se aos ferros das correntes da popa da “Providência”, partindo-as, pelo que veio a naufragar à meia-noite desse dia; e em seguida, já na madrugada do dia 15, às 3 horas da manhã naufragou a escuna inglesa “Miranda”.
À vista de tão tristíssimos incidentes, foi forçoso e de extrema necessidade lançar-se mão do feliz meio de se salvarem as vidas das muitas pessoas, que se achavam a bordo da “Providência”, sendo sete tripulantes da referida barca, e quatorze ingleses pertencentes às tripulações das chalupas naufragadas na véspera; conseguido o fim de se salvarem as vidas de todos à referida hora, realizado por meio dos cabos que se passaram de um dos mastros para a muralha do Castelo de S. João Baptista, no Monte Brasil, assim como a mais 16 ingleses, que à vista daquele benéfico socorro se passaram dos seus navios a ameaçar naufrágio, para bordo da “Providência”, o que felizmente conseguiram, cerca das 10 horas da manhã, continuando ainda à mesma hora fundeadas na baía do porto seis embarcações inglesas abandonadas, a barca “Providência” e o patacho português “Respeito”, unico navio que conservou a bordo, não só parte da tripulação, como a de três navios ingleses; todavia, sendo meio-dia, deitou o mesmo patacho bandeira a pedir socorro para terra, para que fosse salva a vida das pessoas embarcadas, o que foi conseguido por meio dos cabos de salvação, ficando igualmente abandonado.
Sensívelmente à mesma hora naufragaram mais duas escunas inglesas, das seis que permaneciam ancoradas às 9 horas da manhã; a “Spratley” e a “Ellen-Tane”. À 1 hora e meia da tarde foi visto de terra, haver-se rebentado uma das amarras da proa da barca “Providência”, perdendo de seguida o leme, ao colidir com a cortina do Monte Brasil, e próximo das 2 horas, o cadaste da popa ameaçava dentro em pouco ficar destruido, presumindo-se acharem-se os mastros seguros pelas amarras, tal como estavam antes de se dar o naufrágio.
Por este sinistro protesta o capitão e proprietário contra quem direito tiver, podendo ratificar o protesto, onde e perante qualquer autoridade se necessário, para que possa haver dos seguradores a importância respectiva. Em consequência do dito acontecimento, os comparecentes requereram um Auto, que servisse para eles e outros interessados, onde e quando seja necessário; por isso em virtude do seu requerimento lhes tomei o protesto, que ele capitão e todos comigo assinaram, em Angra do Heroísmo - Ilha Terceira, 17 de Novembro de 1851.
Conta da venda dos salvados da barca brasileira
“Providência”, capitão e proprietário João Lopes da
Costa, naufragada na baía do porto de Angra do
Heroísmo, ilha Terceira, no dia 15 de Novembro de
1851, e arrematados em hasta pública na Alfândega
da mesma cidade no dia 27 do dito mês.
“Providência”, capitão e proprietário João Lopes da
Costa, naufragada na baía do porto de Angra do
Heroísmo, ilha Terceira, no dia 15 de Novembro de
1851, e arrematados em hasta pública na Alfândega
da mesma cidade no dia 27 do dito mês.
Lote 1º - Resto do casco, mastros, vergas, pano, três correntes e duas ancoras, e todos os mais fragmentos pertencentes ao navio, avaliados em 480 mil reis. Foi arrematado por Júlio Teófilo de Noronha por 513 mil reis.
Lote 2º - Uma porção de madeira salva no Porto-novo avaliada em 50 mil reis. Foi arrematada por João Lopes da Costa por 80 mil reis.
Lote 3º - Mastro da gata, dois cadernais, uma jarra vazia, uma pequena porção de cabos e outra de cobre, e madeira no cais, avaliada em 20 mil reis. Foi arrematado por António Carlos Xilberg, por 25 mil e cem reis.
Da venda dos salvados resultou um produto liquido orçado em quinhentos e dezasseis mil, cento e cinquenta reis, entregues ao capitão e proprietário da barca, sr. João Lopes da Costa. Angra do Heroísmo, 2 de Dezembro de 1851
Fonte consultada
Martins, Francisco Ernesto de Oliveira, Dos Açores e do Brasil, nos 500 anos, pp. 95/98, SerSilito – Empresa Gráfica, Lda., Maia, ISBN 972-96922-2-x
Também por força do temporal verificado nas ilhas do grupo central, registaram-se igualmente no dia 14, o naufrágio do iate brasileiro “Amizade”, sendo que a tripulação estava em terra, e no dia 15, deu-se o encalhe e subsequente destruição do brigue português “Cruz”, ambos os sinistros ocorridos na ilha do Faial.
Lote 2º - Uma porção de madeira salva no Porto-novo avaliada em 50 mil reis. Foi arrematada por João Lopes da Costa por 80 mil reis.
Lote 3º - Mastro da gata, dois cadernais, uma jarra vazia, uma pequena porção de cabos e outra de cobre, e madeira no cais, avaliada em 20 mil reis. Foi arrematado por António Carlos Xilberg, por 25 mil e cem reis.
Da venda dos salvados resultou um produto liquido orçado em quinhentos e dezasseis mil, cento e cinquenta reis, entregues ao capitão e proprietário da barca, sr. João Lopes da Costa. Angra do Heroísmo, 2 de Dezembro de 1851
Fonte consultada
Martins, Francisco Ernesto de Oliveira, Dos Açores e do Brasil, nos 500 anos, pp. 95/98, SerSilito – Empresa Gráfica, Lda., Maia, ISBN 972-96922-2-x
Também por força do temporal verificado nas ilhas do grupo central, registaram-se igualmente no dia 14, o naufrágio do iate brasileiro “Amizade”, sendo que a tripulação estava em terra, e no dia 15, deu-se o encalhe e subsequente destruição do brigue português “Cruz”, ambos os sinistros ocorridos na ilha do Faial.
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