terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Emigração açoriana para o Brasil


Movimento de navios portugueses e brasileiros com destino ou procedentes do Brasil, de que há notícia no porto de Angra do Heroísmo, até ao naufrágio do vapor “Lidador”. 

O êxodo descontrolado de emigração para o Brasil, provocou junto das autoridades locais um violento mal estar, como segue:
«O Administrador Geral do Distrito de Angra do Heroísmo, faz público o que seguinte:
Tendo-se tornado um objecto grave, e da mais séria ponderação, o extraordinário embarque dos moradores desta ilha, e das de S. Jorge e Graciosa para o Império do Brasil, tal como o que ultimamente se realizou a bordo do bergantim brasileiro “Nova Sociedade”:
E tendo mostrado a experiência que não há conselhos que tendo asas de força para demoverem qualquer pessoa do intento uma vez formado de ir visitar as praias do novo mundo; pois que nem os incómodos e perigos duma viagem longa, nem o receio da privação da liberdade, nem a apreensão duma sorte desgraçada, nem a perda da Pátria, nem a separação da família, dos parentes e dos amigos, nem os rigores dum clima abrasador – nada pode desvanecer as ilusões de fortuna e de bens sem conta que a imaginação mais exaltada oferece em perspectiva aqueles infelizes...
E sendo do dever dos Magistrados Administrativos considerar com o maior escrúpulo e circunspecção tudo quanto directa ou indirectamente pode diminuir a população, prejudicar a agricultura, as artes, o comércio, atenuar as rendas do Estado, e tornar mais pesados e onerosos os encargos públicos – inconvenientes estes que além de outros se verificam na funestíssima Emigração Açoriana:
Por todos estes motivos, e outros, consultou o Governo de Sua Majestade, pedindo instruções, as mais terminantes, sobre um assunto tão melindroso, a fim de proceder a semelhante respeito com toda a segurança, e bons termos – decidido a negar passaportes para o referido Império do Brasil, enquanto não baixarem a esta Administração Geral as solicitadas instruções.
E para que a todos os moradores do Distrito de Angra do Heroísmo, ou a quem convier, conste que não se dão passaportes para o Brasil até serem recebidas as ordens de Sua Majestade a Rainha – se mandou fazer este Alvará, que será publicado em todos os Concelhos e Freguesias – bem como se farão mais tarde publicar as ordens de Sua Majestade logo que chegarem.
Palácio da Administração em Angra, 23 de Outubro de 1840
O Administrador Geral, José Silvestre Ribeiro»
Quanto ao pedido de instruções para ajudar à resolução do problema, parto do pressuposto que após implantada a “Lei da Rolha”, anulando a possibilidade dos locais continuarem a emigrar para o Brasil, volvidos dez anos, o tráfego marítimo pode ter inclusivamente aumentado, como a seguir se explica:
Janeiro de 1851
- Barca “Maria 2ª”, de nacionalidade brasileira, arqueando 246 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, tendo saído de regresso ao porto de origem, conduzindo a bordo 21 tripulantes. Embarcaram em Angra 62 colonos, mantimentos e mercadoria diversa.
Maio de 1851
- Brigue-escuna “Rival”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 169 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, tendo saído de regresso ao porto de origem, conduzindo a bordo 28 tripulantes. Embarcaram 48 colonos, mantimentos e mercadoria diversa. - Brigue “Visconde de Bruges”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 120 toneladas, chegou procedente da ilha Terceira, tendo saído com destino ao Rio de Janeiro, conduzindo a bordo 18 tripulantes.
Julho de 1851
- Brigue “Prenda”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 177 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, tendo saído de regresso ao porto de origem, conduzindo a bordo 28 tripulantes. Embarcaram 8 colonos, mantimentos e mercadoria diversa.
Setembro de 1851
- Galera “Sophia”, de nacionalidade brasileira, arqueando 380 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, tendo efectuado escala no Faial. Na viagem de regresso ao Brasil passou por S. Miguel seguindo depois com destino à Bahia.
Outubro de 1851
- Brigue-escuna “Rival”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 169 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, tendo saído de regresso ao Rio. Embarcaram 41 colonos, e mercadoria diversa.
Dezembro de 1851
- Barca “Providência”, de nacionalidade brasileira, arqueando 298 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, por Pernambuco e S. Miguel. Naufragou em Angra do Heroísmo.
Março de 1852
- Brigue “Athelante”, de nacionalidade brasileira, arqueando 313 toneladas, chegou procedente de Lisboa, tendo saído com destino ao Rio de Janeiro. Embarcaram 45 colonos, e mercadoria diversa.
Abril de 1852
- Brigue “Prenda”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 177 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, tendo saído de regresso ao porto de origem. Embarcaram em Angra 25 colonos, mantimentos e mercadoria diversa.
Agosto de 1852
- Galera “Sophia”, de nacionalidade brasileira, arqueando 380 toneladas, chegou a Angra procedente do Rio de Janeiro, tendo efectuado escalas em Lisboa e no Faial.
Março de 1853
- Patacho “Desengano”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 161 toneladas, chegou procedente do Rio de Janeiro, tendo saído de regresso ao porto de origem. Embarcaram em Angra 36 colonos, mantimentos e mercadoria diversa.
Maio de 1853
- Brigue “Amizade”, de nacionalidade brasileira, arqueando 251 toneladas, chegou procedente dos portos do Rio de Janeiro e Pernambuco. Saiu apenas em Junho devido a eventuais condições de mau tempo. Transportou 25 colonos.
Outubro de 1853
- Galera “Sophia”, de nacionalidade brasileira, arqueando 380 toneladas, chegou a Angra procedente de Ponta Delgada, e do Faial.
Novembro de 1853
- Barca “Novo Rival”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 257 toneladas, partiu com destino ao Rio de Janeiro. Embarcaram em Angra 70 colonos, mantimentos e mercadoria diversa.
Junho de 1854
- Brigue “Prenda”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 177 toneladas, saiu para o Rio de Janeiro, transportando 63 colonos.
- Barca “Novo Rival”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 257 toneladas, saiu para o Rio de Janeiro. Embarcaram 139 colonos.
Dezembro de 1854
- Brigue “Prenda”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 177 toneladas, saiu para o Rio de Janeiro, transportando 88 colonos.
Março de 1855
- Barca “Novo Rival”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 257 toneladas, partiu para o Rio de Janeiro. Embarcaram 110 colonos.
Agosto de 1855
- Brigue “Prenda”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 177 toneladas, saiu para o Rio de Janeiro, transportando 177 colonos.
Setembro de 1855
- Barca “Novo Rival”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 257 toneladas, partiu para o Rio de Janeiro. Embarcaram 126 colonos.
Outubro de 1855
- Patacho “D. Pedro V”, de nacionalidade brasileira, arqueando 228 toneladas, saiu para o Rio de Janeiro. Transportou 132 colonos.
Maio de 1856
- Patacho “D. Pedro V”, de nacionalidade brasileira, arqueando 228 toneladas, chegou procedente do Faial. Saiu com destino ao Rio de Janeiro. Transportou 250 colonos.
Junho de 1856
- Barca “Novo Rival”, de nacionalidade portuguesa, arqueando 257 toneladas, partiu para o Rio de Janeiro. Embarcaram em 112 colonos.
Agosto de 1873
- Vapor “Lidador”, de nacionalidade brasileira, arqueando 892 toneladas, seguiu viagem no dia 2 deste mês com destino a Pernambuco, levando a bordo 180 casais.
Fevereiro de 1878
- Vapor “Lidador”, de nacionalidade brasileira, arqueando 892 toneladas, chegou à ilha Terceira no dia 7, procedente do Faial, tendo agendada a partida com destino ao Rio de Janeiro, com escala na ilha de S. Miguel. Porém, como depois explicaremos, por motivo de mau tempo, o vapor naufragou junto ao cais da Figueirinha, no dia seguinte, vindo por esse motivo a ser considerado perda total.
Fonte consultada
Martins, Francisco Ernesto de Oliveira, Dos Açores e do Brasil, nos 500 anos, pp. 86-103/104, SerSilito – Empresa Gráfica, Lda., Maia, ISBN 972-96922-2-x
- Continua -

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