quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

História trágico-marítima (XXII)


Duas etapas do lugre "Rio Mondego
O princípio e o fim!...
2ª. parte

Segunda parte da notícia publicada na revista Nº 639 da
Ilustração Portuguesa, com data de 20 de Maio de 1918
Imagem do fotógrafo sr. Pereira Monteiro

A notícia acima é o culminar da festa alusiva à conclusão e bota-abaixo de um navio, que acreditamos prometia muito em função da sua esmerada construção. O lugre depois de convenientemente armado prepara-se para a primeira viagem, que tem origem a partir de Setúbal, com um carregamento completo de vinho do Porto, para o porto inglês de Swansea.
Depois, ainda no decorrer dessa viagem inaugural...

O lugre “Rio Mondego” torpedeado
Ignora-se qual o destino dos tripulantes
Figueira da Foz, 14 - Por informação recebida nesta cidade, sabe-se que foi torpedeado na costa inglesa o lugre “Rio Mondego”, há pouco construído nos estaleiros da Sociedade Figueirense de Navegação. É de lamentar a perda do barco, pois era o maior, em madeira, que tem sido construído nos estaleiros nacionais. Da tripulação nada se sabe, esperando-se por informações oficiais.
(In jornal “O Século”, de 18 de Setembro de 1918).

O lugre “Rio Mondego” não foi torpedeado
Contrariamente às informações noticiadas ontem, o lugre não foi afundado. Na sua aproximação da costa inglesa, foi atacado a tiro, por um submarino inimigo, destruindo-lhe a mastreação e produzindo-lhe estragos no convés. O navio foi rebocado seguidamente e encalhado do melhor modo em Scilly (ilha no Sudoeste da costa de Inglaterra), de onde o capitão telegrafou em 7 deste mês, dando conta da ocorrência e concluindo que a tripulação fora salva e o carregamento estava em bom estado.
Segundo consta, posteriormente aquele comunicado o lugre deve ser rebocado para Swansea, que era afinal o seu porto de destino. O “Rio Mondego”, recentemente construído nos estaleiros da Sociedade Figueirense de Navegação, era dos nossos navios de vela modernos e de maior tonelagem e efectuava a sua primeira viagem, tendo por ponto de partida Setúbal, em viagem com destino a Swansea.
Como referido, o seu capitão M. Henrique Silva, teve a sorte de escapar à fúria destruidora dos alemães, salvando não só a tripulação do barco, como o próprio carregamento, pois os danos, ao que parece, são apenas no navio e estes de fácil reparação.
(In jornal “O Século”, de 19 de Setembro de 1918)

Lugre de 4 mastros “ Rio Mondego “
1918 - 1919
Nº Oficial: ?? - Iic: ?? - Porto de registo: Figueira da Foz
Construtor: Jeremias Martins Novais, Murraceira, 14.04.1918
Arqueação: Tal 670,00 tons
Dimensões: ?
Propulsão: À vela
Equipagem: ?
Capitães embarcados: M. Henrique Silva (1918)

Aparentemente o lugre esteve sujeito, como tantos outros, à fúria destruidora das cargas de dinamite colocadas a bordo pela tripulação do submarino alemão U-53, que se encontrava sob o comando do capitão Otto von Schrader, no dia 5 de Setembro de 1918. Porém, em sentido inverso à pratica comum, com o navio já abandonado pela tripulação, e apesar das severas avarias provocadas pelos explosivos, manteve-se a flutuar, permitindo ser rebocado até à costa das Ilhas Scilly, onde foi encalhado.
Quanto ao carregamento de vinho do Porto, que se encontrava parcialmente danificado, foi posto sob vigilancia aduaneira, o que não  impediu que uma razoavel quantidade desse precioso nectar se tivesse misteriosamente "evaporado", sob suspeita de ter servido para animar condignamente as comemorações do Armistício, em Novembro desse mesmo ano.
A presunção inicial que antecipava uma fácil reparação do navio gorou-se por completo. As tentativas para recuperar o navio resultaram numa enorme decepção, levando ao abandono do lugre em Março de 1919, depois da constatação de se encontar em absoluto estado de inavegabilidade.

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