domingo, 1 de setembro de 2013

História trágico marítima (LXXIV)


O naufrágio do vapor “Portugal”

Navio mandado construir em Inglaterra, com a finalidade de estabelecer um tráfego regular desde o continente até Moçâmedes, com escalas previstas em diversos portos das ex-colónias. Navegou desde 1881 até 1897, sempre sob a bandeira da Empresa Nacional de Navegação, perdendo-se por encalhe na ilha do Sal, em Cabo Verde, a 5 de Fevereiro de 1897.

O paquete "Portugal" da Empresa Nacional de Navegação
para a África Portuguesa (Desenho do natural por João Dantas)

O paquete “Portugal”
da Empresa Nacional de Navegação para a África Portuguesa
É de há muito reclamada e reconhecida a necessidade de uma navegação regular entre o continente de Portugal e as suas possessões de África, com novos barcos a vapor que satisfação as exigências do serviço, por estarem velhos e em más condições de navegabilidade regular os que existem. A Empresa Nacional de Navegação para a África Portuguesa tratou de adquirir novos navios dos quais um é o paquete “Portugal” e o outro é o “Angola”. O paquete “Portugal” que já entrou no serviço, saindo do porto de Lisboa com destino à África Ocidental Portuguesa, em 5 do corrente, é um navio que tem todas as condições precisas para uma navegação regular, oferecendo as comodidades possíveis aos seus passageiros. Este barco construído pela Earl’s Shipbuilding Co., mede 295 pés de comprimento, 35 de largo, 25 de altura e 1.966 de tonelagem. Tem 6 compartimentos e alojamentos separados, incluindo os da 3ª classe para mulheres e doentes, quartos de banho, botica, camarote independente para o facultativo, depósito de bagagens, salão de fumo, etc. Cada classe tem a sua câmara e a da 1ª classe mede 65 pés de comprimento. Pode dar passagem a 60 passageiros de 1ª classe, 32 de 2ª e 120 de 3ª, para o possui os alojamentos necessários, com todas as comodidades de conforto e higiene. Os aposentos de 1ª classe são especialmente os mais luxuosos no gosto com que estão adornados. Este navio arma em brigue e o seu governo pode ser feito, tanto mecanicamente como à mão. Tem 6 escaleres sendo 4 salva-vidas. O seu andamento é muito satisfatório pois que, nas primeiras experiências deitou 12 milhas, e na sua viagem de Cardiff para Lisboa gastou 80 horas, com vento rijo pela proa. O paquete “Angola” ainda não está em Lisboa, sendo esperado em fins de Novembro, destinando-se à mesma navegação.
(In revista “Ocidente”, Nº102, de 21 de Outubro de 1881)

O navio
Nº oficial: n/t - Iic.: H.G.R.F. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Earl’s Shipbuilding & Engineering Co., Ltd.,
                    Hull, Inglaterra, Setembro de 1881
Arqueação: Tab 1.966,0 tons - Tal 1.803,0 tons - 1.635,78 m3
Dimensões: Pp 88,70 mts - Boca 10,70 mts - Pontal 7,80 mts
Propulsão: Earl’s, 1881 - 1:Cp - 1.250 Ihp - 10 m/h
Equipagem: ? tripulantes e capacidade para 212 passageiros

O paquete "Portugal" - Desenho de Luís Filipe Silva

O sinistro
Correu ter sofrido avaria o vapor “Portugal” da carreira de África. O governador de Cabo Verde mandou sair uma canhoneira à procura do vapor, sabendo que a demora da chegada a S. Vicente fora devido a pequena avaria no hélice, fácil de reparar.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 11 de Fevereiro de 1897)

Naufrágio do vapor “Portugal”
Lisboa, 12 de Fevereiro – O sr. Ministro da Marinha recebeu um telegrama do governador de Cabo Verde, participando que o vapor “Portugal” foi encontrado encalhado, perdido, na ilha do Sal, tendo também perdido parte do carregamento. Foram, porém, salvos os passageiros e os tripulantes.
O “Portugal” era esperado em Lisboa entre 18 e 19 do corrente. A Canhoneira “Rio Ave”, que saíra à sua procura, foi que encontrou o vapor.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 13 de Fevereiro de 1897)

O naufrágio do vapor “Portugal”
Lisboa, 13 de Fevereiro – A respeito do vapor “Portugal” a Empresa Nacional de Navegação recebeu este telegrama: «O vapor “Portugal” encalhado na ilha do Sal. Dois rombos no fundo. Impossível safar. Não há vitimas. Parte da carga salva. A tripulação veio para terra; não há recursos; pedem-se ordens.»
A empresa respondeu: «O “Bissau” fazendo correio levará passageiros e tripulantes disponíveis para levar o “Portugal” para a Praia. Telegrafe se há possibilidades de safar o vapor, indo o material adequado. Consulte o agente do Lloyd’s.»
Esta manhã veio o seguinte telegrama: «Peritos dizem ser impossível safar o vapor».
A Empresa Nacional de Navegação deve perder 10.000 libras com o sinistro do “Portugal”. O vapor era um navio que tinha já 14 anos, servindo efectivamente.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 14 de Fevereiro 1897)

1 comentário:

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

A Nacional ainda procurou dar o nome PORTUGAL a um segundo paquete,lançado ao Elba em 1929 com este nome para depois se chamar QUANZA. Navegou até 1968