Na hora da despedida...
Sempre gostei de navios, vapores, confidenciava-me o Francisco Cabral. Em 1937, no meu décimo aniversário ganhei a máquina fotográfica, que havia pedido ao meu pai. Logo que pude passeei pela margem do rio e gastei parte do rolo, salvando as imagens que vi do intenso movimento fluvial que existia no Douro.
Anos mais tarde, estabelecida uma boa relação com os vigias do Posto Semafórico, chamavam-me por telefone a avisar que um vapor entrara na barra, com destino a Gaia, à Alfândega, ao cais da Piedade ou aos Vanzeleres, e logo seguia para me deliciar com as manobras, que decorriam às vezes com previsível frequência.
De um lado para o outro, utilizava os transportes públicos, senão andava a «butes», em clara associação com os navios da Booth Line, contava ele. Mas simultâneamente, recorda, que vivendo numa casa na rua da Bandeirinha, rapidamente descia os degraus que o levavam a Miragaia, ponto previligiado para grande parte das suas observações.
Por volta de 1980, convidou-me para mais uma das nossas muitas conversas. Disse que dias antes estivera numa reunião com o arquiteto Octávio Lixa Filgueiras, de quem recebeu a notícia, que estava acertado um projecto apoiado pelo almirante Sousa Leitão, visando a criação de um grupo familiarizado com assuntos marítimos e se estava interessado em participar.
Respondi-lhe afirmativamente e num curto espaço de tempo estava agendada a primeira reunião, e outras se seguiram, vindo a dar origem ao Grupo de Arqueologia Naval do Noroeste. Presentes praticamente desde o início dos trabalhos, evoco os nomes de diversas pessoas difíceis de esquecer, tais como o Padre Bernardo Xavier, o engº. Rui Pinto ou o Anjos Moreira. Outros mais, que não cito, porque felizmente continuam connosco, dando o melhor do seu esforço, em prol das actividades, do interesse e divulgação do grupo a nível nacional.
Pessoa duma educação e delicadeza única, fazia questão de me mostrar o seu imenso património marítimo, a colecção de livros e as muitas imagens, que ele fizera ou adquirira nos antiquários da cidade, ou até mesmo em feiras de velharias que visitava com grande regularidade.
E, a cada ocasião que sentia a necessidade de uma opinião, ou de um auxílio para desenvolver uma determinada pesquisa, sabia que ele nunca se faria rogado a colaborar, eventualmente vendo em mim o seu delfim, o continuador da obra que com tanto carinho havia desenvolvido.
Na hora da despedida, não consigo imaginar alguém que não se deixasse contagiar pela sua forma de ser humilde e disponível, nos muitos convívios desfrutados ao longo dos anos. Era normal, muito por causa da idade avançada, que um dia partiria para outro ponto de observação dos navios e do rio Douro, de que tanto gostava.
Talvez, qualquer dia estejamos de novo juntos a partilhar ideias e emoções, de uma ou outra história que o destino interrompeu.
Obrigado por tudo e até sempre!...
Anos mais tarde, estabelecida uma boa relação com os vigias do Posto Semafórico, chamavam-me por telefone a avisar que um vapor entrara na barra, com destino a Gaia, à Alfândega, ao cais da Piedade ou aos Vanzeleres, e logo seguia para me deliciar com as manobras, que decorriam às vezes com previsível frequência.
De um lado para o outro, utilizava os transportes públicos, senão andava a «butes», em clara associação com os navios da Booth Line, contava ele. Mas simultâneamente, recorda, que vivendo numa casa na rua da Bandeirinha, rapidamente descia os degraus que o levavam a Miragaia, ponto previligiado para grande parte das suas observações.
Por volta de 1980, convidou-me para mais uma das nossas muitas conversas. Disse que dias antes estivera numa reunião com o arquiteto Octávio Lixa Filgueiras, de quem recebeu a notícia, que estava acertado um projecto apoiado pelo almirante Sousa Leitão, visando a criação de um grupo familiarizado com assuntos marítimos e se estava interessado em participar.
Respondi-lhe afirmativamente e num curto espaço de tempo estava agendada a primeira reunião, e outras se seguiram, vindo a dar origem ao Grupo de Arqueologia Naval do Noroeste. Presentes praticamente desde o início dos trabalhos, evoco os nomes de diversas pessoas difíceis de esquecer, tais como o Padre Bernardo Xavier, o engº. Rui Pinto ou o Anjos Moreira. Outros mais, que não cito, porque felizmente continuam connosco, dando o melhor do seu esforço, em prol das actividades, do interesse e divulgação do grupo a nível nacional.
Pessoa duma educação e delicadeza única, fazia questão de me mostrar o seu imenso património marítimo, a colecção de livros e as muitas imagens, que ele fizera ou adquirira nos antiquários da cidade, ou até mesmo em feiras de velharias que visitava com grande regularidade.
E, a cada ocasião que sentia a necessidade de uma opinião, ou de um auxílio para desenvolver uma determinada pesquisa, sabia que ele nunca se faria rogado a colaborar, eventualmente vendo em mim o seu delfim, o continuador da obra que com tanto carinho havia desenvolvido.
Na hora da despedida, não consigo imaginar alguém que não se deixasse contagiar pela sua forma de ser humilde e disponível, nos muitos convívios desfrutados ao longo dos anos. Era normal, muito por causa da idade avançada, que um dia partiria para outro ponto de observação dos navios e do rio Douro, de que tanto gostava.
Talvez, qualquer dia estejamos de novo juntos a partilhar ideias e emoções, de uma ou outra história que o destino interrompeu.
Obrigado por tudo e até sempre!...
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