sábado, 13 de outubro de 2012

O passado, sempre actual...


Vapor “Archimedes”
Resumo histórico do primeiro vapor a utilizar propulsão a hélice

O vapor "Archimedes" a navegar
Gravura de autor desconhecido

Data de Julho de 1874 a primeira construção bem-sucedida de um vapor, tendo-lhe sido aplicada uma hélice para a respectiva propulsão, em substituição das pás laterais, que se utilizaram em larga escala nesse período. Essa novidade, que veio a generalizar-se até à actualidade, deve ser considerada como um dos processos de desenvolvimento mais inovadores, só comparável à introdução das máquinas com caldeiras a vapor, nos navios que até então utilizavam apenas a propulsão à vela. Coube a responsabilidade desta construção em ferro no cais 192, ao estaleiro de Hall Russel & Co., em Aberdeen, segundo encomenda da companhia Liverpool, Brazil & River Plate Steam Co., que julgo possam saber ter a empresa Lamport & Holt Line, como principais operadores.
O navio que durante décadas cruzou o atlântico terá muito provavelmente efectuado escalas em portos nacionais, continuadas posteriormente por outros navios durante muitos anos, no tráfego entre a Europa e a América do Sul, que incluía simultaneamente o transporte de carga e passageiros. Matriculado no porto de Liverpool, tinha 1.520 toneladas de registo bruto, 82,69 metros de comprimento entre perpendiculares e 9,78 metros de boca. A propulsão era mantida por uma máquina compound fabricada pelo construtor, de 2 cilindros, com uma potência de 150 Bhp, assegurando uma velocidade na ordem da 10,5 milhas por hora.
Capitães embarcados: J. Verril (1876-1879 e 1882-1883), Davies (1884-1885), Fairlan (1886-1887) e Ballantine (1890-1891).
O jornal de Aberdeen, na sua edição de 16 de Setembro de 1874, comentava a saída do navio para provas de mar com resultados muito satisfatórios, tendo atingido a velocidade de 10,5 milhas por hora, com um consumo de 1-7/8 libras de carvão, de acordo com a potência especificada. Que estava previsto para breve a saída do navio para Londres, seguindo à posteriori com destino ao Brasil, sob o comando do capitão Ferguson. De acordo com o jornal Glasgow Herald, de 28 de Dezembro de 1874, o navio chegou a Southampton a 25 de Dezembro, após terminada a viagem realizada ao Brasil e ao Rio da Prata. Já o jornal Belfast Newletter, de 11 de Janeiro de 1875, publica a confirmação da saída do vapor, em viagem directa para Montevideo e Buenos Aires.
Naturalmente, pelo interesse que o navio despertava, notícias como as atrás citadas foram aparecendo nos jornais um pouco por todo o lado, correspondendo às escalas em curso, pelo menos até à venda do vapor à companhia francesa H. Duchon-Doris, em 1894, época em que lhe foi alterada a matrícula para o porto de Marselha e rebaptizado com o nome “Helene”.
Capitães embarcados: Ausenac (1895-1896), Queguiner (1896-1897) e Caccialupi (1898-1899).
Em 1899 o vapor é novamente posto à venda, sendo adquirido por outro armador francês, desta feita o sr. G. Levit. O navio manteve o mesmo nome e o mesmo capitão, todavia alterou a matrícula para o porto de Bordéus. E obviamente o navio continuava a preencher colunas nos diários. Como exemplo, valemo-nos primeiro através da escrita no jornal Liverpool Mercury, a 27 de Fevereiro de 1895, comentando que o vapor na antevéspera havia colidido com um ferry a vapor francês, no interior do porto de Bordéus, provocando-lhe o afundamento. E mais tarde, o mesmo jornal noticiava em 13 de Novembro de 1896, que o “Helene” chegara ao porto de Marselha, com 300 emigrantes oriundos da Síria, sendo que a maior parte deles iriam continuar viagem para a América do Sul.
Já em 1902 o navio muda novamente de proprietário, após concretizada a compra pela firma Devoto & Beraldo. Passa desde então a navegar com a bandeira italiana, sob o nome “Riconoscenza”, mas lamentavelmente por um curto período de tempo. O vapor por motivo de encalhe em Montana, no leste da ilha de Caprera, na Sicília, naufraga a 8 de Março de 1904, vindo a ser considerado perda total.

Sem comentários: