quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Veleiros nacionais!


Lugre “Portugal”
1920-1925
Armador: Companhia Nacional de Pesca e Transportes, Lda. Figueira da Foz

Foto do lugre na cerimónia do bota-abaixo
Imagem da colecção de Jaime da Silva Pião

Navio construído em madeira, por encomenda de Maurício Augusto Águas Pinto, da Figueira da Foz, que por sua vez transferiu os direitos para a empresa Marítima (sociedade por quotas). Ainda em 1921 foi concretizada a transferência de propriedade do lugre para a Companhia Nacional de Pesca e Transportes, Lda.
Navio de três mastros tinha proa de beque e popa redonda, com 1 pavimento, tendo operado no tráfego costeiro e de longo curso.

Nº Oficial: N/s - Iic: H.P.O.L. - Registo: Figueira da Foz
Construtor: Jeremias Martins Novais, Vila do Conde, 28.11.1920
Arqueação: Tab 218,17 tons - Tal 175,36 tons
Dimensões: Pp 45,10 mts - Boca 8,85 mts - Pontal 3,47 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 10 tripulantes
Capitães embarcados: Manuel Maria Francisco Chula (1921)

O lugre no ano de 1924 foi dado por inavegável, ficando amarrado até ser desfeito em 1925, na Figueira da Foz.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Escala de navios em Leixões!


Da Marinha do Brasil e do Canadá


A magnífica galera "Cisne Branco" da Marinha do Brasil continua em porto, tendo a saída prevista para esta terça-feira. Poderão encontrar informação detalhada sobre o navio através do respectivo folheto, como segue:



Encontra-se igualmente em porto em visita oficial a fragata F338, da Marinha do Canadá, HMCS "Winnipeg", para uma curta estadia. O navio deverá continuar viagem em visita a portos no Norte da Europa. Informação relacionada com o navio, como segue:


sábado, 22 de agosto de 2015

A galera brasileira "Cisne Branco"


Escala inesperada!


Encontra-se desde hoje em Leixões, em visita não programada, o veleiro oficial da Marinha do Brasil, que é simultâneamente o principal embaixador itenerante do país irmão.

A galera "Cisne Branco" - Aquarela de Mário Barata

O navio faz escala em porto durante o fim de semana, estando previsto sair com destino a Cabo Verde. Depois deverá continuar a viagem com rumo a Recife, de regresso ao Brasil, na sequência de visitas efectuadas a portos em diversas cidades europeas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Leixões na rota do turismo!


Navios de passageiros que estiveram em porto,
durante o mês de Agosto

No dia 11, o navio "Black Watch"
Chegou proveniente de Lisboa e saiu para Liverpool

No dia 19, o navio "Serenissima"
Procedia de Vigo e saíu com destino a Lisboa

Também no dia 19, o navio "Crystal Serenity"
Procedente da Corunha, saiu para Lisboa

Ainda no dia 19, chegou o navio "Voyager"
Como o navio anterior procedia da Corunha e saiu para Lisboa

terça-feira, 18 de agosto de 2015

História trágico-marítima (CLVI)


O canhoneamento do lugre bacalhoeiro "Delães"
2ª Parte
Ataque ou retaliação?

Analisando o canhoneamento do lugre “Delães”, tal como aconteceu com o lugre “Maria da Glória”, constatam-se características que os distinguem de todos os outros navios afundados pelos submarinos, ou pela aviação alemã, durante a IIª Grande Guerra Mundial, porque não apresentam qualquer semelhança que os compare com unidades navais inglesas, civis ou militares.
Senão vejamos:
O navio de carga “Alpha” foi construído em Inglaterra, pelo que pode ter sido confundido pelos aviadores alemães como sendo ainda um navio dessa nacionalidade, a navegar a sudoeste da Cornualha, como da mesma forma pode ter sido óbvio confundir o vapor “Catalina”, em função do seu tipo de construção britânica de origem militar.
De igual modo pode considerar-se ter ocorrido uma situação semelhante à anterior, com o vapor de pesca “Cabo de S. Vicente”, também ele de origem inglesa; já os vapores “Ganda” e “Cassequel”, da Companhia Colonial, afundados por submarinos alemães em mar aberto, verifica-se nos relatórios dos ataques realizados, que os capitães dos submarinos optaram por fazer constar terem acontecido de noite, aumentando a dificuldade na identificação desses navios mercantes, decidindo o seu torpedeamento; e o vapor “Corte Real” da companhia dos Carregadores Açoreanos foi afundado por ter sido acusado de transportar mercadoria para portos de países inimigos, caso dos Estados Unidos e Canadá.
Em relação ao vapor de pesca “Exportador Iº”, afundado por um submarino italiano, e ao navio de carga “Maria Irene” torpedeado por um submarino inglês, dificilmente se compreende quais os motivos que justificaram os ataques, ambos seguramente por erro de identificação, mas neste caso agrava-se o episódio pelo comportamento incorreto da tripulação do submarino inglês, que abandonou o local sem providenciar auxílio aos náufragos.
Quanto aos lugres “Delães” e “Maria da Glória”, apanhados a pescar e a navegar em pleno teatro de guerra, num corredor de grande importância, por onde passavam com extrema regularidade os comboios com os abastecimentos vindos dos Estados Unidos para a Europa, e igualmente por onde pairavam as matilhas de submarinos alemães, toda e qualquer quebra de sigilo, a denunciar movimentos de unidades pertencentes a qualquer das partes beligerantes, iria logicamente provocar reações, que têm de ser vistas e entendidas como represálias infligidas pelos intervenientes.
Daí que, muito provavelmente, deve ter sido essa a circunstância que fez irritar ambos os comandantes dos submarinos alemães, considerando ter-lhes sido anulado o factor surpresa, que se antecipa primordial para que pudessem cumprir os seus objectivos. Acresceu ainda o facto de ser facilitada a localização desses navios de guerra, que por sua vez ficavam expostos aos ataques defensivos das forças aliadas.
A terminar, deve ficar muito claro que este comentário não pretende fazer a apologia do comportamento submarinista alemão, inglês ou italiano, relativamente aos processos brutais dos ataques efetuados contra navios dum país que privilegiou a neutralidade no conflito.
Porém, a confirmarem-se as suspeitas de terem sido lançados avisos sobre a presença de submarinos na área onde os lugres se encontravam, levou a que essas atitudes, certamente impensadas, pesassem pela partidarização entre os opositores em conflito, e daí serem interpretadas como um acto de guerra.

domingo, 16 de agosto de 2015

História trágico-marítima (CLVI)


O canhoneamento do lugre bacalhoeiro "Delães"
Ataque ou retaliação?

Mais um atentado contra a neutralidade de Portugal
No regresso da Terra Nova foi afundado o lugre “Delães”
Quando regressava dos bancos da Terra Nova, onde estivera na safra do bacalhau, foi afundado por um submarino desconhecido, o lugre português “Delães”, em circunstâncias ainda por esclarecer, completamente, tudo levando, no entanto, a crer que tenha sido a tiro de canhão. Os náufragos foram recolhidos mais tarde, pelo lugre “Labrador”, que, como o “Delães”, regressava ao Tejo.
O afundamento do lugre “Delães” constitui mais um grave atentado contra a nossa neutralidade, que todos os portugueses e amigos de Portugal tem de repelir energicamente. Na verdade, atacar navios indefesos, demais pertencentes a um país que, como Portugal, tem sabido manter a mais rigorosa neutralidade, através de todas as contingências impostas pela guerra, é crime hediondo, a revelar cobardia injustificável de homens que, sendo marinheiros, têm o dever restrito de respeitar a honra e a dignidade que Portugal lhes deve merecer, pela sua conduta irrepreensível no tratamento com os dois grupos beligerantes.
As circunstâncias em que se deu o afundamento não estão ainda esclarecidas, como não está averiguada a nacionalidade do submarino atacante. Mas, sem olharmos a circunstâncias e a cores de bandeiras, não se pode, por princípio algum, deixar de levantar o mais veemente protesto contra um atentado tão vil e tão cobarde.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 22 de Setembro de 1942)

Imagem do lugre bacalhoeiro "Delães" em Lisboa
Foto de autor desconhecido

O afundamento do “Delães”
Os cinquenta e quatro homens que compunham a sua tripulação
chegaram ontem ao “Tejo”, a bordo do lugre “Labrador”
Entrou, ontem, no Tejo, pelas 20 horas, fundeando em frente da Junqueira, o lugre português “Labrador”, de regresso da pesca do bacalhau da Terra Nova.
A bordo trouxe 54 homens, da tripulação do lugre português “Delães”, pertencente à Sociedade Nacional dos Armadores da Pesca do Bacalhau, que quando vinha para Portugal, depois de alguns meses de pesca na Terra Nova e Gronelândia, há cerca de 15 dias, a cerca de mil milhas dos Açores, foi afundado por um submarino de nacionalidade desconhecida.
Toda a tripulação foi salva, tendo os 54 marítimos embarcado nos «dóris», andando no mar uma noite e um dia até que foram salvos pelo lugre bacalhoeiro “Labrador”, pertencente à mesma sociedade.
Todos os marítimos foram muito bem tratados pelos seus colegas.
O bacalhoeiro trazia para Portugal um carregamento completo de bacalhau. Era comandado pelo capitão João Oliveira de Pinho.
Os náufragos desembarcaram hoje, às 11 horas, a fim de se apresentarem às autoridades marítimas e ao Instituto de Socorros a Náufragos.
O bacalhoeiro afundado estava matriculado na praça de Lisboa.
A tripulação era constituída pela seguinte forma: capitão João Oliveira de Pinho, de Ílhavo; oficial-piloto José Fernandes Pereira, de Ílhavo; Fernando da Rocha Canancho, de Ílhavo; ajudante de motorista Aurélio Brandão dos Santos, do Porto; Manuel do Sacramento Minhoto, de Ílhavo; ajudante de cozinheiro José Lúcio Ramos, de Ílhavo; moços de bordo João Celestino Chuvas, José Barreira do Patrocínio e Manuel Marcela Ferreira, todos de Ílhavo.
Os pescadores são António dos Aflitos Cavaleiro, da Nazaré; António Augusto Guerra, de Buarcos; António Fernandes Matias, da Cova; António Maria de Matos, da Afurada; António de Oliveira, da Fuzeta; António de Sousa, da Póvoa de Varzim; Armindo Lopes Acabou, da Afurada; Bernardino da Costa de Castro Duque, de Vila do Conde; Domingos Moreira da Cruz, da Afurada; Domingos Rodrigues Mateus, de Leça da Palmeira; Eduardo Simões de Oliveira, contra-mestre do lugre; Florindo de Oliveira Pinto, de Vila Nova de Gaia; Francisco Baptista Matias, da Fuzeta; Francisco Pais João, Galego, da Nazaré; Hilário da Costa de Castro Duque, de Vila do Conde; Jaime Maria de Matos, da Afurada; João Baptista Matias, da Fuzeta; João de Jesus Grilo, de Ílhavo; João Pereira Praia, de Ílhavo; João da Silva Gomes, de Aveiro; João da Silva Ribeiro, de Buarcos; Joaquim Baptista de Oliveira, da Fuzeta; Joaquim Gomes da Veiga, de Leça da Palmeira; José Lucas, da Fuzeta; José Ribeiro Fontes, de Vila do Conde; Júlio Rodrigues Correia, da Afurada; Manuel Baptista da Silva, de Leça da Palmeira; Manuel da Costa de Castro Duque, de Vila do Conde; Manuel Faria Braga, de Vila do Conde; Manuel Maria da Silva, da Afurada; Manuel de Oliveira Lopes, da Afurada; Manuel Pereira Esteves, de Ílhavo; Manuel Ribeiro Fontes, de Vila do Conde; Manuel Rodrigues da Hora, da Fuzeta; Olindo Ferreira Neves, da Afurada; Zacarias da Silva Pereira, de Vila do Conde; António Vasco, de Setúbal; José Marques Gaio, da Nazaré; Joaquim de Jesus Dias, da Fuzeta; José veríssimo Gandal, da Nazaré; Luís Ribeiro Manata, de Buarcos; António José, de Olhão; José Domingues Magano, de Ílhavo; José Pedro de Jesus Dias, da Fuzeta; e Ricardo Nunes da Conceição, de Ílhavo.
O lugre “Delães” pertencia à Sociedade Nacional dos Armadores da Pesca do Bacalhau, que o comprou depois da campanha de 1941, juntamente com o “Oliveirense” à Empresa de Pesca do Bacalhau do Porto, Lda.
Estavam interessados a este lugre-motor todos os armadores portugueses.
O “Delães” deslocava cerca de 450 toneladas e tinha 45 metros de comprimento e podia carregar à volta de 700 quintais de bacalhau, cuja carga trazia completa.
Tinha três mastros de vela e um motor auxiliar.
Fôra comandando anteriormente pelo capitão Jorge da Rocha Tralaró.
O lugre “Labrador” que salvou os tripulantes do “Delães” pertence à Sociedade Lisbonense da Pesca do Bacalhau, Lda., sob o comando do capitão António Simões Picado, que no ano findo, quando entrava no Grande Banco, no meio de denso nevoeiro, foi violentamente abalroado por um «comboio» britânico, tendo nessa altura sofrido graves avarias.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 23 de Setembro de 1942)

Os náufragos do lugre bacalhoeiro “ Delães ” afundado por um
submarino, quando regressava da Terra Nova, desembarcaram
ontem, narrando como foi praticado o revoltante e criminoso acto
Os cinquenta e quatro náufragos do lugre português “Delães”, pertencente à Sociedade Nacional dos Armadores da Pesca do Bacalhau, de Lisboa, torpedeado por um submarino desconhecido, sem aviso prévio, quando regressava da Terra Nova completamente carregado de bacalhau, desembarcaram ontem, de manhã, no antigo Arsenal de Marinha.
O capitão, José Nunes de Oliveira, de 40 anos, natural de Ílhavo, e o imediato, José Fernandes Pereira, um velho «lobo-do-mar», também de Ílhavo, foram ouvidos pelo comandante da Polícia Marítima, 1º tenente sr. Sales Henriques, seguindo depois para o Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau, onde o primeiro conversou largamente com o presidente da direcção, 1º tenente sr. Henrique Tenreiro.
Os outros 52 tripulantes – quase todos rapazes ou homens novos – com a indumentária característica da pesca bacalhoeira – única coisa que conseguiram salvar, além de 10 dóris dos 40 que havia a bordo seguiram novamente, num rebocador da Capitania, para Alcântara, onde se instalaram no antigo quartel de marinheiros, e onde o armador lhes liquidou as soldadas completas – como se nada de anormal se tivesse passado nesta viagem.
O capitão recusou-se a fazer qualquer declaração, além do seu agradecimento pela forma como o capitão e os outros tripulantes do “Labrador” acolheram os 54 náufragos.
- Se fosse um acto que me nobilitasse. Mas um caso tão triste… Eu nem me quero lembrar!
Um dos tripulantes disse:
- Largamos em Junho e estivemos dez dias a pescar na Terra Nova, donde seguimos para a Gronelândia. Ali estivemos a pescar desde 24 de Junho a 31 de Agosto, data em que, por já termos o carregamento completo, iniciamos a viagem de regresso.
- Quantos dias traziam de viagem da Gronelândia, quando se deu o ataque?
- Onze. Estávamos desviados 1.100 milhas de Lisboa. Perto das dez horas do dia 11 do corrente, vimos aparecer, a uns duzentos metros de distância, um submarino escuro e grande, que abriu logo fogo contra o nosso barco. Os primeiros três tiros caíram na água, mas o quarto deitou abaixo o mastro da proa. Logo que começou o bombardeamento, lançamos à água os dóris que pudemos e, à força de remos afastamo-nos o quanto possível do “Delães”, não fossem as granadas atingir-nos.
Em menos de um quarto de hora estavam em marcha.
- O submarino continuou a disparar durante muito tempo?
- Cerca de meia hora. Deve ter atirado, talvez, cem granadas, nem sequer parando quando lavravam incêndios, primeiro à popa e depois à proa, quando o lugre já adornava.
Eram 11 e 50 quando o “Delães” se afundou. Já nos estávamos a uma distância relativamente grande. O submarino desapareceu, sem que tivéssemos visto qualquer tripulante ou traço que indicasse a sua nacionalidade, e nós continuamos a remar. Só pudemos salvar o que tínhamos em cima do corpo. Cada dóri é destinado a um pescador. Pois seis deles traziam cinco homens e os outros quatro transportavam seis homens cada um. Calcule, pois, como nós vínhamos, e o perigo que corremos, em barquinhos que se voltam com a maior facilidade! Ao aproximar-se a noite, para que os dóris não se afastassem uns dos outros, atámo-los com cabos. Unidos para a vida – ou para a morte!
- Como foram salvos?
- Cansados de remar, com fome e sede, porque não pudemos salvar comida nem uma gota de água, deitávamos contas à nossa triste sorte, quando vimos surgir na escuridão um farol. Eram duas da madrugada. Andávamos naquilo havia dezoito horas! Remamos a toda a força em direcção àquela luz que era a nossa esperança. E ao mesmo tempo, gritávamos, assobiávamos e fazíamos fogachos com os lenços, para chamar a atenção de quem quer que fosse que navegasse naquelas paragens. De bordo do barco do farol viram os fogachos quando já estávamos perto dele. Julgando que se tratava de submarinos, o barco parou. Eram quase quatro horas da madrugada, quando chegamos ao pé do “Labrador” e fomos carinhosamente recolhidos e tratados.
- Ficou algum ferido ou doente?
- Graças a Deus, nenhum!
- E agora?
- Agora, seguimos para as nossas terras. E depois – outra vez para o mar. É o nosso destino.
***
Regressaram ontem às terras da sua naturalidade, no correio da noite, os marítimos que faziam parte da tripulação do lugre “Delães”, naufragado no Atlântico.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 23 de Setembro de 1942)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Memorativo da Armada


O Submarino "Delfim"
01.12.1934 - 1950

As provas de mar do submarino “Delfim”
Segundo telegrama recebido da missão naval portuguesa em Inglaterra, o submarino “Delfim” nas provas de mar, navegando à superfície, deu 17,2 milhas. Este navio, pelo respectivo contrato, deve ser entregue ao governo no próximo dia 1 de Outubro.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 5 de Agosto de 1934)

A nova esquadra
Em 9 de Outubro será entregue o submarino “Delfim”
Segundo informação da Missão Naval Portuguesa em Inglaterra, o novo submarino “Delfim” vai efectuar experiências de lançamento de torpedos, tendo as da artilharia dado bons resultados. Fizeram fogo a peça de 100 mm, e as duas metralhadores anti-aéreas, com o navio a navegar e parado.
No dia 9 do próximo mês o “Delfim” será entregue solenemente ao governo português, vindo para o Tejo, depois de algumas provas para treino da guarnição.
O novo submarino fará a travessia Barrow-Lisboa sem qualquer escolta, visto tratar-se de um submarino que opera em alto mar. De seguida deverão começar em Barrow, as experiências com os submarinos “Espadarte” e “Golfinho”.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 26 de Setembro de 1934)

O novo submarino “Delfim”
Em vista de ser reconhecida a necessidade de procederem a mais algumas experiências, entre as quais uma debaixo de mau tempo, se fôr possível, já não se vai realizar em 5 do corrente, como a casa construtora desejava, a entrega do submarino “Delfim”, estando agora previsto que deverá ter lugar no dia 11 do corrente.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 4 de Outubro de 1934)

Submarino “Delfim”
Foi hoje entregue ao Governo português o submarino “Delfim”, construído em Inglaterra.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 12 de Outubro de 1934)

A nova esquadra
Com respeito ao novo submarino “Delfim”, cuja entrega foi anunciada para 11 do corrente, não se sabe ainda quando será, pois essa data ainda não foi fixada. Entretanto, chegaram notícias de Inglaterra, informando que o novo submarino “Espadarte” tinha já iniciado as provas de mar.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 13 de Outubro de 1934)

Submarino “Delfim”
Continua em experiências o novo submarino “Delfim”.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 6 de Novembro de 1934)

Nova unidade naval – O submarino “Delfim”
Segundo comunicação recebida da missão naval portuguesa em Inglaterra, passou já a completo armamento o novo submarino “Delfim”, que saiu para Davenport, onde vai executar os necessários treinos com a respectiva guarnição.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 18 de Dezembro de 1934)

Nova unidade naval – O submarino “Delfim”
Segundo telegrama do comandante do novo submarino “Delfim”, este navio fez ao largo de Plymouth com bom êxito três emersões debaixo de mau tempo, demonstrações que decorreram bem-sucedidas.
A equipagem continua no seu adestramento.
As experiências que se tem realizado vêm sendo acompanhadas por um contra-torpedeiro.
Acrescenta que o almirante comandante da base naval e demais autoridades inglesas tem-lhe prestado a maior assistência sendo inexcedíveis em atenções para com toda a guarnição do navio, estando, por isso, o comandante muito grato.
Informa ainda que o submarino “Delfim” larga amanhã de Plymouth para Portland.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 3 de Janeiro de 1935)

O submarino “Delfim”
Largou hoje de Plymouth, para a base naval inglesa de Portland, o novo submarino “Delfim” que deve estar no Tejo antes do fim deste mês.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 3 de Janeiro de 1935)

A nova esquadra
O submarino “Delfim”
Fundeou hoje em Gravesend o novo submarino “Delfim”.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 9 de Janeiro de 1935)

A nova esquadra
O submarino “Delfim”
O comandante do novo submarino “Delfim” informou que mete amanhã as munições e ogivas de combate e que parte depois de amanhã para Lisboa. Mais informa que a guarnição tem sofrido imenso com o frio intenso.
O navio continua amarrado à boia em Gravesend e tem estado a preparar-se para que funcionem bem os seus maquinismos durante a viagem.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 11 de Janeiro de 1935)

A nova esquadra
O submarino “Delfim”
O comandante do novo submarino “Delfim” comunicou que esteve hoje a meter munições em Holehaven e que larga amanhã de manhã para Lisboa. O navio deve estar em Cascais provavelmente na segunda-feira, de tarde, entrando no Tejo no dia seguinte, de manhã.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 12 de Janeiro de 1935)

A nova esquadra
O submarino “Delfim” chega amanhã a Lisboa
Segundo um rádio recebido, hoje, de bordo do novo submarino “Delfim”, este navio deve estar em Cascais amanhã, pelas 15 horas, não se sabendo ainda se entrará imediatamente no Tejo ou se o fará no dia seguinte de manhã.
***
No Ministério da Marinha, foi recebido hoje um rádio de bordo do submarino “Delfim”, comunicando que seguia ao sul de Portsmouth a caminho de Lisboa; outro, dizendo que navegava ao norte de Ouessant com o mar muito cavado e que se viu obrigado a reduzir a velocidade; e outro, ainda, dizendo que navegava com muito mar a N.O. da Biscaia, pedindo que lhe fosse enviada a previsão do estado do mar na Corunha e na costa de Portugal e ainda um outro, comunicando que navegava a 120 milhas a norte do cabo Finisterra, com mar de ondulação larga, contando chegar a Cascais amanhã, às 15 horas, aproximadamente, se puder meter à velocidade de 15 nós e nesse caso deve amarrar à boia onde está presentemente a canhoneira “Mandovi”, no quadro dos navios de guerra, no Tejo, das 16 e meia às 17 horas.
O sr. ministro da Marinha acompanhado do sr. almirante Oliveira Musanti, irá a bordo daquele navio, logo que ele fundeie no Tejo. Nessa ocasião os navios surtos no Tejo, embandeirarão nos topes, salvando a fragata “D. Fernando”, com 21 tiros.
O sr. Presidente do Ministério também tenciona visitar o navio, logo que o seu estado de saúde o permita.
***
O “Delfim” permanecerá algum tempo no Tejo, indo depois a sua guarnição pernoitar a bordo do antigo cruzador “Vasco da Gama”, que irá fundear na Cova da Piedade.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 15 de Janeiro de 1935)

A nova esquadra
Chegou hoje ao Tejo o novo submarino “Delfim”
No Ministério da Marinha foi recebido, ao meio-dia, um rádio de bordo do submarino “Delfim”, comunicando que o navio navegava normalmente e que devia estar na barra cerca das 16 horas, entrando imediatamente no Tejo.
É o primeiro submarino que chega ao nosso país dos três mandados construir em Inglaterra incluídos nesta fase do programa naval.
Muito antes dessa hora largaram para a barra, ao encontro do “Delfim”, alguns hidro-aviões da base do Bom Sucesso, o velho submarino “Hidra” e muitos barcos de recreio cheios de populares.
O sr. comandante Carvalho Crato, director do material de guerra naval, foi também ao encontro do novo submarino, numa vedeta privativa daquele departamento.
O novo submarino passou à vista do Cabo Carvoeiro às 11 e 40, de Oitavos às 14 e 30 e pouco antes das 15 horas já foi avistado em Cascais.
Eram 15 e 15 quando o “Delfim” entrou a barra e à sua passagem a guarnição do submarino “Hidra” formou na tolda, trocando-se saudações entre o mais novo e o mais velho dos submarinos da Armada Portuguesa.
Depois foi organizado um cortejo fluvial, tendo sido o “Delfim” comboiado pelo submarino “Hidra”, e por barcos de recreio até ao quadro dos navios de guerra, onde cerca das 16 e 10 fundeou.
No momento de amarrar à boia o “Delfim”, de bordo da fragata “D. Fernando”, navio chefe das forças navais surtas no Tejo, foi dada uma salva de 21 tiros, de saudação ao novo navio.
No Tejo todos os navios da esquadra embandeiraram nos topes, assinalando tão festivo acontecimento para a Armada.
Milhares de pessoas aguardavam a passagem do novo submarino “Delfim” em Cascais, Estoril e em todas as praias até Algés. Também esteve muita gente em Santos, Cais do Sodré e principalmente na Praça do Comércio.
Às 16 e 30 chegou a bordo do novo submarino o sr. ministro da Marinha, acompanhado pelo seu chefe de gabinete, capitão-de-fragata Manuel Possante, seus ajudantes capitão-tenente Sá Ferreira e 1º tenente Rodrigues Cosme; o sr. almirante Sarmento Saavedra, comandante geral da Armada; almirante Oliveira Muzanti, chefe do estado-maior naval; intendente do Arsenal e o sr. Dr. Aguedo de Oliveira e do representante do sub-secretário de Estado das Corporações.
A bordo foi recebido pelo respectivo comandante, capitão-tenente Silva Moreira, e oficialidade, representante da casa construtora do navio, etc.
O sr. comandante Mesquita Guimarães, depois de descansar por alguns minutos no gabinete do comando, visitou todas as dependências do novo navio, que está apetrechado de material ultra-moderno. O sr. ministro da Marinha retirou-se cerca das 17 horas, com as honras inerentes ao seu alto cargo.
***
O representante da casa inglesa que forneceu o material de guerra ofereceu uma salva de prata para a cabine do comando.
***
O comandante em chefe dos submarinos holandeses fundeados no Tejo visitou hoje de tarde o “Delfim”.
***
O sr. capitão-tenente Silva Moreira vai amanhã apresentar cumprimentos ao sr. ministro da Marinha e mais autoridades da Armada.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 16 de Janeiro de 1935)

Postal ilustrado com a foto do submersivel "Golfinho"
Edição da Marinha de Guerra Portuguesa, série 6, Nº4
Imagem compatível com o tipo do submersível referenciado

A nova esquadra portuguesa
O sr. capitão-tenente Silva Moreira, comandante do submarino “Delfim” dedicou hoje o dia em cumprimentos oficiais.
De manhã saudou o sr. ministro da Marinha, os almirantes, comandante geral da Armada, chefe do estado-maior naval e intendente do Arsenal e foi depois a bordo da fragata “D. Fernando”, cumprimentar o comandante superior das forças navais no Tejo.
À tarde um oficial do “Delfim” foi em nome do comandante a bordo dos submarinos holandeses agradecer os cumprimentos apresentados ontem pela oficialidade holandesa após a chegada do navio.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 17 de Janeiro de 1935)

Submarino “Delfim”
O novo submarino “Delfim” foi hoje fundear junto da base dos submarinos do Bom Sucesso, para descarregar para aquela base material de guerra que trouxe de Inglaterra.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 18 de Janeiro de 1935)

O submarino “Delfim”
O sr. presidente da República vai na próxima semana visitar o “Delfim”, acompanhado pelo sr. ministro da Marinha, embarcando para esse fim em Cascais, onde assistirá a vários exercícios, entre eles um de emersão.
***
O submarino “Delfim” foi hoje visitado pelos srs. sub-secretários de Estado das Finanças, das Corporações e da Segurança Social.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 22 de Janeiro de 1935)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Memorativo da Armada


O draga-minas “S. Roque”
Efeméride de há 60 anos

Numa brilhante cerimónia a que assistiram os ministros da Defesa
e da Marinha, foi ontem lançado à água o draga-minas “S. Roque”

Foto do draga-minas M401 - NRP "S. Roque"
Imagem da Photoship.Uk

Numa cerimónia que se revestiu de grande solenidade, foi lançado ontem à água o draga-minas “S. Roque”, a primeira das quatro unidades encomendadas aos estaleiros navais da CUF (Companhia União Fabril), dentro do plano «Off-Shore» de auxílio americano.
Assistiram à cerimónia da bênção do novo navio, os srs. ministros da Defesa Nacional e da Marinha, embaixador dos Estados Unidos, general Willard K. Liebel, chefe da missão M.A.A.G.; capitão-de-fragata Hugh B. Sutherland, adido principal para a cultura e imprensa; Sylvester Olsen, director da missão da U.S.O.N. em Portugal; capitão de mar-e-guerra Ranson Fullinweder, chefe da secção naval da M.A.A.G.; capitão-de-fragata Alton Waldron, e capitães Anton Frade e Burton Davis, da M.A.A.G.
Da Companhia União Fabril, estiveram presentes, os srs. D. Manuel de Melo, presidente do Conselho da Administração; engº Eduardo Madail, Nicolas Gouri e José Manuel de Melo, administradores; engº Vasco de Melo, director-delegado do Estaleiro Naval, e engº João Rocheta, director-técnico.
Assinalando o acontecimento da construção do novo draga-minas, concebido inteiramente por técnicos e operários portugueses, o sr. embaixador dos Estados Unidos usou da palavra para acentuar que o “S. Roque” é um símbolo da era em que vivemos, «uma era, talvez sem paralelo na História, de interdependência e cooperação entre os povos unidos por um propósito comum». Disse que, desde o princípio, o plano de construção das quatro unidades irmãs «constituiu um empreendimento de conjunto».
Nas suas futuras funções, bem como nas suas próprias origens – afirmou – o “S. Roque” simboliza a colaboração dos povos livres. Ele desempenhará o seu honrado papel como elemento da Marinha Portuguesa. Mas, em cada missão em que, porventura, tomar parte, servirá também a segurança e o bem-estar de toda a comunidade atlântica.
Dizendo que a ameaça de agressão «ainda não foi dissipada apesar da esperança causada por recentes acontecimentos, salientou que a N.A.T.O. é – e deve continuar a ser – uma aliança forte e viva» e terminou, referindo-se ao «navio admiravelmente construído» afirmando: «admirámo-lo – e com toda a justiça – como o mais jovem produto da renovada e tradicional arte portuguesa de construção naval».
Agradeceu as referências feitas aos seus estaleiros, o sr. D. Manuel de Melo, presidente do Conselho de Administração da CUF, que dirigiu também palavras de saudação aos membros do Governo, que ali se encontravam presentes.
E, por último, falou o sr. almirante Américo Tomás, ministro da Marinha, que felicitou os estaleiros pela obra realizada e disse que, embora não se trate de um navio grande, ele era de difícil construção e honrará os estaleiros nacionais e dará conhecimento de que a construção naval do nosso país atingiu um alto nível.
Acentuando, depois, que este era o primeiro de cinco navios que os Estados Unidos, nos encomendaram, disse poder este país estar certo de que cumpriremos a missão de que nos incumbiram e honraremos a confiança depositada nos nossos estaleiros.
Depois de ter feito largas referências ao progresso técnico da nossa indústria de construção naval, o sr. ministro da Marinha, disse que à N.A.T.O. se fica devendo a paz de que disfrutamos, a qual tem que perdurar para que os benefícios colhidos continuem a ser a razão da força dessa organização.
E terminou:-
– Portugal tem de ser forte para ser respeitado e se é certo que os sacrifícios se têm sucedido por parte de todos, não é menos certo que o clarão da esperança que ora se nos apresenta, tem de ser acompanhado dos sacrifícios de todos para que a paz seja possível.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 17 de Agosto de 1955)

sábado, 8 de agosto de 2015

Memorativo da Armada


O patrulha "Porto Santo"
Assistência no mar e vigilancia costeira

Imagem do navio-patrulha "Porto Santo"
Desenho de Luís Filipe Silva

Foi apresada, nas Selvagens,
uma embarcação com contrabando
Funchal, 8 - Uma embarcação com contrabando foi apresada nas Selvagens, pelo navio patrulha “Porto Santo”, em missão de serviço na Madeira. Trata-se de um barco denominado “Palo Azul”, comandado por Juan Rodriguez, de 43 anos, que interrogado, disse ter estado em Lisboa em Novembro de 1954.
A embarcação apreendida vinha de Tanger, com uma carga de 60 toneladas. Da tripulação, composta por mais quatro homens, consta um português.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda, 9 de Fevereiro de 1959)

Por uma questão de proximidade, já no dia anterior a notícia tinha vindo publicada no Jornal da Madeira, com o seguinte texto:

1ª página do Jornal em questão

Foi aprisionada anteontem, nos mares das Selvagens pelo
patrulha “Porto Santo” uma embarcação costa-riquenha
O patrulha “Porto Santo” sob o comando do oficial José Paulo da Costa Santos, que esteve no Funchal, fez-se ao largo quinta-feira passada e a bordo levava um botânico inglês que desejava colher elementos científicos, na ilha Selvagem Pequena, onde desembarcara acompanhado dum marinheiro do patrulha e ali ficara, enquanto este foi até à Selvagem Grande.
Ontem, cerca das 18 horas, o marinheiro e o estrangeiro viram aproximar-se uma embarcação de nacionalidade desconhecida e logo se esconderam a fim de não despertar as atenções dos estranhos, enquanto a patrulha voltava, aproximadamente nessa hora, conforme o estabelecido.
Em dado momento a referida embarcação fundeou, distanciada a cerca de 50 metros do litoral. Fez descer um pequeno bote com dois tripulantes, que logo começaram a analisar a costa da ilha.
Nesta altura, surge o patrulha “Porto Santo” e o marinheiro e o estrangeiro puderam denunciar ao patrulha a presença de estranhos. Depois o patrulha intimou o desconhecido a identificar-se, tendo este logo hasteado a bandeira da Costa Rica e chamar-se “Palo Azul”.
Entretanto num gasolina do patrulha dirigiram-se ao “Palo Azul” três praças e um sargento, sob o comando do oficial Duarte Costa. A bordo, após as formalidades da praxe, realizou-se a busca, tendo sido encontrada alguma carga indocumentada.
O “Palo Azul” com as três praças e o sargento tiveram de vir para o Funchal, escoltado pelo patrulha para onde, em momentos antes, regressara o oficial Duarte Costa acompanhado do capitão do “Palo Azul”, chegando ao Funchal cerca das 17 horas.
As autoridades locais que previamente haviam sido informadas, do bordo do patrulha acerca do sucedido, compareceram a bordo. Depois das formalidades requeridas, a tripulação e a mercadoria indocumentada deram entrada na Alfandega do Funchal, onde se procedeu à instauração dum processo iniciado com o auto levantado e apresentado pelo comandante do patrulha “Porto Santo”, 1º tenente José Paulo da Costa Santos.
O “Palo Azul” trazia como capitão Juan Venceslau Rodriguez; 1º motorista Belgeiveis, natural da Letónia, de 43 anos de idade, que diz ter estado em Lisboa há cinco anos, no mês de Novembro, durante três dias, como passageiro a bordo do navio britânico “Lenabee”. Residia há dez anos em Tanger, onde deixou mulher e filhos. Falava corretamente o inglês e o espanhol, além da sua língua natal; 2º maquinista Domingo Martinez, natural de Reynes, Vila Carla, Baleares, de 26 anos; um marinheiro Miguel Gomez, natural de Valleres, Espanha, de 35 anos e o cozinheiro Miguel Castilho, natural de Tanger, de 42 anos de idade. Estava ainda a bordo um português, que apenas se sabe chamar-se Manuel, natural de Olhão.
O navio procedia de Tanger e seguiam para a África Central. Eram 9 os volumes de mercadoria encontrados. A embarcação é de 60 toneladas e tem a velocidade máxima de 9 milhas e a mínima de 5.
(In “Jornal da Madeira”, Domingo, 8 de Fevereiro de 1959)

Para aquilatar com segurança dos factos noticiados, foi auscultada a opinião do distinto comandante Francisco Duarte Costa, que recorda este acontecimento com a nostalgia dos anos passados em serviço na Armada, como segue:
«Naquele ano a Marinha decidiu reativar as comissões dos Patrulhas na Madeira e destacou para esse efeito o PC “Porto Santo”, onde embarquei como 3º Oficial.
Algum tempo depois de termos chegado, numa saída para patrulha e fiscalização das águas do Arquipélago que nos levou às Selvagens, fomos encontrar fundeada uma embarcação de aspecto indefinido, um misto de embarcação de pesca e de carga, pintada de uma cor acinzentada. O aspecto e a situação levantaram suspeitas da sua actividade e Comandante mandou-me a bordo para a inspecionar.
Os seus papéis não estavam em ordem e não tinha manifesto de uma pequena carga estivada a bordo que parecia ser o resto de um transbordo de contrabando que teria ficado para os tripulantes.
Em face da situação o foi decidido apresá-la e comboiá-la para o Funchal. Entretanto após comunicar com a Capitania, que por sua vez contactou as autoridades judiciais, todos deram o seu acordo à acção do comandante.
Chegados ao Funchal a embarcação foi entregue às autoridades mas, como nota da eficiência da organização a que pertencia, já tinha no cais um advogado para sua defesa, pois “parada estava a causar prejuízo”!
Passado muito pouco tempo a Marinha, segundo constou, fez uma revisão do seu dispositivo e decidiu retirar o “Porto Santo” da Madeira e enviá-lo para os Açores. Nada nos tinha feito prever essa alteração e foram-nos dados muito poucos dias (+/-3) para resolver toda a situação administrativa, que naturalmente nos ligava a terra, dada uma previsão de comissão de alguns meses.
Lembro também uma curiosidade da época, relacionada com a chegada dos navios da Marinha para comissão na Madeira, um responsável do Marítimo (se a memória não me falha) ia a bordo ver se havia “habilidosos” para jogar na equipa. Nos navios encontrava-se muitas vezes pessoal que tinha jogado no clube da sua terra e lá ficava o “Marítimo” com uns reforços, quando o serviço o permitia. Estávamos muito longe “dos ronaldos e das transferências milionárias”!
Um apontamento final:
- Quanto à embarcação parece-me que pagou uma multa e lá foi “à sua vida”. Possivelmente não será difícil encontrar a história da sua “passagem forçada” pelo Funchal nos Arquivos Judiciais.»
Estamos muito gratos ao digníssimo comandante Francisco Duarte Costa, pela partilha de informações relacionadas com este episódio, acreditando tenha saído diretamente de um extenso rol das histórias de vida e de bons momentos, no cumprimento das suas funções, que certamente lhe deixaram saudosas recordações.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

História trágico-marítima (CLV)


A história do “Clemencia" (2º)
1919-1926
2ª Parte

Imagem do lugre "Clemencia" (2º) de autor desconhecido
(In revista “Ilustração Nacional”, Nº 3, Póvoa de Varzim, 1919)

Características do navio
Armador: Viúva de C. Dupin & Cª., Anadia
Nº Oficial: 494-D - Iic: H.E.L.C. - Porto de registo: Porto
Construtor: Manuel Gonçalves Amaro, Póvoa, 27.08.1919
Arqueação: Tab 295,98 tons - Tal 216,69 tons
Dimensões: Pp 45,41 mts - Boca 8,80 mts - Pontal 4,08 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 10 tripulantes
Capitães embarcados: Joaquim Rodrigues (1919-1920) e Marciano de Vasconcelos (1925 e 1926)

O lugre foi vendido durante o ano de 1926 à empresa José da Silva Maia & Cª., Lda., do Porto. Nessa época alterou a matrícula na Capitania do Douro, sendo rebatizado com o nome “Nossa Senhora da Lapa”, mantendo os mesmos detalhes. Em 1928, através de nova medição, foram-lhe aumentados os valores da arqueação.

Novas características do navio
“Nossa Senhora da Lapa”
1926-19.09.1933
Armador: José da Silva Maia & Cª., Lda., Porto
Nº Oficial: B-191 - Iic: H.N.S.L. - Porto de registo: Porto
Arqueação: Tab 334,45 tons - Tal 284,99 tons
Dimensões: Pp 39,08 mts - Boca 8,77 mts - Pontal 4,22 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 10 tripulantes
Capitães embarcados: Francisco Bichão (1927) e Lopo de Oliveira (1928 a 1930)

No alto mar
Lugre incendiado - Salva-se a tripulação
Ontem, por alturas de Faro, no mar alto, ficou destruído por um incêndio o lugre português “Nossa Senhora da Lapa”, que, segundo informações obtidas, pertence à praça de Ílhavo.
Lançados os S.O.S. foi em seu socorro o vapor de carga inglês “Carterside”, que procedia de Cadiz em direcção ao Porto, salvando e recolhendo todos os náufragos do lugre incendiado.
Este lugre seguia de Viana do Castelo para Las Palmas, levando um carregamento de madeira.
O “Carterside”, que vem consignado à firma portuense J.T.P. Vasconcelos, Lda., deve chegar hoje ao rio Douro, onde desembarcará os tripulantes do lugre “Nossa Senhora da Lapa”.
(In jornal “Comércio do Porto”, 20 de Setembro de 1933)

Entretanto, por outras vias, foi possível confirmar que o lugre “Nossa Senhora da Lapa” era da praça do Porto, tendo efectivamente naufragado devido a incêndio, na posição latitude 36º41’5”N longitude 7º48’5”W a cerca de 60 milhas do Cabo de S. Vicente. O vapor inglês “Carterside” era propriedade da «The Side Shipping Co., Ltd.», com registo em Newcastle, tendo navegado com este nome entre 1922 até 1936.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

História trágico-marítima (CLV)


A história do “Clemencia" (2º)
1ª Parte

Imagem do lugre "Clemencia" (2º) de autor desconhecido
(In revista “Ilustração Nacional”, Nº 3, Póvoa de Varzim, 1919)

Barco à Água
O “Clemencia” (2º)
Estava prestes a dizer-nos adeus, e nem sabíamos. Indicaram-lhe a quarta-feira última para fazer a sua abalada e ele, como escravo do dever obedeceu à imposição. Antes de nos deixar ataviou-se, embonecou-se num coquetismo sedutor, como para nos mostrar na pujança da sua beleza, o orgulho da sua garridice.
Fez-se amar por todos quantos o conheciam para mais vincar de saudades na hora da sua partida. Deixou-nos não por ingratidão mas por obediência.
Se assim não fôra, ele preferiria ficar eternamente sobranceiro ao mar, preso no carcere de tábuas com que o cintaram. Era esbelto e elegante na estrutura das suas formas, gracioso e bem proporcionado na beleza das suas linhas. Não admira, pois, que milhares de olhos pousassem embevecidamente na ondulação das suas curvas e no talhe airoso da sua estética.
E lá partiu. Nos preparativos da sua viagem gastou alguns meses, e para se afamosear precisou de hábeis artífices que o toucaram com a graça do seu saber. Vestiram-no de branco como para os esponsais dum noivado. E que deslumbrante cerimonial e imponentíssimo cortejo! Recebeu o batismo no balaço verde das nossas águas e foi sua madrinha a distinta, e que formosíssima madrinha - a Dª Clemencia Dupin Seabra.
À volta do seu gigantesco berço, fervilhava uma multidão imensa que o cumulava de profecias, e o enchia de elogios. Pela praia ao paredão, na esplanada do Castelo, em todas as janelas fronteiriças ao mar, milhares e milhares de pessoas espreitavam ansiosamente a hora da partida.
No mar, junto à fimbria da costa dezenas de barcos, alguns empavesados de bandeiras. Grave e majestoso pela missão que tinha a cumprir um rebocador, lançando para o ar, de espaço a espaço, rolos de fumo como que, a entreter a demora. Ainda bem juntas, como irmãzinhas que veem radiantes ao encontro de um irmão querido, duas traineiras baloiçam-se na crista das águas, também todas tafuis no seu traje domingueiro, fazendo bambolear as suas bandeiras ao sabor do vento.
Aproxima-se a hora da partida do “Clemencia”…
Os artífices, uma a uma arrancaram-lhe as peias com que o enfaixaram. A sua bondosa madrinha amorosamente corta-lhe o último elo que o prendia à gargalheira do seu cativeiro! Então ele, como se despertasse dum pesado letargo, sacode os membros num súbito arranco, e vai descendo suavemente numa marcha de triunfo até abrir clareira no dorso das águas que ansiosamente o espera para cobrir de beijos e aljofrar de espuma as suas lindas formas.
O instante supremo, do mais supremo e indiscritível entusiasmo aconteceu. Milhares de lenços brancos, como se fosse o bater de asa das pombas, agitam-se nos ares. Momento de delírio, uma trovoada de palmas e uma breve prece: Senhora de Guia te guie. E de todos os corações freme o mesmo anseio, uma perene felicidade para tão lindo barco. As sirenes das traineiras silvam numa aleluia de júbilos e dezenas de foguetes lançados dos barcos do Clube Naval atroam os ares, juntando-se ao clamor vitorioso da multidão.
E ele, como enorme garça de asas abertas pousadas docemente sobre a superfície das águas tenta aproximar-se, para um gentil cumprimento do austero rebocador que lhe foge envergonhado de ter de juntar o seu costado encarquilhado e sujo à face mimosa e linda do sedutor efebo.
Como séquito de honra vão-lhe na sua esteira os pequenos barcos, enquanto os silvos das sirenes festejam alegremente a companhia do “Clemencia”.
Espectáculo imponente se avista do mar para a terra. Aqui é um viveiro humano que se estende pelo areal e cobre os flancos do Paredão. Todos os olhos e todos os corações poisam com devoção e enternecimento sobre o magnífico barco, agora presa cruel do rebocador.
A meia barra passam-lhe à bujarrona uma amarra que lhe torce a proa para o sul. Mais familiar, o rebocador volteia-se e admira-lhe a construção, passando de bombordo a estibordo e toma posições à sua frente como a impor-lhe a condição de refém. De pouca duração foi esta paragem. Mais uma lançada e o rebocador leva-o preso a rumo de nordeste para depois o forçar a seguir a rota de sudoeste.
Apesar da guisa cortante que então fazia e do tempo ameaçador de vento e chuva, a multidão, a pé quedo, não desfitava os olhos das evoluções do elegante barco que, mesmo lá ao longe, conservou a guarda de honra dos seus pequeninos irmãos na labuta do mar.
Mas a irrisão do Destino quis cortar esse preito de admiração da mole do povo. Como imensa toalha de gaze que se desdobrasse na curva do horizonte, vem distendida cobrir numa nevoa esbranquiçada o enlevo daqueles fugidios momentos. E lá ficou sepultado na densa neblina o “Clemencia”, roubado à contemplação de milhares de olhos, envolvendo-o mais e mais na nossa saudade, e o nosso anseio por uma rota feliz.
Que o patrono dos mareantes te proteja, bom veleiro, foi o nosso último voto e o desejo de todos que de ti se despediram.
(a) Leopoldino Loureiro (jornalista e presidente do Clube Naval)

Notas
O navio pertence à empresa C. Dupin & Cª., cuja principal sócia é a Exma. Srª Dª Clemencia Dupin Seabra. A largada que ocorreu às 5 horas e 20 minutos foi, como dissemos, felicíssima.
O barco comboiado pelo rebocador “Beatriz” deu entrada no rio Douro às 9 horas da manhã do dia seguinte fazendo uma travessia acidentada devido ao temporal que desencadeou pela noite dentro.
O “Clemencia” custou aproximadamente 120 contos e tinha dimensões entre perpendiculares 46 metros, de pontal 4,35 metros e de boca máxima 8,70 metros.
Foi seu construtor o hábil artista e nosso conterrâneo, sr. Manuel Gonçalves Amaro, que mais uma vez confirmou os seus créditos, quer na factura do barco, quer na alisagem da carreira, que por bem lançada deu o magnifico resultado duma feliz largada.
O comando do “Clemencia” foi confiado ao capitão da marinha mercante, sr. Joaquim José Rodrigues que, desde o princípio do levantamento da quilha presidiu a todos os trabalhos da construção.
(In jornal “O Comércio da Póvoa de Varzim”, 31 Agosto de 1919)

Imagem do lugre "Clemencia" (2º) de autor desconhecido
(In revista “Ilustração Nacional”, Nº 3, Póvoa de Varzim, 1919)

Dos estaleiros da Póvoa de Varzim desceu ao mar, no dia 27 deste mês, o lugre “Clemencia" (2º), da firma Dupin & Cª. A praia estava coalhada com milhares de pessoas que assistiam aquele espectáculo sugestivo e impressionante; - a enseada cheia de embarcações de pesca e algumas traineiras, davam uma nota festiva, alegre, duma rara jovialidade, com os silvos das suas sirenes como que dando as boas vindas à nova embarcação, que singrou as águas do oceano coberta de bênçãos e de bons desígnios.
Madame Dupin, senhora de rasgos de abnegação e génio varonil, de rara envergadura, estava radiante e desvanecida no êxito completo da sua empresa e na perícia e denodo do seu pessoal técnico que se pode jactar de ter construído um dos melhores vasos que a marinha mercante possui nos estaleiros do Norte.
(In revista “Ilustração Nacional”, Nº 3, Póvoa de Varzim, 1919)

O Lugre “Clemencia" (2º)
...
Pessoas idosas com quem tenho conversado lembram-se de se construírem navios na nossa Ribeira, e eu recordo-me do lançamento à água do lugre “Clemencia”, em 19 de Dezembro de 1918, navio que o mar destruiu depois contra a costa, por naufrágio, ao sair da carreira, facto ocasionado por sabotagem do rebocador, que não o puxou ou arrastou convenientemente para o largo; recordo-me também de, com inteiro sucesso, em 27 de Agosto de 1919, uma quarta-feira, ter sido lançado à água o “Clemencia" (2º), bonito navio de três mastros, pertencente à sociedade C. Dupin & Cª., da Anadia, e construído pelo mestre Manuel Amaro, no seu estaleiro no areal da praia de Ribeira, em frente e talvez um pouco a sul da fábrica de conservas “A Poveira”, Lda. - Às quartas-feiras e sábados realizavam-se as feiras da lenha, até ainda há poucos anos!
...
(in “Boletim Cultural” Nº 1, Volume 9, Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, 1970)

domingo, 2 de agosto de 2015

História trágico-marítima (CLV)


A insólita história do lugre "Clemencia"!

Lugre “Clemencia”
Está marcado o dia 27 do corrente, quarta-feira próxima, para o lançamento à água, do magnífico navio “Clemencia”, construído nos estaleiros da Póvoa de Varzim, sob a hábil direcção do mestre naval sr. Manuel Amaro e pertencente à conceituada firma C. Dupin & Cª., de Anadia.
(In jornal “Comércio da Póvoa de Varzim, Dezembro de 1918)

Imagem do lugre "Clemencia"
(In revista "Ilustração Nacional", Nº1, Póvoa de Varzim, 1919)

Navio “Clemencia”
Ontem, pelas 15 e meia horas, foi lançado à água, no estaleiro desta praia, o navio “Clemencia”, da casa Dupin & Cª., de Anadia. O navio era um belo barco de três mastros, grande e bem feito, sob a hábil direcção do mestre construtor naval sr. Manuel Amaro.
Centenas de pessoas acorreram à praia para o admirar e assistir ao bota-abaixo. Quase toda a Póvoa deixou de trabalhar para assistir ao interessante espectáculo, e muita gente veio das aldeias e Vila do Conde.
A descida, pela carreira, decorreu maravilhosa e o barco correu à água no meio de entusiásticas saudações. Ao largo, na enseada, o rebocador que o havia de levar ao Porto.
Mas – tudo, tudo tem o seu mas – o navio começou de aproar a terra, certamente arrastado, pouco a pouco, pelas vagas (vento e mar picado) até que atravessou na praia, oscilando, e depois de salva, por meio de cordas, a gente que fôra dentro e a tripulação, o navio adornou com os mastros sobre a água e o casco virado para terra, na praia, começando as ondas na faina da sua destruição!
Foi uma decepção e uma mágoa o triste acontecimento, que se deve, sem dúvida, ao fraco ou mau serviço de amarras, por uma imprevidência imperdoável.
O navio estava no seguro e não houve, felizmente, desastres pessoais. Diz-se que, não obstante este insucesso, o estaleiro continuará avante; todavia é necessário que se apurem responsabilidades para que, por causa duns, não venha a sofrer a Póvoa, dando destes tristes espectáculos e perdendo essa nova indústria – o estaleiro, que tanto beneficia a terra.
(In jornal “O Intransigente”, de 20 de Dezembro de 1918)

O navio “Clemencia”
Parece-nos que nunca, nesta praia, se construiu navio maior do que este, que na última quinta-feira foi lançado ao mar. Barco lindo e magnificamente construído pelo sr. Manuel Amaro, hábil industrial de construções navais.
A tarde de quinta-feira foi um dia de festa para a gente desta vila. Todos queriam ir ver o deita ao mar do belo “Clemencia”. Clemencia é o nome próprio da Exma. proprietária do navio que o quis batizar com o seu nome.
Das três para as quatro horas, meia Póvoa e muita gente das aldeias e de Vila do Conde acorreu ali, à praia, para ver deslizar o barco. Eram quatro horas, menos vinte minutos, quando a Exma. proprietária cortou as amarras.
Na alma daquele povoléu enorme passou; então, um trémito de alegria. O barco desliza belamente e fica no mar flutuando donairosamente, esplendidamente. Todos vitoriam o bom sucesso e a alegria vê-se a bailar em todos os olhos.
Passam-se dez minutos e ninguém olha pelo barco. Só o mar toma conta dele. E em muito pouco tempo lhe vira a proa para o norte e o apanha de bombordo. Depois, como a brincar, atirou-o para a areia fazendo-o tombar quase logo. Isto passou-se em breve tempo, em 15 ou vinte minutos, o máximo.
Não queremos nem podemos acusar ninguém. Só afirmamos que saímos dali, magoados, como todos os espectadores. Uma coisa ficou provada à evidência: é que o nosso estaleiro é magnífico, o construtor hábil e perito na arte.
O navio desceu belamente, magnificamente, e ficou na água flutuando donairosamente. Ele não tinha caldeira, nem velas, nem remos. Era preciso rebocá-lo. E lá estava para isso o rebocador, que não rebocou nada.
Em conclusão: se porventura se quis fazer uma experiência sobre a viabilidade de construções navais na nossa praia, o resultado não podia ser mais favorável, nem mais concludente.
Ficou evidentemente demonstrado que o nosso estaleiro é magnifico e que os barcos, de grande tonelagem, deslizando bem nas calhes, ficam no mar flutuando, como um cisne num lago. Depois, depois… é rebocá-los; que eles, sem caldeiras, sem remos, sem velas, não podem seguir viagem.
À Exma. Sociedade C. Dupin & Cª., agradecemos o convite que teve a amabilidade de nos enviar.
(In jornal “Estrela Povoense”, 22 de Dezembro de 1918)

Navio “Clemencia”
Triste sina!
Narra o "Janeiro" (jornal "Primeiro de Janeiro", do Porto) de sábado p.p. o lançamento, à água na nossa bacia dum navio, o “Clemencia”, navio pertencente à firma C. Dupin & Cª., que o mandara construir.
Transcrevemos essa notícia na íntegra, apenas com uns leves comentários nossos, os quais não podemos abafar em nosso peito, tão grande foi a tristeza e desgosto que sentimos e toda aquela multidão de pessoas, que viram perder esse navio duma forma que não sabemos explicar.
«Ante-ontem de tarde, foi lançado ao mar, perante numerosíssima assistência na praia da Póvoa de Varzim, o magnífico navio “Clemencia”, de 1.200 toneladas, mandado construir pela firma C. Dupin & Cª.
Como o lançamento se fazia directamente para o mar, foi tratado o rebocador “Mars”, da casa Garland, Laidley & Cª., para o rebocar até ao rio Douro, onde devia receber um carregamento de vinho para a Inglaterra.
O “Clemencia”, cujas amarras foram cortadas por M.me Clemencia Dupin de Seabra, entrou bem na água por entre as aclamações da multidão.
(In jornal “O Comércio da Póvoa de Varzim”, 24.Dezembro.1918)

Edital da Delegação Aduaneira de Leixões,
pela Alfândega do Porto, que se entende por si.
(In jornal "Comércio do Porto", 26 de Dezembro de 1918)

Navio “Clemencia”
O lindo navio que saiu na última semana do nosso estaleiro e que por uma fatal imprevidência arrojou à praia vinte minutos depois, lá continua a desfazer-se pelas maresias.
Cada destroço arrojado é como que uma lançada no nosso coração bairrista, que teceu de simpatias por aquele barco, que nos trazia uma nova esperança numa indústria que dando-nos interesses, nos dava por igual muita honra.
A Póvoa sentiu e compartilhou largamente do desgosto da empresa, mormente da sua ilustre diretora, Exma. srª. Dª. Clemencia Dupin, a quem este jornal apresenta os protestos da sua muita consideração.
Os arrojos já lançados à praia pelo mar foram arrematados no último dia 24 por 680 escudos.
(In jornal “O Comércio da Póvoa de Varzim”, 29.Dezembro.1918)

O Desastre do “Clemência”
Continua o Nosso Estaleiro?
O desastre do navio “Clemencia”, que tão aflitivamente entristeceu todos os povoenses fez nascer naturalmente a pergunta: continuará o estaleiro?
É que o nosso bairrismo de sustentar todas as fontes de riqueza que possam fazer prosperar a terra fez criar o receio de que o triste sucesso do “Clemencia” desanimasse a empresa a prosseguir nas construções dos seus navios, se bem que em nada concorresse para o desastre quer a carreira, quer qualquer outro serviço da parte do pessoal construtor.
Isto nos forçou a colher esclarecimentos e a trocar impressões com quem alguma coisa pudesse elucidar os leitores.
É o mestre construtor sr. Manuel Gonçalves Amaro, nosso amigo, que afavelmente nos recebe no seu próprio estaleiro:
- Que quer que lhe diga? Não me magoaria tanto com uma perca minha exclusivamente.
- Mas a que atribuir o desastre?
- Eu sei lá! Não sou técnico no mar. Daqui, como viu, saiu o “Clemencia” por uma carreira fora, lindo, formoso, que me fez soltar as lágrimas de contentamento! Aquelas palmas, milhares de palmas, recebias com gratidão, tanto mais que assim eu via a Exma. srª Dª Clemencia e todos os patrões tinham a paga da confiança que em mim depositaram. Para um construtor, o deslizar dum navio é a maior das comoções porque nisso está o complemento duma obra, que é alguma coisa de nós mesmo. Afinal…
- Deixemos as tristezas. O que lá vai, já não tem remédio. Toda a gente sabe que a culpa não é sua…
- Sim, mas aquele casco, ali, a rolar…
- Vamos ao que importa: o estaleiro continua?
O mestre Amaro, perante esta pergunta, reanima-se, toma novo alento, nova vida e diz-nos com vivacidade:
- Se continua? Sempre. Enquanto eu tiver quem me encomende barcos hei-de construir aqui! E hão-de deslizar bem por aí fora!
- Não é isso. A empresa Dupin & Cª. continua a construir?
- Sim, senhor. A sua ilustre diretora não é pessoa para desanimar. Não a conhece? Que energia, que vontade! Ela sentiu bem no dia do desastre como a Póvoa se comoveu com ela e o facto mais a animou.
Continua e para já com mais dois navios.
- Dois navios?
- Sim, senhor. Dois lugres, de 700 toneladas cada um. São essas duas quilhas que para aí vê.
- Bravo! A Póvoa recebe com a maior satisfação essa notícia. Mas diga-me ainda: já tem nome?
- Não sei bem. Creio, no entanto, que outro “Clemencia” há-de surgir radioso a navegar triunfante!
- Diga-me para terminar: o barco que se perdeu estava seguro?
- Estava, segundo o que me disse um empregado superior da casa. Creio que pagaram 3.000 escudos só pelo seguro de carreira, e mar, até ao Porto.
De junto a uma quilha dos novos barcos chamaram o mestre Amaro. Era tempo de o deixarmos entregue aos seus novos trabalhos, que são os seus novos amores e para toda a Póvoa a esperança! Eles hão-de sair por aí fora a flutuar galhardamente com os afetos de todos nós!
(In jornal “O Comércio da Póvoa de Varzim”, 29.Dezembro.1918)

Navio “Clemencia”
Parece que não; que há pleito sobre o caso. É o que logicamente depreendemos de ter corrido à revelia, sem reclamação, a arrematação do mesmo navio, - o que não se daria se houvesse harmonia entre a empresa construtora e as companhias, que reclamariam, então, o que lhes pertencia.
Assim, questionando, nem elas nem aquela lhes convinha reclamar - a empresa, para ter direito ao seguro, e as companhias para não perderem o direito das suas alegações.
Ou não será assim?
(In jornal “O Intransigente”, de 12 de Janeiro de 1919)