Na doca de Leixões
Um violento incêndio pôs em perigo o vapor português “Inhambane”, tendo sido empregues 25 agulhetas para dominar as chamas alterosas e ameaçadoras
O "Inhambane" à chegada ao porto de Leixões
A bordo do “Inhambane”, magnífico vapor de dez mil toneladas, que entrou, ante-ontem de manhã na doca Nº 1 de Leixões, declarou-se incendio, violento, com proporções inicialmente assustadoras. O “Inhambane” viera de Lisboa com 1.900 toneladas de nitrato de sódio e 250 toneladas de carga diversa, pertença da Companhia União Fabril, que é, também, proprietária do vapor.
Após a entrada na doca, acostando no lado sul, começaram os trabalhos de descarga. Os porões da ré foram os primeiros a ser aliviados. Quando a descarga estava bastante adiantada é que o incendio se manifestou.
Pouco passava das 13 horas. O pessoal retomava o serviço, suspenso pouco antes – foi quando o encarregado dos estivadores encontrou um saco de sódio a arder. Dado o alarme, recorreram ao extintor de bordo. Mas o fogo não cedeu. Pelo contrário – propagou-se a toda a mercadoria, e, dentro em pouco o porão Nº 5 era, igualmente, pasto de chamas. Mesmo antes de serem pedidos os socorros, compareceram no local, os Bombeiros Voluntários de Matosinhos.
O serviço de ataque ao fogo foi montado sob a direcção do Inspetor de Incêndios do Concelho de Matosinhos, sr. coronel Alberto Laura Moreira. Entretanto chegaram ao local do sinistro os corpos ativos dos Voluntários de Leixões, de S. Mamede de Infesta e de Moreira da Maia.
As chamas, crepitantes, saíam dos porões e elevavam-se a alguns metros, enquanto nuvens de fumo, compactas, subiam no espaço e – pode afirmar-se sem exagero – cobriam e escureciam o céu em Leixões e Matosinhos. Da vila e dos lugares distantes acorreu gente. Nas imediações da doca, contidas à distância pela guarda, viam-se milhares de pessoas.
O espectáculo, sinistro, trágico, chamava a atenção de todos. Aos olhos dos assistentes e até aos olhos dos bombeiros, afigurou-se tragédia de gravíssimas consequências. O fumo e o cheiro intoxicava os abnegados bombeiros, mas eles, heroicamente, obedecendo, disciplinados, ao comando do coronel Laura Moreira, com mascaras contra gás ou sem elas, combatiam, de agulheta em punho, as chamas, e desciam aos porões, resolutamente, sem medirem o perigo ameaçador que os envolvia. Se não fosse a inteligência posta à prova no ataque ao incendio e o heroísmo dos bombeiros, talvez o vapor se tivesse perdido.
Felizmente o fogo podia considerar-se extinto duas horas após o seu início, tendo ficado limitado aos dois porões, parcialmente inundados com a água das dezassete agulhetas utilizadas pelos bombeiros das quatro corporações antes referidas, duas do rebocador “Tritão”, uma do “Manolito”, e quatro de duas barcaças da Administração dos Portos do Douro e Leixões, no total de 25 agulhetas, alimentadas por uma autobomba e 12 motobombas.
Estiveram no local do incendio o presidente da Camara Municipal de Matosinhos e o Delegado Policial, srs. drs. Fernando Aroso e Sá Lima; o capitão do porto, sr. comandante João Pais e o gerente da Companhia União Fabril, nesta cidade, sr. engenheiro Manuel Domingues dos Santos. À noite começaram os trabalhos para estancamento dos porões inundados. Os prejuízos são importantes desconhecendo-se as causas que deram origem ao incêndio.
(In jornal “Comércio do Porto”, de sábado, 6 de Junho de 1942)
No blog, com data de 24 de Abril de 2009, encontra-se informação detalhada sobre este navio.
A bordo do “Inhambane”, magnífico vapor de dez mil toneladas, que entrou, ante-ontem de manhã na doca Nº 1 de Leixões, declarou-se incendio, violento, com proporções inicialmente assustadoras. O “Inhambane” viera de Lisboa com 1.900 toneladas de nitrato de sódio e 250 toneladas de carga diversa, pertença da Companhia União Fabril, que é, também, proprietária do vapor.
Após a entrada na doca, acostando no lado sul, começaram os trabalhos de descarga. Os porões da ré foram os primeiros a ser aliviados. Quando a descarga estava bastante adiantada é que o incendio se manifestou.
Pouco passava das 13 horas. O pessoal retomava o serviço, suspenso pouco antes – foi quando o encarregado dos estivadores encontrou um saco de sódio a arder. Dado o alarme, recorreram ao extintor de bordo. Mas o fogo não cedeu. Pelo contrário – propagou-se a toda a mercadoria, e, dentro em pouco o porão Nº 5 era, igualmente, pasto de chamas. Mesmo antes de serem pedidos os socorros, compareceram no local, os Bombeiros Voluntários de Matosinhos.
O serviço de ataque ao fogo foi montado sob a direcção do Inspetor de Incêndios do Concelho de Matosinhos, sr. coronel Alberto Laura Moreira. Entretanto chegaram ao local do sinistro os corpos ativos dos Voluntários de Leixões, de S. Mamede de Infesta e de Moreira da Maia.
As chamas, crepitantes, saíam dos porões e elevavam-se a alguns metros, enquanto nuvens de fumo, compactas, subiam no espaço e – pode afirmar-se sem exagero – cobriam e escureciam o céu em Leixões e Matosinhos. Da vila e dos lugares distantes acorreu gente. Nas imediações da doca, contidas à distância pela guarda, viam-se milhares de pessoas.
O espectáculo, sinistro, trágico, chamava a atenção de todos. Aos olhos dos assistentes e até aos olhos dos bombeiros, afigurou-se tragédia de gravíssimas consequências. O fumo e o cheiro intoxicava os abnegados bombeiros, mas eles, heroicamente, obedecendo, disciplinados, ao comando do coronel Laura Moreira, com mascaras contra gás ou sem elas, combatiam, de agulheta em punho, as chamas, e desciam aos porões, resolutamente, sem medirem o perigo ameaçador que os envolvia. Se não fosse a inteligência posta à prova no ataque ao incendio e o heroísmo dos bombeiros, talvez o vapor se tivesse perdido.
Felizmente o fogo podia considerar-se extinto duas horas após o seu início, tendo ficado limitado aos dois porões, parcialmente inundados com a água das dezassete agulhetas utilizadas pelos bombeiros das quatro corporações antes referidas, duas do rebocador “Tritão”, uma do “Manolito”, e quatro de duas barcaças da Administração dos Portos do Douro e Leixões, no total de 25 agulhetas, alimentadas por uma autobomba e 12 motobombas.
Estiveram no local do incendio o presidente da Camara Municipal de Matosinhos e o Delegado Policial, srs. drs. Fernando Aroso e Sá Lima; o capitão do porto, sr. comandante João Pais e o gerente da Companhia União Fabril, nesta cidade, sr. engenheiro Manuel Domingues dos Santos. À noite começaram os trabalhos para estancamento dos porões inundados. Os prejuízos são importantes desconhecendo-se as causas que deram origem ao incêndio.
(In jornal “Comércio do Porto”, de sábado, 6 de Junho de 1942)
No blog, com data de 24 de Abril de 2009, encontra-se informação detalhada sobre este navio.