domingo, 26 de fevereiro de 2012


O mira-mares de Leça da Palmeira

Imagem do mira-mares de Leça da Palmeira
Foto de autor desconhecido - minha colecção

O mira-mares de Leça da Palmeira, outrora situado onde actualmente se encontra a piscina de marés, como a seguir se constata, serviu inicialmente para dar apoio aos serviços de pilotagem, para com proximidade poderem averiguar das condições do estado do mar, possibilitando à navegação abeirar-se do litoral Matosinhense, naquela que era conhecida por praia d'Ela, junto à foz do rio Leça. Numa segunda fase serviu igualmente como mirante, para aqueles que com mais coragem se abeiravam do mar, até à sua destruição, que deve ter acontecido durante a década de 30 do século passado, revelando-se desnecessário e obsoleto face à construção dos molhes, que até à data resguardam o recinto portuário. O quando, como e porquê, explica-se no texto abaixo transcrito, como segue:

No dia 21 de Outubro de 1870, pelas 10 horas da manhã, foi inaugurado com toda a solenidade o mira-mares de Leça da Palmeira, a que assistiu a direcção da primeira comissão auxiliadora da Real Sociedade Humanitária local e várias pessoas consideradas, que para esse acto foram entretanto convidadas.
O melhoramento, que ficou a dever-se ao sr. João Pinto de Araújo e por ele custeado na integra, é uma obra verdadeiramente filantrópica, que honra aquele senhor e patenteia os seus generosos sentimentos.
O fim do mira-mares é servir de observatório para conhecer a criação dos mares na penedia de Leixões, os quais costumam afrontar todo o litoral, pondo em risco de serem viradas as embarcações, que vem procurar abrigo na foz do rio Leça.
É no espaço que decorre de uns a outros mares, que o prático observa a ocasião de chamar os bateis de pescaria para entrarem a salvamento, tornando-se assim esta obra de grande utilidade para a desventurada classe a quem o seu generoso autor acaba de oferece-la.
(In jornal "Comércio do Porto", de 21 de Outubro de 1870)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Desembarque de automóveis em Leixões


Os primeiros tempos

Ao contrário do que se possa imaginar, o conceito de transporte «roll-on roll-off», que define a movimentação de veículos sobre rodas, para carga e descarga nos navios preparados para o efeito, é uma prática utilizada vai para muito próximo de cem anos. Obviamente, sem as mesmas condições de trabalho em vigor, que contemplam a utilização de cais ajustados aos navios, permitindo movimentos de viaturas com outra rapidez, de maneira a satisfazer armadores, importadores e quem os representa. Tudo indica que a primeira, ou uma das primeiras escalas para descarga de veículos em Leixões, tenha ocorrido a 25 de Agosto de 1930, já apresentando a notável média de 15 minutos para o desembarque de cada viatura, tendo em linha de conta a necessidade de remover veículos sobrepostos, conforme relatado com rigor, na notícia abaixo publicada. Segue-se a identificação do navio responsável pelo transporte:

Nome do navio: “Falkenstein”
1923 - 1934
 Indicativo internacional: R.D.S.H.
 Armador: Arnold Bernstein, Hamburgo, Alemanha


Cttor.: Northumberland Shipbuilding Co. Ltd., Newcastle, 04.1908
ex “Fernandina”, Furness, Withy & Co., Liverpool, 1908-1923
Arqueação: Tab 1.850,00 tons - Tal 1.132,00 tons
Dimensões: Pp 83,82 mts - Boca 12,31 mts - Pontal 5,67 mts
Propulsão: Richardsons, Westgarth - 1:Te - 3:Ci - 175 Nhp - 9 m/h
Destino: Vendido para demolir à empresa Deustche Werk Kiel, no último trimestre de 1934

A notícia
Na passada segunda-feira chegou a Leixões o vapor alemão “Falkenstein”, fretado há dois anos pela «Casa Ford» que se emprega, exclusivamente, no transporte de automóveis daquela empresa. O barco em questão, que compreende 3 porões e um tombadilho na ré e 3 porões na proa, comporta cerca de 300 automóveis, sendo interessante e curioso ver-se como é possível, em tão pequeno espaço, acondicionar aquele número de carros.
Desta vez trouxe aquele vapor, para esta cidade, vindo consignado à Agência Ford, 168 carros, entre automóveis e caminhetas e que estão à descarga no molhe sul de Leixões. Assistimos à descarga de alguns automóveis e caminhetas, e ficamos maravilhados com a rápida retirada de cada carro, por termos verificado a forma como se acham acomodados. Assim, no espaço compreendido por uma caminheta, acham-se instaladas três, estando umas sobrepostas às outras, tomando o comprimento de uma só. Os carros são retirados do vapor para o molhe rapidamente, pois que o intervalo da saída dum ao outro carro, não é mais de 15 minutos, sendo também de admirar a destreza dos tripulantes alemães do “Falkenstein”, que são todos «chauffers» na condução dos automóveis.
Como nota de relevo, devemos dizer que, depois de termos visto a estatística da revista «Motor», a produção de carros da «Casa Ford», no mês de Junho passado, foi de 174.528 carros e a produção de todas as outras marcas, no mesmo mês, foi de 168.472, isto é, a «Ford» fabricou naquele mês, mais 6.056 carros, que todas as outras marcas juntas. É deveras significativo este resultado, que representa algo de muito importante na indústria mundial do automobilismo. Damos em cima uma fotografia dos carros, que já ontem foram retirados, devendo terminar, hoje, o desembarque de todos.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 27 de Agosto de 1930)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

História trágico-marítima (XLVI)


Naufrágios de 1871
Iate português “ Novo Viajante “, a 23 de Fevereiro de 1871

Anúncio relativo ao iate "Novo Viajante"
(In jornal "Comércio do Porto", de 09.11.1870)

Quando entrava a barra do porto de Lisboa o navio deu num baixo, entrando logo água e em tanta quantidade, que foi necessário encalhá-lo próximo à Trafaria. Procedia de Vila Nova de Milfontes com um carregamento de cereais. È mestre e dono do iate o sr. Francisco Maria. Nesta data está previsto a carga ser transferida para fragatas, sendo esperada gente de Lisboa, para ver se podem salvar o barco.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 25 de Fevereiro de 1871)
O iate “Novo Viajante”, que se encontrava encalhado na Trafaria, pode safar-se e vai ser reparado em Metela.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 26 de Fevereiro de 1871)