O fim no mesmo local… para o “Silurian” e para o “Bogor”
3ª Parte – 3/5
Foto do vapor "Bogor", eventualmente num porto holandês
Imagem publicada no sítio "Wrecksite", por Nico Vleggeert
No dia 13 de Dezembro de 1914, ocorreu novo sinistro, quando as pessoas ainda comentavam os pormenores relativos ao encalhe do vapor “Silurian”, naufragado em Angeiras, e já no mar, um pouco aquém daquela praia, se tinha desenrolado na manhã de Domingo um outro drama, mais horroroso, porque além da perda de um vapor mercante, regista-se a morte de 33 dos seus tripulantes.
O navio deu à costa em condições semelhantes ao vapor “Silurian”, de madrugada, mas num ponto, onde a praia é vedada do povoado por enormes taludes de areia. Assim, o “Bogor”, devendo ter batido nos rochedos cerca das 2 horas e meia da madrugada, de terra ninguém deu por tal desgraça e sem dúvida os infelizes tripulantes não conseguiram fazer-se ouvir, num mais que provável pedido de socorro.
= À procura de informações =
Saídos da estrada principal, entramos num caminho estreito e tortuoso, cheio de lama e covas, que na freguesia de Perafita nos levou até à beira-mar, à praia da Agudela; mas com muita dificuldade, porque lá, ao fim, o caminho estava atravancado de carroças e automóveis, que se viam em sérios apuros para os que retiravam poderem dar lugar aos que chegavam.
A solução foi caminhar, na ânsia de obter informações, tendo a favor o facto de não estar a chover, se bem que um vento agreste vindo dum mar inquieto, incomodava toda a gente.
= No local da catástrofe =
Pelo que foi apreciado durante o trajecto, não foi surpresa ver a praia coalhada de gente, e um movimento enorme de soldados da guarda-fiscal, acompanhando comboios de seis e oito carros de bois a transportar variados fardos e caixas, já salvados do “Bogor”, que o mar revolto arrojava à praia. Virados para o mar encapelado e arrogante, parecendo querer tragar tudo, na praia do «Marreco», encontramos à esquerda a praia de Pampolide, onde se ergue altiva a memória consagrada aos bravos liberais, que ali desembarcaram com D. Pedro IV, e à direita a praia da «Agudela», onde se dera o desastre.
Um formigueiro enorme de gente mexia-se pelo extenso areal, fora da zona tomada pela guarda-fiscal, que ali estabeleceu uma secção sob o comando de um subalterno e com a direcção do chefe da delegação aduaneira de Leixões, sr. Marques da Costa.
= O alarme do desastre =
O “Bogor”, da Mala Real Holandesa, pertencia à praça de Roterdão, de onde saiu a 2 do corrente, sendo esta a primeira viagem que fazia a Leixões, porque, tendo sido construído em Hamburgo em 1898, fez desde então e até agora viagens para a Índia Holandesa. Era um navio de 3.600 toneladas e tinha uma tripulação composta por 38 homens, incluindo o capitão de nome Lutter. Vinha para Leixões consignado aos agentes srs. Orey Antunes & Cª., carregado com vários géneros. O navio depois de receber carga em Leixões, devia seguir para Lisboa, com destino ao Brasil.
Há um homem, trabalhador de lavoura, de Perafita, que disse ter ouvido depois da uma hora da madrugada os toques repetidos da sirene de um vapor, mas que de sua casa nada vira para o mar e como estava muito temporal não saíra. Perto das cinco horas da madrugada é que o criado de lavoura Joaquim Moreira, ao sair para os seus serviços deu com o vapor encalhado, batendo violentamente sobre as pedras denominadas «Mó». Foi a correr a casa do seu patrão, o lavrador sr. Paulino Dias de Oliveira, do lugar de Pampolide, comunicar o que havia visto e no caminho disse-o também ao soldado José Maria, da guarda-fiscal, e daí o alarme em todas as poucas casas da beira-mar e a vinda de um soldado da guarda-fiscal, montado numa bicicleta, a Matosinhos e a Leixões, a dar conta do sinistro e a reclamar socorros.
Entretanto na praia da «Agudela», o drama desenrolava-se pavorosamente. Logo afluíram ali àquela hora, ainda noite fechada e temporal desfeito, muitíssimos populares. O navio, que era grande e todo de ferro, desmantelava-se e soçobrava entre as pedras e a tripulação numa situação angustiosa, louca de pavor, em vão pedia socorro, que de terra não se lhe podia dar. Parece que a essa hora já não estava toda a gente a bordo, ou porque os vagalhões enormes os varreu da coberta, ou porque no auge do desespero se atiraram ao mar em busca de salvamento.
Garantidamente, só quando a luz do dia começava a rasgar a profunda escuridão de uma noite de tormenta implacável, veio à praia um náufrago que conseguira a nado vir a terra. Grande alvoroço entre as pessoas que ali se encontravam e todos, qual deles o mais solicito, corriam ao mar a lançar-lhe mão amiga e protectora para evitar que a ressaca o envolvesse e o arrastasse de novo para o perigo, ceifando uma vida que estava quase salva. Foi logo levado para uma casa distante, onde lhe providenciaram os socorros necessários.
E foi nessa altura que se começou a ver bem o vapor “Bogor” e se verificou que ele estava completamente perdido. Caindo o casco nas referidas pedras da «Mó», partiu em dois pontos, estando, portanto, dividido em três partes, vendo-se a meia-nau a baixar sensivelmente, até que duas horas depois mergulhava adernado para estibordo, isto é, para o lado do mar, para onde tombavam e se escondiam no seio das águas a chaminé, a ponte e o mastro grande, ficando apenas com o topo à vista. Da proa, virada ao norte sobre as rochas via-se uma grande parte do navio, bem como da ré, torcida para terra e bastante desmantelada. Na praia o povo aguardava com ansiedade a chega de algum sobrevivente, que porventura pudesse vencer a fúria das vagas a alcançar a terra.
Há um homem, trabalhador de lavoura, de Perafita, que disse ter ouvido depois da uma hora da madrugada os toques repetidos da sirene de um vapor, mas que de sua casa nada vira para o mar e como estava muito temporal não saíra. Perto das cinco horas da madrugada é que o criado de lavoura Joaquim Moreira, ao sair para os seus serviços deu com o vapor encalhado, batendo violentamente sobre as pedras denominadas «Mó». Foi a correr a casa do seu patrão, o lavrador sr. Paulino Dias de Oliveira, do lugar de Pampolide, comunicar o que havia visto e no caminho disse-o também ao soldado José Maria, da guarda-fiscal, e daí o alarme em todas as poucas casas da beira-mar e a vinda de um soldado da guarda-fiscal, montado numa bicicleta, a Matosinhos e a Leixões, a dar conta do sinistro e a reclamar socorros.
Entretanto na praia da «Agudela», o drama desenrolava-se pavorosamente. Logo afluíram ali àquela hora, ainda noite fechada e temporal desfeito, muitíssimos populares. O navio, que era grande e todo de ferro, desmantelava-se e soçobrava entre as pedras e a tripulação numa situação angustiosa, louca de pavor, em vão pedia socorro, que de terra não se lhe podia dar. Parece que a essa hora já não estava toda a gente a bordo, ou porque os vagalhões enormes os varreu da coberta, ou porque no auge do desespero se atiraram ao mar em busca de salvamento.
Garantidamente, só quando a luz do dia começava a rasgar a profunda escuridão de uma noite de tormenta implacável, veio à praia um náufrago que conseguira a nado vir a terra. Grande alvoroço entre as pessoas que ali se encontravam e todos, qual deles o mais solicito, corriam ao mar a lançar-lhe mão amiga e protectora para evitar que a ressaca o envolvesse e o arrastasse de novo para o perigo, ceifando uma vida que estava quase salva. Foi logo levado para uma casa distante, onde lhe providenciaram os socorros necessários.
E foi nessa altura que se começou a ver bem o vapor “Bogor” e se verificou que ele estava completamente perdido. Caindo o casco nas referidas pedras da «Mó», partiu em dois pontos, estando, portanto, dividido em três partes, vendo-se a meia-nau a baixar sensivelmente, até que duas horas depois mergulhava adernado para estibordo, isto é, para o lado do mar, para onde tombavam e se escondiam no seio das águas a chaminé, a ponte e o mastro grande, ficando apenas com o topo à vista. Da proa, virada ao norte sobre as rochas via-se uma grande parte do navio, bem como da ré, torcida para terra e bastante desmantelada. Na praia o povo aguardava com ansiedade a chega de algum sobrevivente, que porventura pudesse vencer a fúria das vagas a alcançar a terra.
= Os socorros – Quatro tripulantes salvos =
Já próximo ao final do dia, reúnem-se no local cada vez mais curiosos, continuando o mar, sempre embravecido, a arrastar para a praia cinco cadáveres, alguns deles num estado deplorável, por terem andado aos baldões por entre a penedia da beira-mar. À medida que apareciam eram removidos para o cemitério de Perafita, onde ficaram depositados.
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