Histórico comercial do arrastão “João Álvares Fagundes”
1945 - 1965
Armador: SNAB- Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau, SARL.
Foto do arrastão "João Álvares Fagundes"
Imagem da Fotomar, Matosinhos
Imagem da Fotomar, Matosinhos
Nº Oficial: LX-18-N - Iic.: C.S.D.A. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Companhia União Fabril, Lisboa, 1945
= Detalhes do arrastão conforme a lista de navios de 1946 =
Arqueação: Tab 1.270,33 tons - Tal 656,81 tons - 18.208 quintais
Dimens.: Ff 71,45 mt - Pp 66,05 mts - Bc 11,03 mts - Ptl 5,00 mts
Propulsão: 1:Di - 8:Ci - 950 Bhp - 8 m/h
Equipagem: 15 tripulantes e 53 pescadores
Capitães embarcados: João Oliveira e Sousa (1945 e 1946); João Simões Ré (1947 a 1949) e António A. Marques (1950 e 1951).
= Detalhes do arrastão conforme a lista de navios de 1952 =
Arqueação: Tab 1.270,33 tons - Tal 656,81 tons - 18.208 quintais
Dimens.: Ff 71,45 mt - Pp 66,05 mts - Bc 11,03 mts - Ptl 5,00 mts
Propulsão: Cooper-Bessemer - 1:Di - 8:Ci - 1.000 Bhp - 10 m/h
Equipagem: 15 tripulantes e 53 pescadores
Capitães embarcados: Victor Pereira da Silva (1952); Manuel Pereira da Bela (1953); José Nunes de Oliveira (1954/1); João de Sousa Firmeza (1954/2); Gilberto Santos Morgado (1955 a 1959); Mário Santos Redondo (1960 e 1961); Fernando O. Carvalho (1962) e Rui da Silva Pereira (1965)
Construtor: Companhia União Fabril, Lisboa, 1945
= Detalhes do arrastão conforme a lista de navios de 1946 =
Arqueação: Tab 1.270,33 tons - Tal 656,81 tons - 18.208 quintais
Dimens.: Ff 71,45 mt - Pp 66,05 mts - Bc 11,03 mts - Ptl 5,00 mts
Propulsão: 1:Di - 8:Ci - 950 Bhp - 8 m/h
Equipagem: 15 tripulantes e 53 pescadores
Capitães embarcados: João Oliveira e Sousa (1945 e 1946); João Simões Ré (1947 a 1949) e António A. Marques (1950 e 1951).
= Detalhes do arrastão conforme a lista de navios de 1952 =
Arqueação: Tab 1.270,33 tons - Tal 656,81 tons - 18.208 quintais
Dimens.: Ff 71,45 mt - Pp 66,05 mts - Bc 11,03 mts - Ptl 5,00 mts
Propulsão: Cooper-Bessemer - 1:Di - 8:Ci - 1.000 Bhp - 10 m/h
Equipagem: 15 tripulantes e 53 pescadores
Capitães embarcados: Victor Pereira da Silva (1952); Manuel Pereira da Bela (1953); José Nunes de Oliveira (1954/1); João de Sousa Firmeza (1954/2); Gilberto Santos Morgado (1955 a 1959); Mário Santos Redondo (1960 e 1961); Fernando O. Carvalho (1962) e Rui da Silva Pereira (1965)
O regresso de setenta náufragos de três navios bacalhoeiros
A bordo do arrastão “João Álvares Fagundes” chegaram, ontem de manhã, vindos dos bancos da Terra Nova, os 70 náufragos dos navios bacalhoeiros “Cruz de Malta”, “Labrador” e “Milena”, todos eles afundados durante a campanha de pesca deste ano.
Do “Cruz de Malta” chegaram 23 homens, que primeiramente foram recolhidos pelo “Gil Eanes”; do “Labrador” veio a totalidade da tripulação, 40 homens e do “Milena” chegaram 7. Os afundamentos ocorreram, respectivamente, a 7 de Agosto, 25 de Agosto e a 2 de Setembro. Com o primeiro perderam-se 2.700 quintais de bacalhau e com o segundo 9 mil quintais.
Quase todos residentes no Norte do País, os náufragos seguiram para as suas terras, logo que desembarcaram no cais da Ribeira. Mais 98 náufragos, os restantes 60 do “Milena” e 38 do “Ana Maria”, que também se afundou nos mares da Terra Nova, devem chegar amanhã, à noite, ao porto de Leixões, a bordo do arrastão “João Corte Real”.
O arrastão “João Álvares Fagundes” trouxe um carregamento de 20.700 quintais de bacalhau, que vão ser descarregados em Alcochete.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 16 de Setembro de 1958)
Quase todos residentes no Norte do País, os náufragos seguiram para as suas terras, logo que desembarcaram no cais da Ribeira. Mais 98 náufragos, os restantes 60 do “Milena” e 38 do “Ana Maria”, que também se afundou nos mares da Terra Nova, devem chegar amanhã, à noite, ao porto de Leixões, a bordo do arrastão “João Corte Real”.
O arrastão “João Álvares Fagundes” trouxe um carregamento de 20.700 quintais de bacalhau, que vão ser descarregados em Alcochete.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 16 de Setembro de 1958)
Afundou-se nos «bancos» da Terra Nova após violento abalroamento
o arrastão “João Álvares Fagundes”, tendo morrido um dos seus tripulantes
Na zona da Terra Nova, onde se encontrava na faina da pesca do bacalhau, afundou-se, depois de violentamente abalroado pelo arrastão islandês “Narfi”, o arrastão português “João Álvares Fagundes”, de cerca de duas mil toneladas de deslocamento e setenta e um metros de comprimento, pertencente à Sociedade Nacional de Armadores.
Do lamentável acidente, que se verificou anteontem (18.03.1965), pelas 19 horas, em águas do Labrador, resultou, também, a morte do tripulante João dos Santos Ré, da Costa Nova. Os restantes 67 homens da tripulação e da campanha foram recolhidos pelos arrastões portugueses "Maria Teixeira Vilarinho” e “Pedro de Barcelos”; e pelos franceses “Bois Rose” e “Brise”. O navio, que já tinha peixe a bordo, era comandado pelo capitão Rui da Silva Pereira. A sua capacidade de carga era de 18.300 quintais de 60 quilos. A empresa armadora já tomou providências para o repatriamento da tripulação.
(In jornal “Comércio do Porto”, de sábado, 20 de Março de 1965)
Do lamentável acidente, que se verificou anteontem (18.03.1965), pelas 19 horas, em águas do Labrador, resultou, também, a morte do tripulante João dos Santos Ré, da Costa Nova. Os restantes 67 homens da tripulação e da campanha foram recolhidos pelos arrastões portugueses "Maria Teixeira Vilarinho” e “Pedro de Barcelos”; e pelos franceses “Bois Rose” e “Brise”. O navio, que já tinha peixe a bordo, era comandado pelo capitão Rui da Silva Pereira. A sua capacidade de carga era de 18.300 quintais de 60 quilos. A empresa armadora já tomou providências para o repatriamento da tripulação.
(In jornal “Comércio do Porto”, de sábado, 20 de Março de 1965)
É inadmissível a atitude assumida pelo capitão do “Narfi” pois após o abalroamento manteve-se afastado e impassível aos gritos da nossa tripulação – disse o imediato do arrastão “João Álvares Fagundes”, que foi afundado por aquele navio islandês.
«Devo, antes de mais nada, deixar aqui registado a atitude assumida pelo comandante e tripulação do arrastão islandês “Narfi”, pela ignorância total dos princípios da salvaguarda e dignidade pela vida humana, contrários à maneira de ser do homem do mar, que mesmo contra os seus inimigos, está sempre pronto a sacrificar a sua vida em defesa da vida do próximo» - foram estas as primeiras palavras que ontem, ao principio da tarde, foram ditas pelo imediato do arrastão “João Álvares Fagundes”, abalroado e metido a pique pelo navio islandês nos pesqueiros do Labrador.
O sr. José Augusto Silva, que, como parte da tripulação e pescadores daquele bacalhoeiro português, chegou ontem, a Lisboa, no avião da TAP, vindo de Paris, estava visivelmente indignado quando lhe foram pedidas algumas palavras sobre o naufrágio do seu navio e o abalroamento pelo arrastão islandês.
«É inadmissível a atitude assumida pelo capitão do “Narfi”. Depois do abalroamento manteve-se afastado a cerca de 30 metros e impassível aos gritos da nossa tripulação, com muitos tripulantes a lançarem-se ao mar, numa água com a temperatura de três graus negativos. Nem uma tentativa de socorro, nem uma boia, nem um gesto de simpatia foram feitos por parte dos homens do arrastão islandês. Isto chocou-nos, nós homens do mar, habituados aos maiores sacrifícios, habituados a enfrentar os maiores perigos a favor do próximo».
O imediato José Augusto Silva estava emocionado ao referir-se a este caso indigno de um homem do mar. Como então foi largamente participado, o arrastão português “João Álvares Fagundes”, deslocando 1.270 toneladas, era uma das melhores unidades da nossa frota de pesca de bacalhau. Dispunha de uma capacidade de 18.208 quintais e tinha uma tripulação de 15 marinheiros e 53 pescadores. Era comandado pelo capitão Rui da Silva Pereira.
O sr. José Augusto Silva, que, como parte da tripulação e pescadores daquele bacalhoeiro português, chegou ontem, a Lisboa, no avião da TAP, vindo de Paris, estava visivelmente indignado quando lhe foram pedidas algumas palavras sobre o naufrágio do seu navio e o abalroamento pelo arrastão islandês.
«É inadmissível a atitude assumida pelo capitão do “Narfi”. Depois do abalroamento manteve-se afastado a cerca de 30 metros e impassível aos gritos da nossa tripulação, com muitos tripulantes a lançarem-se ao mar, numa água com a temperatura de três graus negativos. Nem uma tentativa de socorro, nem uma boia, nem um gesto de simpatia foram feitos por parte dos homens do arrastão islandês. Isto chocou-nos, nós homens do mar, habituados aos maiores sacrifícios, habituados a enfrentar os maiores perigos a favor do próximo».
O imediato José Augusto Silva estava emocionado ao referir-se a este caso indigno de um homem do mar. Como então foi largamente participado, o arrastão português “João Álvares Fagundes”, deslocando 1.270 toneladas, era uma das melhores unidades da nossa frota de pesca de bacalhau. Dispunha de uma capacidade de 18.208 quintais e tinha uma tripulação de 15 marinheiros e 53 pescadores. Era comandado pelo capitão Rui da Silva Pereira.
O arrastão português afundou-se imediatamente,
morrendo um dos seus tripulantes.
O arrastão, após o abalroamento, afundou-se imediatamente, tendo morrido um dos seus tripulantes, João dos Santos Ré, da Costa Nova, Ílhavo, que deve ter sido esmagado pelo embate do arrastão causador do sinistro.
As tripulações e os pescadores transportados por via aérea, uns por Madrid, outros por Paris, chegaram ontem a Lisboa, sendo recebidos no aeroporto pelos srs. José Gomes de Carvalho, António Couto, dr. Mário Pascoal e Joaquim Maia Águas, da direcção do Grémio dos Armadores de Navios do Bacalhau; Luís Ferreira de Carvalho, administrador da Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau, dr. Valério Baltazar Morais, dr. Ferreira da Silva, chefe dos serviços médicos do Grémio, acompanhado do corpo de enfermagem e Vasco Pinto de Sousa.
O imediato João Silva comentou, depois, mais alguns pormenores do naufrágio, afirmando:
«O meu navio navegava dentro dos princípios estabelecidos – ou seja, dentro das regras do código internacional, para evitar abalroamentos no mar. Mas o outro navio ignorava por completo essas regras, pois apareceu junto de nós a toda a força das máquinas e “cortou-nos”».
«Tudo se passou em cerca de 15 minutos, desde o choque até ao afundamento do “João Álvares Fagundes”. A única possibilidade que tivemos foi deitar à água duas baleeiras, uma das quais metia água, e na qual só cabiam cinco tripulantes. Felizmente alguns navios estavam próximo e, com sacrifício e abnegação das suas tripulações, foi possível evitar uma grande catástrofe».
«Devo aqui destacar, nessa luta para nos salvarem da morte, os arrastões “Pedro de Barcelos”, o francês “Brise”, e o espanhol “Bois Resé” e outros».
As tripulações e os pescadores transportados por via aérea, uns por Madrid, outros por Paris, chegaram ontem a Lisboa, sendo recebidos no aeroporto pelos srs. José Gomes de Carvalho, António Couto, dr. Mário Pascoal e Joaquim Maia Águas, da direcção do Grémio dos Armadores de Navios do Bacalhau; Luís Ferreira de Carvalho, administrador da Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau, dr. Valério Baltazar Morais, dr. Ferreira da Silva, chefe dos serviços médicos do Grémio, acompanhado do corpo de enfermagem e Vasco Pinto de Sousa.
O imediato João Silva comentou, depois, mais alguns pormenores do naufrágio, afirmando:
«O meu navio navegava dentro dos princípios estabelecidos – ou seja, dentro das regras do código internacional, para evitar abalroamentos no mar. Mas o outro navio ignorava por completo essas regras, pois apareceu junto de nós a toda a força das máquinas e “cortou-nos”».
«Tudo se passou em cerca de 15 minutos, desde o choque até ao afundamento do “João Álvares Fagundes”. A única possibilidade que tivemos foi deitar à água duas baleeiras, uma das quais metia água, e na qual só cabiam cinco tripulantes. Felizmente alguns navios estavam próximo e, com sacrifício e abnegação das suas tripulações, foi possível evitar uma grande catástrofe».
«Devo aqui destacar, nessa luta para nos salvarem da morte, os arrastões “Pedro de Barcelos”, o francês “Brise”, e o espanhol “Bois Resé” e outros».
Eles, os culpados, mantiveram-se apenas como espectadores
«Todos acorreram ao chamamento de socorro, o “Barcelos” chegou mesmo a cortar o aparelho de pesca para mais depressa chegar junto de nós. Só o comandante do “Narfi” e a sua tripulação se mantiveram alheados do drama que corria a poucos metros do seu barco, drama de que eles foram os únicos culpados».
«Eles mantiveram-se apenas como espectadores e não deram qualquer explicação do abalroamento. Apenas disse: «Navego para o porto de São João da Terra Nova» - e desapareceu».
- Seria possível evitar o desastre, se da parte do comandante do “Narfi” houvesse atenção à manobra do seu arrastão?
- «A lei internacional prevê que o navio que avista outro a bombordo deva manter a velocidade e só manobrar em último caso, isto é, só no caso de colisão eminente. Foi o que o meu navio fez. Mas, o navio abalroador não tentou qualquer manobra, pelo contrário, quando a aproximação era eminente, procurou ao que parece, dar à ré, guinando ainda mais para cima do arrastão português, para estibordo dele».
E a terminar a sua emocionante narrativa sobre o afundamento do “João Álvares Fagundes”, o imediato sr. José Augusto Silva sublinhou:
«O arrastão islandês não trazia ninguém na ponte, e a maioria da tripulação iria por certo a dormir».
Um outro membro da tripulação que viveu os últimos momentos do “João Álvares Fagundes”, na sua ponte de comando, foi o contramestre João Manuel Oliveira Catarino, um dos últimos homens a deixar o navio minutos antes do mesmo ir a pique.
«Eles mantiveram-se apenas como espectadores e não deram qualquer explicação do abalroamento. Apenas disse: «Navego para o porto de São João da Terra Nova» - e desapareceu».
- Seria possível evitar o desastre, se da parte do comandante do “Narfi” houvesse atenção à manobra do seu arrastão?
- «A lei internacional prevê que o navio que avista outro a bombordo deva manter a velocidade e só manobrar em último caso, isto é, só no caso de colisão eminente. Foi o que o meu navio fez. Mas, o navio abalroador não tentou qualquer manobra, pelo contrário, quando a aproximação era eminente, procurou ao que parece, dar à ré, guinando ainda mais para cima do arrastão português, para estibordo dele».
E a terminar a sua emocionante narrativa sobre o afundamento do “João Álvares Fagundes”, o imediato sr. José Augusto Silva sublinhou:
«O arrastão islandês não trazia ninguém na ponte, e a maioria da tripulação iria por certo a dormir».
Um outro membro da tripulação que viveu os últimos momentos do “João Álvares Fagundes”, na sua ponte de comando, foi o contramestre João Manuel Oliveira Catarino, um dos últimos homens a deixar o navio minutos antes do mesmo ir a pique.
«Foram outros navios que acudiram à tripulação do arrastão português»
Ele conta também, com palavras de emoção o que foram aqueles quinze minutos e a luta travada pelos seus homens para fugir à morte.
Presta homenagem às tripulações portuguesa, francesas e espanholas, que tudo fizeram para arrancar à morte aquele punhado de marinheiros e pescadores portugueses, comentando:
«Havia boa visibilidade. Eram 15 horas, quando o capitão do arrastão português, vendo o perigo, apitou consecutivamente chamando a atenção do navio islandês, que se aproximava do nosso a grande velocidade.
«Eles não ligaram importância aos sinais e, navegando por bombordo, não fizeram qualquer desvio. Entrou a toda a força e só depois do embate e do seu barco ter parado é que pôs as máquinas à ré. Creio que nessa altura acordaram todos».
«Não havia nevoeiro, tínhamos um horizonte grande. Nada dificultava a visibilidade – sublinhou o contramestre português».
- A que atribui o desastre?
- «Não posso dar uma explicação. Depreendo que ou estavam todos a dormir ou não estava ninguém na ponte de comando. Eu não vi ninguém na ponte. De contrário, se não estavam a dormir, estavam embriagados. Só assim compreendo o desastre».
- Quando do embate houve alarme?
- «Sim, registou-se certa confusão como é de calcular. Houve mesmo momentos aflitivos. Dispunha-se de escassos minutos, e não havia tempo para pensar. O comandante gritou para nos salvarmos».
«Duas baleeiras foram atiradas para a água, a segunda das quais foi arrancada já com bastante dificuldade e metia água, no entanto, conseguiu salvar sete homens. Muitos tinham-se já lançado à água e nadado para se afastarem e fugirem à submersão do navio. Entretanto aproximavam-se outras baleeiras, uma das quais do arrastão “Pedro de Barcelos”, que logo ficou cheia. Muitos ficaram algum tempo agarrados àquela baleeira, esperando por socorro».
«Havia boa visibilidade. Eram 15 horas, quando o capitão do arrastão português, vendo o perigo, apitou consecutivamente chamando a atenção do navio islandês, que se aproximava do nosso a grande velocidade.
«Eles não ligaram importância aos sinais e, navegando por bombordo, não fizeram qualquer desvio. Entrou a toda a força e só depois do embate e do seu barco ter parado é que pôs as máquinas à ré. Creio que nessa altura acordaram todos».
«Não havia nevoeiro, tínhamos um horizonte grande. Nada dificultava a visibilidade – sublinhou o contramestre português».
- A que atribui o desastre?
- «Não posso dar uma explicação. Depreendo que ou estavam todos a dormir ou não estava ninguém na ponte de comando. Eu não vi ninguém na ponte. De contrário, se não estavam a dormir, estavam embriagados. Só assim compreendo o desastre».
- Quando do embate houve alarme?
- «Sim, registou-se certa confusão como é de calcular. Houve mesmo momentos aflitivos. Dispunha-se de escassos minutos, e não havia tempo para pensar. O comandante gritou para nos salvarmos».
«Duas baleeiras foram atiradas para a água, a segunda das quais foi arrancada já com bastante dificuldade e metia água, no entanto, conseguiu salvar sete homens. Muitos tinham-se já lançado à água e nadado para se afastarem e fugirem à submersão do navio. Entretanto aproximavam-se outras baleeiras, uma das quais do arrastão “Pedro de Barcelos”, que logo ficou cheia. Muitos ficaram algum tempo agarrados àquela baleeira, esperando por socorro».
Eles voltaram-nos as costas e nem uma boia nos lançaram
Disse ainda o contramestre:
«Todos tivemos a noção do perigo. O arrastão islandês apanhou o porão 1 e 2 da proa e os depósitos de gasóleo de bombordo e possivelmente o porão das redes».
- O arrastão português trazia já muito pescado?
- «Sim. Tínhamos já 6.600 quintais, o que era uma boa colheita, dado o tempo em que ali nos encontrávamos a pescar. Esperávamos terminar a faina em meados de Junho e regressarmos a Lisboa com um carregamento completo. Mas fomos infelizes».
- Como se comportou o comandante do bacalhoeiro islandês e a sua tripulação?
- «De maneira vergonhosa para um homem do mar. Não posso conceber de maneira nenhuma a sua acção. Depois do abalroamento, quando até leigos viam que o nosso navio estava perdido, porque chegou a estar todo mergulhado de proa, só com a popa no ar, e ali nada mais se podia fazer do que saltar para a água – eles voltaram-nos as costas e nem uma bóia nos lançaram. Deviam era tentar tudo para nos salvar. Mesmo que fosse um cão que se debatesse com as ondas, havia a obrigação humana de prestar todo o socorro possível para o arrancar da morte».
E num desabafo:
«Quantas vezes nós temos perdido de pescar para prestar auxílio a outros pescadores estrangeiros, que no momento não sabemos quem são – mas isso é humano, e um dever de profissão, do homem do mar».
Por fim, o contramestre, tal como já havia feito o imediato, prestou homenagens às tripulações dos arrastões portugueses, franceses e espanhóis - «que foram duma nobreza sem par. Especialmente os homens do “Pedro de Barcelos” fizeram o que muito poucos fariam: arriscaram a vida, sujeitando-se a ser arrastados para o fundo do mar, com os restos do nosso arrastão».
(In jornal “Comércio do Porto”, de sexta, 26 de Março de 1965)
O arrastão “Nafir” era um navio de nacionalidade islandesa, da praça de Reiquejavique, propriedade do armador Gudmundur Jorundsson, com sede na mesma cidade piscatória, capital do país. O navio havia sido construído no estaleiro Nobiskrug, em Rendsburgo, Alemanha, em Abril de 1960. Arqueava 890 toneladas de registo bruto e tinha 65,30 metros de comprimento. Muito embora tenha mudado de proprietário em 1978, é muito provável que ainda se encontre a navegar.
«Todos tivemos a noção do perigo. O arrastão islandês apanhou o porão 1 e 2 da proa e os depósitos de gasóleo de bombordo e possivelmente o porão das redes».
- O arrastão português trazia já muito pescado?
- «Sim. Tínhamos já 6.600 quintais, o que era uma boa colheita, dado o tempo em que ali nos encontrávamos a pescar. Esperávamos terminar a faina em meados de Junho e regressarmos a Lisboa com um carregamento completo. Mas fomos infelizes».
- Como se comportou o comandante do bacalhoeiro islandês e a sua tripulação?
- «De maneira vergonhosa para um homem do mar. Não posso conceber de maneira nenhuma a sua acção. Depois do abalroamento, quando até leigos viam que o nosso navio estava perdido, porque chegou a estar todo mergulhado de proa, só com a popa no ar, e ali nada mais se podia fazer do que saltar para a água – eles voltaram-nos as costas e nem uma bóia nos lançaram. Deviam era tentar tudo para nos salvar. Mesmo que fosse um cão que se debatesse com as ondas, havia a obrigação humana de prestar todo o socorro possível para o arrancar da morte».
E num desabafo:
«Quantas vezes nós temos perdido de pescar para prestar auxílio a outros pescadores estrangeiros, que no momento não sabemos quem são – mas isso é humano, e um dever de profissão, do homem do mar».
Por fim, o contramestre, tal como já havia feito o imediato, prestou homenagens às tripulações dos arrastões portugueses, franceses e espanhóis - «que foram duma nobreza sem par. Especialmente os homens do “Pedro de Barcelos” fizeram o que muito poucos fariam: arriscaram a vida, sujeitando-se a ser arrastados para o fundo do mar, com os restos do nosso arrastão».
(In jornal “Comércio do Porto”, de sexta, 26 de Março de 1965)
O arrastão “Nafir” era um navio de nacionalidade islandesa, da praça de Reiquejavique, propriedade do armador Gudmundur Jorundsson, com sede na mesma cidade piscatória, capital do país. O navio havia sido construído no estaleiro Nobiskrug, em Rendsburgo, Alemanha, em Abril de 1960. Arqueava 890 toneladas de registo bruto e tinha 65,30 metros de comprimento. Muito embora tenha mudado de proprietário em 1978, é muito provável que ainda se encontre a navegar.
Chegou a Lisboa o comandante do arrastão “João Álvares Fagundes”
Chegou, ontem, a Lisboa vindo de São João da Terra Nova, o sr. Rui da Silva Pereira, comandante do arrastão ”João Álvares Fagundes” que, como foi noticiado, devido ao abalroamento com o arrastão islandês “Narfi”, se afundou rapidamente, quando andava na faina da pesca do bacalhau, tendo então perdido a vida o pescador João dos Santos Ré, natural da Costa Nova, Ílhavo.
Falando aos jornalistas, o sr. Rui da Silva Pereira, não escondendo a revolta pela acção indigna, do comandante e tripulantes do navio “Narfi” causador comprovado da tragédia, declarou:
- «O que se passou é muito grave. A atitude do capitão do “Narfi” é incompreensível e contra todas as leis do mar».
O capitão do “João Álvares Fagundes” terminou uma breve conversa, afirmando:
- «Se não fosse a actuação pronta e decidida dos arrastões “Pedro de Barcelos”, o francês “Brise” e o espanhol “Bois Rose” francamente não sei o que seria de todos nós. Naufragados no local onde a água tinha três ou quatro graus de temperatura negativa… Aos capitães daqueles três navios quero agradecer aqui, publicamente, tudo o que fizeram por nós, agradecimento que estendo aos respectivos tripulantes que lutaram bravamente para nos salvarem. Não fosse a acção decidida daqueles companheiros, em triste e lamentoso contraste com a tripulação do “Narfi”, a esta hora jazíamos no fundo do mar, junto dos destroços do nosso navio. A todos um obrigado muito reconhecido».
No aeroporto, o sr. Rui da Silva Pereira foi recebido pelo sr. Joaquim Maia Águas, da direcção do Grémio da Pesca do Bacalhau.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 28 de Março de 1965)
Falando aos jornalistas, o sr. Rui da Silva Pereira, não escondendo a revolta pela acção indigna, do comandante e tripulantes do navio “Narfi” causador comprovado da tragédia, declarou:
- «O que se passou é muito grave. A atitude do capitão do “Narfi” é incompreensível e contra todas as leis do mar».
O capitão do “João Álvares Fagundes” terminou uma breve conversa, afirmando:
- «Se não fosse a actuação pronta e decidida dos arrastões “Pedro de Barcelos”, o francês “Brise” e o espanhol “Bois Rose” francamente não sei o que seria de todos nós. Naufragados no local onde a água tinha três ou quatro graus de temperatura negativa… Aos capitães daqueles três navios quero agradecer aqui, publicamente, tudo o que fizeram por nós, agradecimento que estendo aos respectivos tripulantes que lutaram bravamente para nos salvarem. Não fosse a acção decidida daqueles companheiros, em triste e lamentoso contraste com a tripulação do “Narfi”, a esta hora jazíamos no fundo do mar, junto dos destroços do nosso navio. A todos um obrigado muito reconhecido».
No aeroporto, o sr. Rui da Silva Pereira foi recebido pelo sr. Joaquim Maia Águas, da direcção do Grémio da Pesca do Bacalhau.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 28 de Março de 1965)
Outras declarações do capitão Rui Pereira à chegada a Lisboa
(…) «Estou satisfeito porque toda a tripulação foi salva, com excepção do homem que perdeu a vida quando se deu o abalroamento… É a perda de um companheiro, que temos a lamentar…»
(In jornal “O Século”, de Domingo, 28 de Março de 1965)
(In jornal “O Século”, de Domingo, 28 de Março de 1965)
Excelente investigação! Os meus parabéns!
ResponderEliminarExcelente trabalho de prospecção e divulgação. Pena que o capitão Silva Pereira (meu familiar) já tenha falecido e não possa acrescentar mais alguns pormenores a este naufrágio.
ResponderEliminarDepois deste acidente passou a ficar como responsável pela recepção e descarga dos navios da SNAB, que a partir de determinada altura, no pós 25 de Abril, passaram a ter o porto de Aveiro como local de armação e descarga.
Peço autorização para poder extrair este artigo para meu arquivo pessoal, aguardando a v/ anuência.