sexta-feira, 7 de junho de 2013

Resumo histórico do patacho “ Gouveia “


Histórico comercial do patacho “Gouveia”
1912-1916
Armador: José Joaquim Gouveia, Porto

Navio de longo curso, armava inicialmente em brigue, durante os anos em que esteve matriculado em França e em Lisboa. Alterou a mastreação em 1912, eventualmente em estaleiro no rio Douro, passando a armar em patacho.

Navio armado em patacho - colecção Seixas, Museu de Marinha
= Imagem sem correspondência ao texto =

Nº Oficial: A-167 - Iic.: H.B.T.R. - Porto de registo: Porto
Construtor: Não identificado, St. Malo, França, 1902
ex brigue “Le Malouin”, Arm. não identificado, França, 1902-1909
ex brigue “Judith”, Armador não identificado, Lisboa, 1909-1912
Arqueação: Tab 327,79 tons - Tal 286,22 tons
Dimensões: Pp 35,34 mts - Boca 8,20 mts - Pontal 4,04 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 11 tripulantes
Capitães embarcados: António Cachim Júnior (1912); Manuel da Rocha Deus (1913 a 1916)

Naufrágio do patacho “Gouveia” (18.11.1916) – Mortes
Deu-se nas alturas de Espinho, numa povoação denominada Paramos, o naufrágio de um patacho, resultando na destruição completa do navio, tendo perdido a vida seis marinheiros da sua tripulação, incluindo entre eles o seu capitão. (…)
Vindo de Santos e Rio de Janeiro, chegou há dias a Lisboa, com um carregamento de café, farinha de pau, cana e assucar, consignado à Brasileira, do Porto, o patacho português “Gouveia”, pertencente ao armador sr. José Joaquim Gouveia, estabelecido na rua Nova da Alfândega, no Porto.
Feita a descarga de vários géneros que o navio trazia para Lisboa, e depois de ter carregado sal para a Parceria Portuense de Sal, saiu dali o patacho na quarta-feira da última semana, à tarde, com rumo ao Porto. Segundo conta um dos tripulantes salvos do “Gouveia”, o navio saíra de Lisboa com o tempo regular. Porém, na noite de 15 para 16 o tempo começou a turbar-se, sendo que no dia 17 que se desencadeou no mar um violento temporal, que se prolongou durante o dia 18, com o mar agitadíssimo e ondas alterosas, que varriam por completo o convés do patacho.
Assim estiveram lutando toda a noite, até que, tendo perdido o velame e os escaleres, o “Gouveia” naufragou cerca das 10 horas da noite de sábado, na praia de Paramos, sendo até ali acossado pela ventania e pelas ondas embravecidas. Antes que o navio se desfizesse completamente, como sucedeu pouco depois, a tripulação atirou-se à água com os cintos de salvação, nadando desesperadamente para a costa.
Só três tripulantes conseguiram salvar-se. Aos gritos de aflição que soltaram, acudiram vários pescadores da povoação ali perto, sendo então conduzidos para os seus casebres, onde lhes prestaram socorros.
Desses náufragos salvos só dois foram recolhidos pelos pescadores, pois um deles, de que colhemos as informações da forma como se deu o naufrágio, desorientado, fugiu, indo só parar na escola de tiro de Esmoriz, onde o recolheram exausto de fadiga da longa caminhada e ainda sobre dolorosa impressão do naufrágio e da morte, de que tão milagrosamente tinha escapado.
O capitão e os outros companheiros restantes não puderam, infelizmente, chegar à praia, sendo arrastados, ao que parece, pelas ondas para o mar alto, onde pereceram. Antes do patacho “Gouveia” ter dado à costa, os tripulantes dizem ter avistado o farol da Luz, na Foz, e as luzes da povoação de Espinho.
Logo que a notícia foi conhecida na cidade, seguiu para o local do naufrágio o sr. José Joaquim Gouveia, encontrando-se ali com os três tripulantes salvos, vindo depois todos no comboio para o Porto, onde chegaram ante-ontem, à tarde. Os náufragos estiveram ontem no Departamento Marítimo, a prestar declarações.
Os tripulantes que se julgam terem morrido, o que tudo, infelizmente, parece confirmar-se, são: Manuel da Rocha Deus, capitão, Miguel Caetano, Manuel Francisco do Nascimento, José dos Santos Bizarro, Manuel Simões Ré e Manuel Russo Loureiro. Salvaram-se, depois de penosos esforços e terem lutado desesperadamente contra a morte, os tripulantes António Lopes Rodrigues, Manuel Joaquim Rufino e Ramiro Nunes Ramisote.
A tripulação do patacho “Gouveia” constava de 11 homens, incluindo o seu capitão, tendo ficado um tripulante no Rio de Janeiro e em Lisboa outro. Segundo consta, já apareceu o cadáver de um dos tripulantes, que se chamava José dos Santos Bizarro. À costa também tem vindo dar diversos destroços do navio naufragado e restos da carga, que são guardados pela Guarda-Fiscal, vindos de Gaia para o local do sinistro. Apesar do tempo invernoso na praia de Paramos, juntou-se ali muita gente de Espinho e povoações próximas a ver os destroços do navio naufragado, que o mar arroja à costa.
O patacho “Gouveia” era um bom navio da praça do Porto, tinha uma lotação de 286 toneladas, tendo sido construído em 1902, em Saint Malo, França. Todo construído em madeira, o patacho era muito resistente. Estava seguro na Companhia de Seguros “Futuro”, do Porto.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 21 de Novembro de 1916)

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