sábado, 2 de fevereiro de 2013

História trágico-marítima (LXIII)


O encalhe do vapor português “Oevenum”
1ª Parte

Mais um caso de naufrágio, um pouco mais antigo, constatando-se de novo o perigo que resultava em navegar numa costa mal sinalizada, sempre que sucediam situações de bom tempo (ausência do ruído da ondulação junto às praias), nas noites de pouca ou nenhuma visibilidade, sempre que o litoral era acometido por exagerados mantos de nevoeiro.

O anúncio da empresa, publicado durante o mês de Abril de
1900, com a indicação da última viagem do vapor a Nova Iorque.

A história do naufrágio
Devido à cerração que havia no mar de madrugada (4 de Junho de 1900), o vapor “Oevenum”, pertencente à considerada casa comercial J.H. Andresen Sucessores, da praça do Porto, bateu, pela 1 hora, na pedra denominada «Mouro», próxima à praia de Angeiras, em Lavra, a pouca distância de Matosinhos.
Foi desde logo verificado que o vapor estava completamente perdido, porque o rombo era grande, ficando a popa bastante submergida e estando a proa levantada, na direcção leste-nordeste. Por esse rombo, que ficava à proa, metia o barco muita água. Houve no momento o natural pânico entre a tripulação, tanto mais que a densa névoa impedia de tomar medidas rápidas, tais como chamar socorros de terra, ou mesmo de quaisquer embarcações que por ventura singrassem por perto. O comandante, todavia, ordenou as providências da ocasião, fazendo arriar os escaleres para o caso de ser necessário abandonar totalmente o barco.
Às 6 horas e 45 minutos da manhã chegava à Associação Comercial do Porto o primeiro telegrama do sinistro, ocorrido à 1 hora da madrugada, e às 7 horas e 50 minutos chegava à bacia do porto de Leixões um barco de pescadores, levando o imediato do vapor, sr. Arnaldo Soares, que desde logo confirmou o encalhe, manifestando a opinião que o “Oevenum” estava completamente perdido, motivo pelo qual se encontrava ali pedindo socorro. A primeira notícia do naufrágio trouxeram-na uns pescadores de Lavra a pedido do comandante do vapor.
Em socorro dos tripulantes saiu logo o vaporzinho “Ligeiro”, rebocando uma catraia dos pilotos e um barco com gente destinada a prestar qualquer serviço. A esse tempo, porém, já a leste andavam com alguns dos tripulantes cinco escaleres do “Oevenum”. Só o comandante ficara a bordo com vários dos seus subordinados.
Eram cerca das 10 horas quando os cinco escaleres entraram em Leixões, conduzindo parte da tripulação, bagagens e diversos utensílios de bordo. Às 11 horas era dada a notícia que todos os tripulantes estavam salvos. O total destes era de 34.
O rebocador “Veloz” e o vapor “Tritão” seguiram também para o local do naufrágio, que dista uns trezentos metros de terra. O “Oevenum”, mercê da macieza do mar, ficou até ontem na posição primitiva, com a diferença apenas de que a popa se tinha submergido um pouco mais. Por isso, ontem, por uma das escotilhas da proa, que ficara em seco, puderam retirar algumas sacas de trigo e milho para barcaças, que eram rebocadas até Leixões pelo “Ligeiro”. Este trabalho tem sido infatigável e aturado, continuando até onde for possível.
O “Oevenum” era comandado pelo sr. Augusto da Costa e Silva, que fazia a sua primeira viagem neste navio. Era de 1.507 toneladas de registo e vinha de New York em 15 dias, com um importante carregamento de trigo e milho avaliado em 100:000$000 réis, que estão cobertos pelo seguro em várias Companhias estrangeiras. O vapor estava avaliado em 120:000$000 réis, achando-se metade desta importância segura em Companhias estrangeiras.
A outra metade tinha seguro na própria casa Andresen. O recém-empossado capitão sr. Augusto da Costa e Silva desempenhara por alguns anos o cargo de 2º piloto e imediato do vapor “Dona Maria”, pertencente à mesma empresa. O sr. Emílio Ferreira dos Santos, empregado da casa Andresen, contratou o salvamento do que for possível tirar de bordo. No local do sinistro compareceu o sr. João Andresen, bem como diverso pessoal da Capitania de Leixões e da Guarda-Fiscal, que desde logo tomou precauções para ser arrecadado o que vier à praia.
In (jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 5 de Junho de 1900)

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