quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

História trágico-marítima (LXII)


O encalhe do vapor espanhol “António Ferrer”

Muito pouco tempo depois de ter acontecido o naufrágio do navio grego “Athina”, conforme referido no relato anterior, um outro navio encalhava no mesmo local, igualmente vitimado por denso manto de nevoeiro.
A história do naufrágio
Viana do Castelo, 4 - Encalhou próximo de Castelo de Neiva o vapor espanhol “António Ferrer”. A tripulação e os passageiros estão salvos. O comandante, que está a bordo, pede um rebocador com material e bombas. O navio que esteve encalhado no banco de S. Bartolomeu safou e foi encalhar na praia. O vapor “António Ferrer” pertence à praça de Valencia, foi construído em 1882, tem cerca de 1.000 toneladas de registo e é actualmente propriedade da firma A. Ferrer Peret y Hermanos (*).
(In jornal “Comércio do Porto”, de 5 de Maio de 1917)
(*) Na realidade já não era propriedade deste armador, por ter sido adquirido alguns meses antes pela nova  Companhia Transmediterrânea, de Barcelona.

O “António Ferrer”
 1917 – 1918
 Armador: Companhia Transmediterrânea, Barcelona, Espanha

Foto de autor desconhecido
Imagem retirada do sítio «trasmeships.es»

Construtor: W. B. Thompson, Dundee, Escócia, 1882
ex “Goya”, Comp. de Navegação La Betica, Sevilha, 1882-1914
ex “Goya”, Comp. Marítima de Barcelona, 1914-1914
ex “António Ferrer”, Ferrer Peset Hermanos, Valencia, 1914-1917
Arqueação: Tab 975,00 tons - Tal 766,00 tons
Dimensões: Pp 64,16 mtrs - Boca 9,08 mtrs - Pontal 6,52 mtrs
Propulsão: W. B. Thompson, - 1:Cp - 2:Ci – 92 Nhp – 8,5 m/h
Equipagem: 24 tripulantes e 30 passageiros

Viana do Castelo, 4 de Maio - Por ordem do chefe do Departamento Marítimo do Norte seguiu de Leixões para o local do sinistro o rebocador “Lusitânia”, com pessoal e bombas, a fim de prestar os socorros pedidos e mais tarde seguiu um outro rebocador, estando o mar muito calmo.
Esposende, 4 de Maio - Na praia do Beijinho naufragou durante a noite o vapor espanhol “António Ferrer”, da praça de Valencia. Vinha de Cadiz e destinava-se a Vigo. É comandado pelo capitão Honorato Bonet e traz um carregamento com géneros diversos. Informações colhidas no local fazem constar que o vapor bateu nas pedras do Corveiro, junto do Belinho, em Esposende, por volta das 10 horas da noite, sendo rebocado por embarcações de pesca para a praia de Castelo de Neiva, limite do concelho de Viana do Castelo. A tripulação e os passageiros em trânsito salvaram-se todos. Os bombeiros voluntários locais, logo que tiveram conhecimento do sinistro seguiram para o local com o material respectivo, não sendo, porém, utilizados os seus serviços, dado o bom estado do mar e estarem já salvas todas as vidas.

Segue-se um aditamento com correção à notícia anterior:
Viana do Castelo, 4 de Maio - Pelas 11 horas da noite de ontem encalhou numas pedras, em frente à freguesia de Castelo de Neiva, deste concelho, ao sul da barra, o vapor espanhol “António Ferrer”, de 1.200 toneladas, da matrícula de Valencia. Vinha de Cadiz e dirigia-se a Vigo e outros portos, com vários géneros e 30 passageiros em trânsito de Montevideu e Buenos Aires. É capitão do vapor Honorato Bonet. A tripulação e passageiros, ao todo 54 pessoas, vieram para Viana do Castelo, hospedando-se no restaurante Miranda, em frente às Almas. O capitão conserva-se a bordo.
Trabalha-se no salvamento da carga e há esperanças de salvar o navio, para o que se espera um rebocador do Porto, que será auxiliado pelo “Mosquito”. O encalhe foi devido ao nevoeiro. Foi também participado que a lancha a gasolina, da Corporação dos Pilotos, conseguiu tirar de sobre as pedras o vapor “António Ferrer”, rebocando-o depois para a praia. Este serviço foi importantíssimo.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 5 de Maio de 1917)
Viana do Castelo, 6 de Maio - Vapor Encalhado - Continua encalhado na praia de Castelo de Neiva, ao sul de Viana do Castelo, o vapor espanhol “António Ferrer”. Ontem, à tarde, regressaram a Leixões os rebocadores “Douro” e “Lusitânia”, por não ter sido combinado nenhuma tentativa de salvamento com os rebocadores portugueses, dizendo aguardar a chegada de dois vapores salvadegos espanhóis para esse efeito.
Em frente à referida praia também esteve posicionado o vapor salvadego português “Cotolino”, que igualmente retirou. É opinião unânime  que se o mar se conservar bonançoso, o navio será posto a flutuar.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 7 de Maio de 1917)
Viana do Castelo, 7 de Maio - Na praia do Moinho do Bispo trabalham para ver se conseguem tirar o vapor “António Ferrer”. Para isso, estão fundeados próximo do mesmo dois rebocadores portugueses e um espanhol.
Nos armazéns da delegação aduaneira acham-se depositados oito sacos de farinha, 13 caixas com velas de estearina e outras miudezas, que foram arrojadas à praia, fazendo parte da carga do referido vapor.
Do porto de Leixões saíram ontem os rebocadores “Lusitânia” e “Mondego”, conduzindo a bordo bombas de grande pressão, para serviço de escoamento da água nos porões do vapor espanhol “António Ferrer”, que se encontra encalhado na praia de Castelo de Neiva, ao sul de Viana do Castelo.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 8 de Maio de 1917)
Viana do Castelo, 8 de Maio - Desencalhou e seguiu para Vigo o vapor “António Ferrer”, que teve de alijar muita carga ao mar. Estava tudo preparado para que o navio entrasse na doca do porto de Viana, onde estava previsto fazer os necessários reparos, mas o vapor a reboque seguiu viagem rumo a norte.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 9 de Maio de 1917)

Quadro de autor desconhecido com o vapor "Goya"
Museu Marítimo da Ria de Bilbao
Imagem retirada do sítio «trasmeships.es»

Depois da reparação realizada em Vigo, regressando ao serviço comercial, o “António Ferrer”, que foi um dos primeiros vapores adquiridos aquando da inauguração da recente companhia Transmediterrânea, não teve uma carreira feliz, porque simultaneamente correspondeu ao primeiro navio considerado perda total da empresa. Com efeito, o vapor naufragou na restinga da Punta dos Buxeirados, no Cabo Toriñana, situado na costa galega, a 23 de Março de 1918, durante o transporte de um lote completo de carvão, carregado em Avilés. Em função das circunstâncias em que o navio se encontrava, o capitão ordenou à tripulação o seu abandono, permitindo-lhes a chegada a salvamento sem dificuldade na costa de Muxia.

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