segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quebra-cabeças ( III )


O ex-voto do patacho “ Frederica “


Reservei para terminar esta primeira série de três ex-votos, que fazem parte do espólio guardado na Igreja da Paróquia de São Salvador de Ílhavo, um painel diferente dos anteriores, porque em vez de ilustrar uma vitimização por força de temporal, retrata o salvamento da tripulação, que num escaler abandona o navio prestes a ser vítima de naufrágio.
Há no caso deste navio duas histórias diferentes, que merecem atenção; 1º o navio propriamente dito e 2º, o capitão do mesmo, pessoa muito conhecida e estimada no meio marítimo, cujo nome é recordado muito para além da sua memória física.
O patacho “Frederica” era um navio com casco de ferro construído no estaleiro de Sheet Harbour, na Nova Escócia, Canadá, durante o ano de 1893. Foi inicialmente baptizado com o nome “Maggie M”, com o qual navegou até à virada do século. Em 1900 foi adquirido pelo sr. Augusto José de Carvalho, que o matriculou na praça do Porto. Deslocava 146 toneladas de arqueação bruta e o seu primeiro capitão foi o sr. F.F. Batata, de Viana do Castelo, até 1901.
De acordo com a lista de navios portugueses, o navio poderia ter alterado a matrícula para a praça de Lisboa, em 1902, após ter sido comprado pelo sr. Cipriano Mendes, situação que se me apresenta incorrecta, pois sou levado a admitir que o patacho conservou a matrícula no Porto.
Sem outras notas dignas de registo durante os dois anos seguintes, chegamos a 1904 e ao naufrágio representado no painel, por motivo de abalroamento com um casco submerso, quando o patacho “Frederica” se encontrava muito próximo do porto de Casablanca, tendo a tripulação chegado a salvamento por meio do escaler nele representado.
Gostaria agora de chamar a atenção, para a presença a bordo neste navio do muito apreciado capitão Manoel Mendes, entre os anos de 1902 a 1904, correspondendo a um dos seus primeiros embarques como oficial da marinha mercante, dando inicio a uma carreira que se prolongou até 1947, terminada no comando do lugre bacalhoeiro “Gaspar”, de Viana do Castelo.
A omissão do nome do capitão Mendes no ex-voto, também ele de naturalidade vianense, talvez explique essa falta em favor da equipagem, contudo pelo fervor religioso e apego ao Senhor Jesus São Salvador de Ílhavo, garante-nos convictamente a origem dos restantes tripulantes.

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