sexta-feira, 6 de abril de 2012

Ocorrência marítima - a avaria no vapor Surat


Navio abandonado
No registo das participações da barra, emanadas a partir da Foz, para a Associação Comercial do Porto, consta a seguinte participação: - «Tendo alguns capitães de navios verificado que se encontrava um navio abandonado a 18 milhas a oeste da barra do rio Douro, saiu ontem de madrugada o rebocador “Veloz”, a fim de procurar o mencionado navio. De tarde, porém, entrou a barra, sem nada ter encontrado».
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 13 de Abril de 1876)
Entretanto
O vapor inglês “Surat” (I), da companhia Peninsular & Oriental, que seguia de Southampton para Calcutá, transportando um valioso carregamento e 99 passageiros, foi encontrado pelo vapor da mesma nacionalidade “Vanguard”, por altura das Berlengas com o veio do hélice partido. Entrou ontem a reboque deste navio no rio Tejo.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 13 de Abril de 1876)

O vapor "Vanguard" que rebocou o "Surat" para Lisboa

Entrando no campo das coincidências, será que se trata do mesmo navio? Em caso afirmativo, como terá sido possível o resgate do navio próximo às Berlengas, partindo do pressuposto que o vapor estaria realmente a 18 milhas do barra do Porto?
Por não haver notícia de encalhe ou naufrágio, no espaço compreendido entre os referidos locais, é pois provável que o vapor “Surat” estivesse bem mais a norte do que teria sido inicialmente suposto, consumando-se assim o respectivo salvamento.
Todavia, analisando a questão por outro prisma, como se justifica a informação que dá o “Surat”, como abandonado, tratando-se de um navio misto para transporte de carga e passageiros, com uma tonelagem bruta a rondar as 2.578 toneladas?
E porque será que os navios que deram o alerta de abandono, não providenciaram a necessária identificação, apoio e assistência, plenamente justificada nestes casos?
O “Surat” era um vapor de longo curso, construído por C.A. Day & Co., de Northam, em Inglaterra, a 8 de Agosto de 1866. Foi depois vendido a um armador japonês, em 1894, que o rebatizou “Shinyu Maru”, por quem foi posto a operar até 1896, data da venda no Japão para ser demolido.
Numa situação de fácil resolução, relativamente ao vapor “Surat”, há ainda uma notícia que vem complementar as anteriores, como segue:
«Entrou ontem no porto de Lisboa o vapor “Austrália”, da companhia Peninsular & Oriental, que conduziu de Londres um novo veio do hélice para o vapor “Surat”, arribado há dias no Tejo e que vai levar daqui para a China a carga e os passageiros, enquanto o “Surat” permanece para efectuar a necessária reparação».
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 19 de Abril de 1876)
Contudo ficam ainda as perguntas em aberto, como tantas outras que o decorrer do tempo não ajuda a encontrar respostas. Por isso, só posso dizer, talvez sim ou talvez não!...

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