sexta-feira, 28 de março de 2014

História trágico-marítima (CXXXIII)


O naufrágio do vapor “Silva Gouveia“ (I)

Há já algum tempo ocorreu-me dar a conhecer alguns dos primeiros navios da frota da Companhia Sociedade Geral, aflorando muito ao de leve a informação relativa ao sinistro, que pôs fim à história comercial deste navio. Lembro agora o pequeno texto utilizado previamente, como segue:
Naufragou após encalhe na praia do Rosto, situada a cerca de 5 milhas do Cabo Torinana, no norte de Espanha, em 23.12.1927. A notícia do naufrágio informa que o navio se achava em perigo, devido a violento temporal, tendo lançado pedidos de socorro durante a noite. Acabaria por encalhar e afundar-se cerca da 1 hora e 45 minutos da manhã, na costa espanhola, a Sudoeste do Cabo Finisterra.

Retomo o assunto novamente, devido ao facto inesperado do casco do navio ter reaparecido, em resultado da violência dos últimos temporais. Porém antes de incluir uma das notícias publicada num jornal espanhol, obviamente com a devida vénia, fui ainda procurar saber o que consta nos jornais nacionais dessa época. O resultado revelou-se frustrante, porque não existem notícias com o retrato fiel da ocorrência, muito embora numa das edições confirma-se que a informação foi publicada, mas o jornal não se encontra disponível. Nesta conformidade, posso apenas valer-me dos textos encontrados, com o seguinte teor:

Afundou-se o vapor “Silva Gouveia”, não havendo pormenores
O vapor português “Silva Gouveia”, que se achava em perigo e que havia pedido socorro durante a noite, afundou-se pela 1 hora e 45 minutos da manhã, na costa espanhola, a Sudoeste do Cabo Finisterra. Não há por enquanto mais notícias.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Dezembro de 1927)

O encalhe do vapor “Silva Gouveia” – Mais pormenores
Por notícias hoje recebidas de Lisboa, sabe-se que o vapor "Silva Gouveia" continua encalhado próximo do Cabo Finisterra, tendo a sua tripulação desembarcado e encontrando-se no local, a fim de cooperar nos trabalhos de salvamento, o que terá lugar logo que o temporal amaine.
(In “Jornal de Notícias”, Domingo, 25 de Dezembro de 1927)

Foto do navio "Silva Gouveia"
Imagem da Photoship.Uk

Identificação do vapor “Silva Gouveia”, 1922–1927
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lda.
Nº Oficial: 388-E - Iic.: H.S.G.O. - Registo: Lisboa
Construtor: W. Harkess & Son, Ltd., M’brough, Inglat., 10-1906
ex “Faithful”, F.H. Powell & Co., Liverpool, Inglat., 1906-1914
ex “Monmouth Coast”, Miller S/s Co., Liverpool, 1914-1922
Arqueação: Tab 1.204,55 tons - Tal 755,49 tons
Dimensões: Pp 64,50 mts - Boca 10,16 mts - Pontal 4,22 mts
Propulsão: Rich., Westgarth, 1905 - 1:Te - 149 Nhp - 11 m/h
Equipagem: 26 tripulantes

Foto 1 do casco do vapor "Silva Gouveia"
Publicada no jornal "La Voz de Galícia"

Emerge em Finisterra um vapor mercante português,
afundado em 1927. - O “Silva Gouveia”, de 64,5 metros
de comprimento, estava carregado com açúcar
Os temporais das últimas semanas não só trouxeram desgraça à Costa da Morte. A extensa deslocação de areia realizada pelo mar deixou a descoberto na praia do “Rosto”, em Finisterra, um vapor português que encalhou nesta zona, também por motivo de temporal, em 23 de Dezembro de 1927.
Ainda que o que resta do casco é basicamente parte da sua estrutura metálica, podem ser observados as traves onde se fixavam as peças na época, permitindo perceber que se tratava de um navio imponente com 64,5 metros de comprimento por 10,16 metros de boca. Na sua maior parte foi desfeito nesse próprio lugar e o que está conservado é o que escapou ao tempo, por encontrar-se há muito coberto pela areia.
O “Silva Gouveia” foi fabricado em 1906 nos estaleiros de Harkess W. & Sons de Middlesbrough (Grã Bretanha) e depois de ter vários proprietários ingleses passou para a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, de Lisboa.

Foto 2 do casco do vapor "Silva Gouveia"
Publicada no jornal "La Voz de Galícia"

Segundo a documentação recolhida pelo finisterrense José López Redonda, Pepe de Olegario, a tripulação do navio de 1.200 toneladas salvou-se por completo, todavia a carga de açúcar que transportava, da qual se encarregou a companhia seguradora, ficou parcialmente depositada na fábrica de Cerdeiras de Sardiñeiro, que viria a dar origem à actual Industrias Cerdeimar instalada en Camariñas. Teve de ser levada até ali em carros de tracção animal e «por cada viagem foram pagas 10 pesetas», explica López Redonda.
A presença do casco, que segundo alguns moradores locais já tinha sido visto em várias ocasiões anteriormente, sempre por força dos temporais, atraiu ao areal uma importante quantidade de curiosos nos últimos dias, e entre eles o Presidente da Câmara de Finisterra, José Manuel Traba, que também andou a procurar informação, para determinar qual dos navios afundados na zona se tratava.
(In jornal “La Voz de Galícia”, Domingo, 9 de Março de 2014)

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