quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

História trágico-marítima (CI)


O naufrágio do patacho "Mercury", em Leça da Palmeira

Sinistro marítimo
Ontem de manhã (14.12.1869) apareceu encalhado ao norte da capela da Boa Nova, em Leça da Palmeira, próximo a Matosinhos, um patacho bacalhoeiro. Era o patacho inglês “Mercury” que vinha de São João da Terra Nova, carregado de bacalhau, consignado aos srs. Noble & Murat.
Tendo garrado com o nevoeiro e calma, o “Mercury” encalhara no sítio acima referido, pelas 2 horas menos um quarto da noite. Quando o vigia da proa deu o sinal de terra, ainda quiseram ver se podiam manobrar para safar o navio, porém nada puderam fazer porque o patacho estava já entre as pedras. A tripulação, que era composta de 8 homens, pôde salvar-se toda por meio de um cabo de vai-vem.
Logo que aqui foi sabida a notícia partiram para o local do naufrágio representantes da casa a quem vinha consignado o navio, vários empregados da alfândega e o patrão-mor da capitania do porto. A tripulação veio ontem para o Porto, conservando-se o capitão no sítio do sinistro.
Ontem de tarde principiaram os trabalhos para ver se podem salvar o massame, a carga e os objectos pertencentes à tripulação, que pouco pôde trazer consigo. Há todas as esperanças disso, porque, segundo consta, o navio já estava ontem de tarde em seco na areia, apesar de ter aberto água. Causava dolorosa impressão o aspecto das vítimas deste sinistro.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 15 de Dezembro 1869)

Desenho de um patacho, sem correspondência ao texto

Identificação provável do patacho “Mercury”
Armador: J. Rushton, Liverpool, Nova Scotia, Canadá
Construtor: Desconhecido, Prince Edward Island, 1854
Arqueação: Tab 184,00 tons
Dimensões: Pp 33,38 mts - Boca 6,80 mts - Pontal 3,66 mtrs
Propulsão: À vela
Patacho “Mercury”
O patacho inglês “Mercury”, que há dias naufragou nas proximidades da praia da Boa Nova ao norte de Matosinhos, foi completamente despedaçado pelo mar na noite de quarta para quinta-feira.
Ainda assim pôde ser salvo o velame, as correntes e 50 quintais de bacalhau, muito avariado, que foi distribuído pelos trabalhadores.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Dezembro 1869)

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