A explosão a bordo do vapor "Reinbeck"
Sinistro marítimo
Acerca do sinistro ocorrido a bordo do vapor alemão “Reinbeck”, em 12 de Abril, são já conhecidos os seguintes pormenores: o vapor viajava de Newport para Constantinopla, transportando um carregamento de carvão à ordem. Mede 977 metros cúbicos e é novo, pois foi construído apenas há dois meses, sendo esta a primeira viagem que realizava.
Deu-se uma explosão a bordo há dois dias, com a seguinte origem: O primeiro piloto desceu ao paiol dos mantimentos, que é situado na popa e por baixo do qual ficava um dos porões, cheio de carvão até à escotilha. Por um motivo qualquer acendera um fosforo, resultando de imediato uma explosão no «grisou», que costuma desenvolver-se no carvão, e que penetrando pelas fendas se espalhara pelo paiol.
O infeliz piloto morreu instantaneamente e dois marinheiros que estavam no convés ficaram feridos, um gravemente no rosto e nas mãos, e o outro levemente contuso nos braços. Por efeito da explosão ficaram destruídos, voando em estilhas, os paióis da popa e o convés, bem como os mantimentos, havendo igualmente um rombo no costado acima da linha de flutuação, que alagou logo o navio.
A tripulação correu pressurosa a preparar a bomba, que, apesar de movida a vapor, não conseguia esgotar a água que com o movimento das vagas entrava em grandes quantidades, fazendo demandar o navio cerca de 21 pés. O incêndio provocado pela explosão, felizmente, pode ser debelado.
Foi nesta tristíssima situação que o vapor navegou pelo espaço de 46 horas até à barra do rio Douro, onde encalhou ontem pelas 6 horas da manhã no banco do Cabedelo, colhendo pouco depois a bandeira em sinal de socorro, que lhe foi prontamente fornecido por um dos barcos salva-vidas.
Partiu também para bordo uma catraia, onde embarcaram o capitão e os dois marinheiros feridos. O que apresentava ferimentos mais leves recebeu o necessário curativo na Foz, voltando mais tarde para bordo; o outro infeliz deu entrada no hospital do salva-vidas, e horas depois, acompanhado pelo capitão, foi conduzido ao hospital da Misericórdia, onde se acha para ser tratado.
Como o vapor não tinha consignatário no Porto, o capitão entregou a consignação ao sr. J.H. Andresen, e em seguida contratou o salvamento do vapor com os srs. José de Barros Freire, administrador da Companhia de Reboques Fluviais, e Costa Basto, gerente da parceria do vapor “Victoria”, pela quantia de 700 libras esterlinas. Partiram então os rebocadores “Veloz” e “Victoria” para o lugar do sinistro, mas os seus esforços durante muitas horas não produziram resultado, chegando até cada um destes dois vapores a partir uma amarreta.
Em vista disto, resolveram alijar carga ao mar para aliviar o “Reinbeck” e esperar pela maré da tarde para fazerem novas tentativas com os rebocadores. Efectivamente, foram então mais felizes, conseguindo safar o vapor às 4 horas e meia da tarde, rebocando-o para o norte, onde o deixaram fundeado, em frente a Carreiros, não sendo possível recolhe-lo para dentro da barra, em razão do navio demandar ainda 20 pés de água. Continuaram, portanto, a alijar mais carvão, enquanto que o “Victoria”, entrando a barra, saía daí a pouco em direcção ao vapor, rebocando uma catraia com duas excelentes bombas do sistema «Letestu» (estanca-rios), que o sr. Andresen mandara buscar à Companhia Aliança (Fundição de Massarelos).
Às 6 horas da tarde o “Victoria” entrava novamente, e por ordem do sr. Andresen e do capitão veio até ao sítio dos banhos, a fim de rebocar duas barcas, para nelas se recolher durante a noite a descarga que pudesse ser feita. Os trabalhadores, a bordo, porém, parece que estavam bastante fatigados, e como a descarga por este modo se tornava difícil, resolveram que ela tivesse lugar hoje de manhã, partindo então para ali as referidas barcas.
Há toda a esperança de que com o auxílio das bombas e aliviando-se o vapor um pouco mais de carga, ele possa entrar na maré de hoje. O “Veloz” entrou também a barra às 6 horas e meia, fundeando no ancoradouro. Segundo consta, o cadáver do primeiro piloto veio ontem para terra num caixão.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 13 de Abril de 1883)
Deu-se uma explosão a bordo há dois dias, com a seguinte origem: O primeiro piloto desceu ao paiol dos mantimentos, que é situado na popa e por baixo do qual ficava um dos porões, cheio de carvão até à escotilha. Por um motivo qualquer acendera um fosforo, resultando de imediato uma explosão no «grisou», que costuma desenvolver-se no carvão, e que penetrando pelas fendas se espalhara pelo paiol.
O infeliz piloto morreu instantaneamente e dois marinheiros que estavam no convés ficaram feridos, um gravemente no rosto e nas mãos, e o outro levemente contuso nos braços. Por efeito da explosão ficaram destruídos, voando em estilhas, os paióis da popa e o convés, bem como os mantimentos, havendo igualmente um rombo no costado acima da linha de flutuação, que alagou logo o navio.
A tripulação correu pressurosa a preparar a bomba, que, apesar de movida a vapor, não conseguia esgotar a água que com o movimento das vagas entrava em grandes quantidades, fazendo demandar o navio cerca de 21 pés. O incêndio provocado pela explosão, felizmente, pode ser debelado.
Foi nesta tristíssima situação que o vapor navegou pelo espaço de 46 horas até à barra do rio Douro, onde encalhou ontem pelas 6 horas da manhã no banco do Cabedelo, colhendo pouco depois a bandeira em sinal de socorro, que lhe foi prontamente fornecido por um dos barcos salva-vidas.
Partiu também para bordo uma catraia, onde embarcaram o capitão e os dois marinheiros feridos. O que apresentava ferimentos mais leves recebeu o necessário curativo na Foz, voltando mais tarde para bordo; o outro infeliz deu entrada no hospital do salva-vidas, e horas depois, acompanhado pelo capitão, foi conduzido ao hospital da Misericórdia, onde se acha para ser tratado.
Como o vapor não tinha consignatário no Porto, o capitão entregou a consignação ao sr. J.H. Andresen, e em seguida contratou o salvamento do vapor com os srs. José de Barros Freire, administrador da Companhia de Reboques Fluviais, e Costa Basto, gerente da parceria do vapor “Victoria”, pela quantia de 700 libras esterlinas. Partiram então os rebocadores “Veloz” e “Victoria” para o lugar do sinistro, mas os seus esforços durante muitas horas não produziram resultado, chegando até cada um destes dois vapores a partir uma amarreta.
Em vista disto, resolveram alijar carga ao mar para aliviar o “Reinbeck” e esperar pela maré da tarde para fazerem novas tentativas com os rebocadores. Efectivamente, foram então mais felizes, conseguindo safar o vapor às 4 horas e meia da tarde, rebocando-o para o norte, onde o deixaram fundeado, em frente a Carreiros, não sendo possível recolhe-lo para dentro da barra, em razão do navio demandar ainda 20 pés de água. Continuaram, portanto, a alijar mais carvão, enquanto que o “Victoria”, entrando a barra, saía daí a pouco em direcção ao vapor, rebocando uma catraia com duas excelentes bombas do sistema «Letestu» (estanca-rios), que o sr. Andresen mandara buscar à Companhia Aliança (Fundição de Massarelos).
Às 6 horas da tarde o “Victoria” entrava novamente, e por ordem do sr. Andresen e do capitão veio até ao sítio dos banhos, a fim de rebocar duas barcas, para nelas se recolher durante a noite a descarga que pudesse ser feita. Os trabalhadores, a bordo, porém, parece que estavam bastante fatigados, e como a descarga por este modo se tornava difícil, resolveram que ela tivesse lugar hoje de manhã, partindo então para ali as referidas barcas.
Há toda a esperança de que com o auxílio das bombas e aliviando-se o vapor um pouco mais de carga, ele possa entrar na maré de hoje. O “Veloz” entrou também a barra às 6 horas e meia, fundeando no ancoradouro. Segundo consta, o cadáver do primeiro piloto veio ontem para terra num caixão.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 13 de Abril de 1883)
Identificação do navio
Vapor alemão “Reinbeck” - 1883-1897
Armador: Lange Bros, Hamburgo
Construtor: Stettiner Vulkan, Stettin, 1883
Arqueação: Tab 1.468,00 tons
O navio afundou-se por motivo de colisão ao largo dos Dardanelles, em 30 de Junho de 1897.
Armador: Lange Bros, Hamburgo
Construtor: Stettiner Vulkan, Stettin, 1883
Arqueação: Tab 1.468,00 tons
O navio afundou-se por motivo de colisão ao largo dos Dardanelles, em 30 de Junho de 1897.
O vapor “Reinbeck”
Acha-se já ancorado no rio Douro, onde fundeou ontem pelas 7 horas da tarde, o vapor alemão “Reinbeck” que ante-ontem de manhã encalhou no banco do Cabedelo. Durante a noite de ante-ontem para ontem, um grande número de trabalhadores que estavam a bordo ocuparam-se no esgoto do vapor com as duas bombas do sistema «Letestu» enviadas pelo gerente da Companhia Aliança, e com a bomba de bordo a trabalhar a vapor.
Ontem de manhã, reconhecida a impossibilidade de levar a bordo barcas para a descarga, a fim de o vapor ser aliviado, que a esse tempo ainda demandava 19 pés de água, decidiram-se por alijar carga ao mar, tanta quanta se tornasse necessária para que o vapor pudesse entrar a barra. Ocuparam-se, pois, o dia nesta faina, podendo calcular-se em mais de 500 toneladas a quantidade de carvão que foi lançada ao mar.
Os rebocadores “Veloz” e “Victoria” conservaram-se durante o dia na Cantareira, indo várias vezes a bordo do “Reinbeck” levar e receber ordens. Pouco depois das 4 horas saiu o “Victoria” para verificar a água que o vapor demandava, e voltou à Cantareira às 4 horas e cinquenta minutos, trazendo a notícia que o navio estava em cerca de 17 pés. Em vista disto os rebocadores saíram novamente com ordem de conduzir o vapor para dentro da barra; e às 6 horas e um quarto entrava finalmente na barra do rio, rebocado pelo “Veloz”, vindo um pouco atrás o “Victoria”, para prestar qualquer auxílio que porventura fosse necessário.
O reboque dado ao “Reinbeck” pelo “Veloz” serviu-lhe de poderoso auxílio quando o vapor entrava o canal da barra, pois que se não fosse aquele rebocador, o “Reinbeck”, em razão do seu grande comprimento, não podia dar a volta tão rápida como se tornava necessário, e infalivelmente caíria sobre as pedras, de onde seria difícil arrancá-lo. Felizmente o “Veloz” dando grande força à máquina para esticar a amarreta, e encostando ao sul o mais que lhe foi possível, obrigou o vapor a dar a volta rapidamente, seguindo depois sem novidade.
O “Reinbeck” está seguro na Reunião de Seguradores de Hamburgo, de que é comissário de avarias no Porto o sr. J.W. Burmester, em quantia superior a 20.000 libras esterlinas. A carga não se sabe por ora onde estava segura.
Hoje o casco do navio deve ser vistoriado, para se avaliarem as avarias. Segundo consta, o resto da carga será vendida no Porto, seguindo o vapor em lastro, depois de receber os reparos indispensáveis.
O cadáver do desditoso piloto do vapor, falecido por efeito da explosão, foi dado ontem à sepultura no cemitério protestante.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 14 de Abril de 1883)
Ontem de manhã, reconhecida a impossibilidade de levar a bordo barcas para a descarga, a fim de o vapor ser aliviado, que a esse tempo ainda demandava 19 pés de água, decidiram-se por alijar carga ao mar, tanta quanta se tornasse necessária para que o vapor pudesse entrar a barra. Ocuparam-se, pois, o dia nesta faina, podendo calcular-se em mais de 500 toneladas a quantidade de carvão que foi lançada ao mar.
Os rebocadores “Veloz” e “Victoria” conservaram-se durante o dia na Cantareira, indo várias vezes a bordo do “Reinbeck” levar e receber ordens. Pouco depois das 4 horas saiu o “Victoria” para verificar a água que o vapor demandava, e voltou à Cantareira às 4 horas e cinquenta minutos, trazendo a notícia que o navio estava em cerca de 17 pés. Em vista disto os rebocadores saíram novamente com ordem de conduzir o vapor para dentro da barra; e às 6 horas e um quarto entrava finalmente na barra do rio, rebocado pelo “Veloz”, vindo um pouco atrás o “Victoria”, para prestar qualquer auxílio que porventura fosse necessário.
O reboque dado ao “Reinbeck” pelo “Veloz” serviu-lhe de poderoso auxílio quando o vapor entrava o canal da barra, pois que se não fosse aquele rebocador, o “Reinbeck”, em razão do seu grande comprimento, não podia dar a volta tão rápida como se tornava necessário, e infalivelmente caíria sobre as pedras, de onde seria difícil arrancá-lo. Felizmente o “Veloz” dando grande força à máquina para esticar a amarreta, e encostando ao sul o mais que lhe foi possível, obrigou o vapor a dar a volta rapidamente, seguindo depois sem novidade.
O “Reinbeck” está seguro na Reunião de Seguradores de Hamburgo, de que é comissário de avarias no Porto o sr. J.W. Burmester, em quantia superior a 20.000 libras esterlinas. A carga não se sabe por ora onde estava segura.
Hoje o casco do navio deve ser vistoriado, para se avaliarem as avarias. Segundo consta, o resto da carga será vendida no Porto, seguindo o vapor em lastro, depois de receber os reparos indispensáveis.
O cadáver do desditoso piloto do vapor, falecido por efeito da explosão, foi dado ontem à sepultura no cemitério protestante.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 14 de Abril de 1883)
Sempre a pesquisar. Continuação de boas pesquisas.
ResponderEliminarMartins