sábado, 23 de novembro de 2013

História trágico-marítima (XCI)


O naufrágio do vapor "Duque do Porto"


Vapor “Duque do Porto”
Não é conhecido até esta hora (meio dia) qualquer pormenor sobre o naufrágio do vapor “Duque do Porto”, nas alturas de Peniche. Esperava-se que através da correspondência vinda da capital haveria algumas informações sobre tão lamentável acontecimento, mas como estão em falta nada há a acrescentar.
Procura-se indagar detalhes do sinistro pela cidade, porém, algumas pessoas que receberam cartas de Lisboa, dizem que elas ainda nada adiantam. É pois provável que na capital à saída do correio também ainda não houvesse pormenores sobre o naufrágio, que teve lugar na manhã desta terça-feira.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 28 de Julho de 1859)

Vapor “Duque do Porto”
Lisboa, 27 – Perdeu-se o vapor “Duque do Porto”. Até esta hora, 3 da tarde, não consta na agência mais do que o seguinte:
Uma parte telegráfica dirigida da estação das Caldas da Rainha ao director da alfândega grande, recebida ontem à tarde, noticia a perda do referido navio, acontecida no mesmo dia de ontem, pelas 6 horas da manhã, próximo a Peniche.
Um ofício ao inspector do Arsenal de Marinha, confirma aquela notícia, acrescentando que apenas perecera um moço. Os demais tripulantes e todos os passageiros salvaram-se, havendo esperança de que também se salve a carga e uma grande parte dos objectos do navio, em consequência do sinistro ter acontecido perto da praia e o mar estar bom.
Esperam-se hoje mais informações minuciosas, sendo para admirar que até esta hora não tenham chegado, quando o sinistro se deu a tão pequena distancia!
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 29 de Julho de 1859)

Vapor “Duque do Porto”
Ontem à noite foi recebida na cidade uma participação telegráfica do capitão do porto de Peniche, sobre o naufrágio do vapor “Duque do Porto”, na qual diz que aquele navio encalhara ali em cima de umas pedras, mas como em seguida a essas pedras havia uma praia, esperavam poder salvar a carga e todos os utensílios do vapor.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 29 de Julho de 1859)

Vapor “Duque do Porto”
Consta que o vapor “Duque do Porto” não encalhara por acaso, mas que a isso fôra obrigado por necessidade, porque começando nas alturas de Peniche a fazer água na proa, em tal quantidade que foi reconhecida a impossibilidade de esgotá-la com as bombas, pelo que resolveram encalhá-lo próximo daquele porto, salvando-se todos os passageiros e a tripulação, e só morrera um moço por se ter lançado intempestivamente ao mar. No acto da varação, partiu-se o casco e por isso este não poderá ser salvo. Há já notícia de terem salvado parte da carga, mas bastante avariada.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 30 de Julho de 1859)

Post-scriptum
Até esta hora (5 da tarde) não chegou à agência do “Duque do Porto” nenhuma notícia além do que foi anteriormente transmitido. Parece incrível, mas é verdade, o capitão do vapor ainda não fez participação alguma aos srs. Chambica & Gonçalves.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 30 de Julho de 1859)

Vapor “Duque do Porto”
Já há hoje alguns pormenores acerca do naufrágio do vapor “Duque do Porto”, que passamos a informar, segundo uma carta que foi lida:
O vapor navegava com a proa a S.S.O. (leia-se sul-sudoeste) estando um nevoeiro fortíssimo, e quando calculavam que já estivessem fora das Berlengas, foi visto pela proa a ponta mais saída de Peniche. O capitão julgando que era o Farilhão, que é semelhante, mandou orçar, mas vendo o mar a rebentar pela proa, mandou logo recuar. Nesta ocasião o vapor foi de encontro a uma pedra que estava no meio da enseada, e quebrou-se-lhe o cadastre, a quilha e a popa; perdeu o leme e a máquina parou ficando entalado o hélice.
Os marinheiros saltaram no salva-vidas e puseram-se em terra, sem tratarem da salvação dos passageiros, o que sendo verdade, é muito censurável. Com este procedimento contrasta o do capitão, piloto e dois engenheiros que se portaram duma maneira condigna conservando-se a bordo até que os passageiros fossem salvos, e ao meio-dia todos estavam em terra, à excepção de um que pereceu neste naufrágio. O sr. major João José Barreto França ficou maltratado.
O vapor ficou entalado entre grandes pedras enchendo-se de água na preia-mar. Diz a referida carta que dificilmente poderão salvar o casco, não obstante todos os esforços que tem sido feitos para isso. Consta que parte da carga já chegara a Lisboa.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda, 1 de Agosto de 1859)

Vapor “Duque do Porto”
Chegou a notícia de ter sido recebida ontem a participação telegráfica, de que o mar desfizera o vapor “Duque do Porto”, ficando assim destruídas algumas esperanças que ainda havia de se salvar o casco.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 2 de Agosto de 1859)

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