segunda-feira, 23 de setembro de 2013

História trágico-marítima (LXXV)


O naufrágio do iate “Dourado”
Não consegui até à data encontrar documentação relativa à construção deste navio, tanto no país como nos registos do Lloyd’s, porque numa primeira análise sustenta-se a possibilidade de poder tratar-se de um iate de pequena tonelagem e reduzidas dimensões. Numa outra notícia encontrada referente ao naufrágio, constata-se que o mestre do navio dava pelo nome José Tavares da Silva e que o sinistro ocorreu pelas 3 horas da madrugada.

Naufrágios
A tempestade de quarta (8) e quinta-feira (9) deve ter produzido grandes sinistros no mar. Além do iate “Dourado” que na noite de 8 para 9 naufragou em frente da barra de Vila do Conde, havendo a lamentar a perda de cinco vidas, entre as quais a do capitão, há já conhecimento de outro naufrágio de mais um navio português na costa da Galiza.
Foi este o do palhabote “Francisco 1º”, pertencente à praça de Caminha, o qual seguia viagem de Gibraltar para Inglaterra, com um carregamento de fava. Uma parte telegráfica recebida de Vigo informa que este navio naufragou no dia 9 a 6 milhas a Oeste das Sisargas. Felizmente pode ser salva a tripulação, que se acha na Corunha.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 11 de Maio de 1861)

O naufrágio do iate “Dourado”
Vila do Conde, 12 – Não tinha havido até agora, a possibilidade de narrar as circunstâncias da causa que originou a perda deste iate, devido às inesperadas condições de mau tempo. Na procura de informações, foram obtidos alguns pormenores a esse respeito. O iate tendo chegado à barra na tarde do dia 8, não pudera entrar por haver já bastante água de vazante, tendo fundeado ali para o fazer no dia seguinte.
Pouco depois do iate estar fundeado, principiou uma trovoada, a qual se foi fazendo mais forte, sendo pelas 10 horas da noite acompanhada de fortes tufões de vento. Com esta tormenta começou o iate a trabalhar bastante sobre o ferro que tinha pela proa, cuja corrente, não conseguindo resistir à impetuosidade do vento e das ondas, rebentou. Esta foi logo substituída por outra, que não tardou muito em ter igual sorte. Acto contínuo largaram o pano, porém o iate, não obedecendo ao governo, foi cair sobre a pedra “Rendufe” na qual, depois de ter batido por algum tempo, a cavalgou, para ir cair sobre a pedra “Cavalo”, onde se desfez.
Às cinco horas da manhã foram vistos por uma sentinela do castelo, os dois náufragos agarrados aos paus de um dos mastros, lutando com o mar; a sentinela correu a dar parte disto ao piloto-mor, que o mais depressa possível embarcou com alguma gente numa catraia, e, para lá se dirigindo, pode recolher aqueles dois infelizes, que estavam prestes a sofrer a mesma sorte dos seus companheiros. A tripulação, à excepção do capitão e de um marinheiro, era de Vila do Conde. O iate estava matriculado em Setúbal e vinha dali carregado com sal e arroz.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 14 de Maio de 1861)

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