segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

História trágico-marítima (LXV)


O naufrágio do vapor “ Ambaca “

Tendo por princípio o proverbio que diz que «nem tudo o que reluz é ouro», acabamos por verificar que muito provavelmente este navio não naufragou por motivo de torpedeamento, no dia 23 de Dezembro de 1917, como referem todos os registos oficiais (Lloyd’s incluído), porque não foi encontrado nos relatórios dos submarinos entretanto averiguados, qualquer notícia de ataque ao navio em questão, na data e local onde se deu o naufrágio.
Constata-se por esse facto, em clara oposição às declarações dos oficiais do navio, uma segunda teoria avalizada por testemunhas que se encontravam próximo ao local do sinistro, que o vapor bateu com violência em fundo rochoso, eventualmente ignorado na cartografia, a 3 milhas e meia da costa, rachando-se a ré e consequentemente abrindo água. O facto testemunhado do navio ter entrado por terra dentro a considerável velocidade, pode perfeitamente imaginar-se da preocupação em salvar o navio e a carga, ao contrário de se supor que estivesse a fugir dum ataque inimigo, ainda que tal pudesse ter acontecido.
Recuperamos as notícias da época, como segue:

Na Espanha – A guerra submarina
Vigo, 26 – Da Corunha dão conta do desembarque de 57 homens dos 64 que compunham a tripulação do vapor português “Ambaca”, que parece ter sido torpedeado e que ia de Lisboa para Bordéus. Para Corcubion foram 52 náufragos, cinco deles feridos. Foram recebidos pelo cônsul português. Falta um bote com sete homens. Corunha, 26 – O torpedeamento do vapor português “Ambaca”, foi feito sem aviso prévio.
(In jornal “Comércio do Porto”, Quinta-feira, 27.12.1917)
O torpedeamento do “Ambaca”
Os tripulantes do vapor “Ambaca”, que ainda não apareceram são: Roberto Palety, 3º piloto; Álvaro Vieira dos Santos Silva, telegrafista; Tibúrcio José Barbosa, fogueiro; António dos Santos, também fogueiro; Salvador da Silva, despenseiro; e os criados António Jacinto Serpa e Sebastião Tomé.
(In jornal “Comércio do Porto”, Sexta-feira, 28.12.1917)

Vapor “ Ambaca “
1889 – 1917
Empresa Nacional de Navegação, Lisboa

Imagem do vapor "Ambaca" - Postal da Companhia

Nº Oficial: 455 - Iic.: H.J.W.C. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Earle’s Shipbuilding & Engineering Co. Ltd.,
(C.& W. Earle), Kingston-upon-Hull, Junho de 1889
Arqueação: Tab 2.868,07 tons - Tal 1.788,20 tons
Dimensões: Pp 103,40 mt - Boca 12,00 mts - Pontal 5,70 mts
Propulsão: Earle’s, Hull - 1:Te - 3:Ci - 447 Nhp - 13 m/h
Equipagem: 64 tripulantes

Sequência das informações obtidas relativamente ao naufrágio deste vapor, no dia 23 de Dezembro de 1917, pelas 5 horas da manhã, ocorrido na posição 43º06’N 9º18’W, i.e. 3,5 milhas a Sudoeste do Cabo Torinhana.
- No decorrer do dia 25 de Dezembro o Cônsul de Portugal na Corunha oficializava a participação do naufrágio do vapor “Ambaca”, como tendo acontecido na véspera, por motivo de torpedeamento, 3 milhas a Norte do Cabo Torinhana, quando o vapor se encontrava em viagem desde Lisboa, seguindo com destino ao porto de Bordéus. Relativamente à tripulação, dava conhecimento que 52 homens tinham chegado ao porto de Corcubion, 5 homens encontravam-se no Cabo Torinhana e que havia ainda 7 homens desaparecidos.
- Devido à localização onde se deu o naufrágio, a Secretaria de Estado para as Forças Armadas, no dia 29 seguinte, questionava as autoridades locais, se o ataque a que o navio tinha sido sujeito, teve ou não lugar dentro das águas territoriais espanholas.
- Este pedido de informação foi clarificado no dia 26 de Dezembro, através do respectivo protesto de mar elaborado pelo capitão do vapor “Ambaca”, onde faz constar que às 5 horas e 30 minutos GMT, encontrando-se a navegar a cerca de 1 milha distante das águas territoriais espanholas, foi observado pelo lado de estibordo a mais ou menos 1 milha, um pequeno objecto que se assemelhava ao periscópio de um submarino.
Que o navio se encontrava na posição 43º02’30”N 9º22’30”W, quando foi sentido um choque violento por estibordo, no espaço compreendido pelo porão nº 2, concluindo-se que esse choque só poderia ter sido causado por um torpedo, pelo que foram dadas ordens ao telegrafista no sentido de enviar sinais de socorro, enquanto o capitão fazia igualmente pedidos de ajuda apitando a sirene de bordo incessantemente, altura em que manda alterar o rumo do navio em direcção a terra, entrando em águas espanholas para ter o vapor protegido de outros eventuais ataques.
- Numa carta posterior datada de 16 de Janeiro de 1918, com origem em Gibraltar, da responsabilidade de um dos peritos que investigaram o encalhe do navio, que levaria à sua total destruição, é confirmado que o capitão do vapor “Ambaca” apresentou uma declaração à autoridade portuária de Corcubion, tendo igualmente apresentado o respectivo protesto de mar no Consulado Português da mesma localidade, sob o pretexto do vapor ter sido torpedeado por um submarino não identificado.
Porém, diversas pessoas em terra que viram o navio disseram que o vapor navegou para terra a toda a velocidade, como se a tripulação estivesse a tentar escapar de qualquer perigo. Disseram também que há vários escolhos a cerca de 3 milhas e meia de terra, nesse local, e é quase certo que o vapor bateu neles com violência, porque de imediato partiu parte da ré e não foi visto nem ouvida qualquer explosão.
Por esses motivos o perito nomeado para verificar as causas do naufrágio, foi de opinião, ficando plenamente convencido que o vapor não foi torpedeado, muito embora o capitão do navio tenha efectuado declarações nesse sentido, para que não fosse comprometida a sua responsabilidade no acidente e para que a empresa armadora pudesse ser ressarcida da perda do navio, apelando à indemnização do seguro. Lamenta todavia, que em resultado do sinistro 7 tripulantes tenham perdido a vida.

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