Prós e contras
3ª Parte
O lugre "Hortense", de Lisboa
Outro dos navios presentes na campanha de 1930
Depois dos primeiros episódios em que arriscamos clarificar os pontos divergentes, relativamente à crise instalada na pesca longínqua, já no início de Fevereiro há um agravar do conflito por parte dos armadores, face à intransigente indisponibilidade em aceitar os aumentos dos salários, percentagens e adiantamentos de uso comum, entretanto propostos, que quase anularam a campanha desse ano.
A firma Testa & Cunhas, Lda., uma das mais importantes de Aveiro, esteve na vanguarda da decisão para suspender as negociações com os pescadores. Esta posição foi então seguida pelos outros armadores, comungando da ideia de manter os navios amarrados na ria, porque a ultima safra causou a quase todas as empresas graves prejuízos, não podendo elas, nestas circunstâncias, dispor das quantias necessárias para acudir a todas as eventualidades, tais como a incerteza de poder acontecer uma nova campanha igualmente ruinosa.
Mais grave ainda, o bacalhau não estava a sair dos armazéns e a ser distribuído no mercado ao ritmo desejado, por ser pouco e obviamente pela impossibilidade de ter uma comercialização a preços convidativos. Afigurava-se uma crise violenta, com perdas significativas para o país e armadores, que afectaria de igual modo os pescadores, que ficavam sem recursos para o seu sustento e o das suas famílias.
Entretanto, por proposta de um importante armador de Lisboa, foi conseguido um acordo para a matrícula de pescadores, obedecendo ao princípio de pagamento e percentagens, nas seguintes condições:
Soldada fixa: Esc. 2.500$00 – Matrícula: Esc. 1.000$00 – Embarque: Esc. 1.000$00. Percentagens: De 25 a 50 quintais, Esc. 20$00; de 51 a 100 quintais, Esc. 30$00; mais de 100 quintais, Esc. 50$00.
Pescadores de emprego, mais salgadores: Até meio carregamento, Esc. 200$00; idem, carregamento completo, Esc. 400$00. Escaladores: Até meio carregamento, Esc. 100$00; idem, carregamento completo, Esc. 200$00.
Uma vez afastadas as exigências por parte dos pescadores, previa-se que também os armadores pudessem transigir até onde as circunstâncias o permitisse, sem quebra dos princípios estabelecidos colectivamente.
Como a lei determinava que as matriculas teriam de ficar concretizadas no final de Fevereiro, após alargamento ao prazo inicialmente previsto, os navios e pescadores que até essa data não tivessem efectuado a respectiva inscrição, levaria a que os navios ficassem irremediavelmente amarrados, deixando por sua vez os pescadores sem trabalho em terra.
Num dos dias que se seguiram, teve lugar na Fuzeta uma assembleia de pescadores onde foi denunciado, que o tal armador de Lisboa supostamente bem-intencionado, não existe. Um boato tinha sido posto a circular, naturalmente bem aceite pela imprensa, que o publicou, na perspectiva que algum armador furasse o estabelecido nas reuniões da Associação e abrisse um precedente, a ser posteriormente aceite pelos demais armadores. Em vão!...
Sem alternativas e sujeitos às condições propostas pelos armadores, os pescadores vencidos pelas necessidades, pelo medo de futuras represálias e até coagidos pelas próprias famílias, face ao receio mais que provável de viver na miséria, meteram pés ao caminho e de norte a sul acertaram as matrículas legalizadas nas capitanias. Os navios e as tripulações saíram para o mar a partir do mês de Abril, ultrapassados os dias de crise. Pela última vez os navios fixaram-se a pescar exclusivamente nos bancos da Terra Nova, numa safra ainda pouco satisfatória.
No ano seguinte, em 1931, toda a prática de pesca iria ser alterada, com os pequenos barcos de madeira da frota nacional a navegar mais para norte, entre enormes ilhas de gelo. Só a coragem e ousadia de uns poucos levou à descoberta de novos cardumes e melhores pescarias, nos distantes bancos da Gronelândia.
Outro dos navios presentes na campanha de 1930
Depois dos primeiros episódios em que arriscamos clarificar os pontos divergentes, relativamente à crise instalada na pesca longínqua, já no início de Fevereiro há um agravar do conflito por parte dos armadores, face à intransigente indisponibilidade em aceitar os aumentos dos salários, percentagens e adiantamentos de uso comum, entretanto propostos, que quase anularam a campanha desse ano.
A firma Testa & Cunhas, Lda., uma das mais importantes de Aveiro, esteve na vanguarda da decisão para suspender as negociações com os pescadores. Esta posição foi então seguida pelos outros armadores, comungando da ideia de manter os navios amarrados na ria, porque a ultima safra causou a quase todas as empresas graves prejuízos, não podendo elas, nestas circunstâncias, dispor das quantias necessárias para acudir a todas as eventualidades, tais como a incerteza de poder acontecer uma nova campanha igualmente ruinosa.
Mais grave ainda, o bacalhau não estava a sair dos armazéns e a ser distribuído no mercado ao ritmo desejado, por ser pouco e obviamente pela impossibilidade de ter uma comercialização a preços convidativos. Afigurava-se uma crise violenta, com perdas significativas para o país e armadores, que afectaria de igual modo os pescadores, que ficavam sem recursos para o seu sustento e o das suas famílias.
Entretanto, por proposta de um importante armador de Lisboa, foi conseguido um acordo para a matrícula de pescadores, obedecendo ao princípio de pagamento e percentagens, nas seguintes condições:
Soldada fixa: Esc. 2.500$00 – Matrícula: Esc. 1.000$00 – Embarque: Esc. 1.000$00. Percentagens: De 25 a 50 quintais, Esc. 20$00; de 51 a 100 quintais, Esc. 30$00; mais de 100 quintais, Esc. 50$00.
Pescadores de emprego, mais salgadores: Até meio carregamento, Esc. 200$00; idem, carregamento completo, Esc. 400$00. Escaladores: Até meio carregamento, Esc. 100$00; idem, carregamento completo, Esc. 200$00.
Uma vez afastadas as exigências por parte dos pescadores, previa-se que também os armadores pudessem transigir até onde as circunstâncias o permitisse, sem quebra dos princípios estabelecidos colectivamente.
Como a lei determinava que as matriculas teriam de ficar concretizadas no final de Fevereiro, após alargamento ao prazo inicialmente previsto, os navios e pescadores que até essa data não tivessem efectuado a respectiva inscrição, levaria a que os navios ficassem irremediavelmente amarrados, deixando por sua vez os pescadores sem trabalho em terra.
Num dos dias que se seguiram, teve lugar na Fuzeta uma assembleia de pescadores onde foi denunciado, que o tal armador de Lisboa supostamente bem-intencionado, não existe. Um boato tinha sido posto a circular, naturalmente bem aceite pela imprensa, que o publicou, na perspectiva que algum armador furasse o estabelecido nas reuniões da Associação e abrisse um precedente, a ser posteriormente aceite pelos demais armadores. Em vão!...
Sem alternativas e sujeitos às condições propostas pelos armadores, os pescadores vencidos pelas necessidades, pelo medo de futuras represálias e até coagidos pelas próprias famílias, face ao receio mais que provável de viver na miséria, meteram pés ao caminho e de norte a sul acertaram as matrículas legalizadas nas capitanias. Os navios e as tripulações saíram para o mar a partir do mês de Abril, ultrapassados os dias de crise. Pela última vez os navios fixaram-se a pescar exclusivamente nos bancos da Terra Nova, numa safra ainda pouco satisfatória.
No ano seguinte, em 1931, toda a prática de pesca iria ser alterada, com os pequenos barcos de madeira da frota nacional a navegar mais para norte, entre enormes ilhas de gelo. Só a coragem e ousadia de uns poucos levou à descoberta de novos cardumes e melhores pescarias, nos distantes bancos da Gronelândia.
Excelentes artigos sobre a pesca do bacalhau! Continue o bom trabalho, que eu deste lado vou seguindo com muita atenção.
ResponderEliminarForte Abraço,
Tiago Neves
www.roda-do-leme.com