sexta-feira, 29 de junho de 2012

Quebra-cabeças (V)


O iate "Resolvido"


Tendo como suporte de imagem o ex-voto correspondente ao naufrágio do navio, - tal como os anteriores apresentados no blog, pertença do espólio em poder da Paróquia de São Salvador de Ílhavo -, que teve lugar em local não identificado, no dia 5 de Janeiro de 1888, algures próximo ao litoral sul da costa portuguesa, é como outros iates ainda em estudo de difícil identificação, por não se encontrar registado nas páginas das principais empresas classificadoras. Pode-se igualmente supor, em função de notícias entretanto encontradas, que o navio tenha sido mandado construir em Vila do Conde, cerca de 1876 ou 1877, para Marcelino & Cª., do Porto e José Maria Urbano de Figueiredo, de Vila do Conde, ficando matriculado no Porto, para o trafego de cabotagem, muito embora iates da mesma dimensão tenham viajado até ao Brasil. Por outro lado, está confirmado também através de notícia publicada nos jornais, que o navio foi adquirido pelo sr. António Fernandes Teixeira, em 1877, no Porto e, da mesma forma, consta na lista de navios nacionais de 1882, com o Indicativo Internacional H.F.B.J., estar registado no porto de Aveiro e pertencer à classe de navios arqueados em 104,000 metros cúbicos. As notícias publicadas nos jornais, acima referidas são as seguintes:
Arrematação do iate “Resolvido”
No dia 7 do próximo mês de Maio, palas 11 horas da manhã, no Tribunal do Comércio do Porto, a requerimento dos seus proprietários será arrematado o iate “Resolvido”, de 104 metros cúbicos de registo, o qual vai ser adjudicado a quem mais por ele oferecer. O iate está ancorado junto da lingueta, que está em frente dos armazéns da alfândega de Massarelos, onde pode ser examinado; e o inventário no cartório do escrivão Lessa.
Porto, 27 de Abril de 1877 (2451)
(Comércio do Porto, Domingo, 29 de Abril de 1877)
Arrematação do iate “Resolvido”
No Tribunal do Comércio do Porto, foi ontem arrematado o iate “Resolvido” pelo sr. António Fernandes Teixeira. O preço de licitação foi de 1:182$000 réis.
(Comércio do Porto, terça-feira, 8 de Maio de 1877)
Iate “Resolvido” – Éditos de 30 dias
No dia 7 do corrente foi arrematado no Tribunal do Comércio o iate “Resolvido”, a requerimento dos seus proprietários, Marcelino & Cª., do Porto, e José Maria Urbano de Figueiredo, de Vila do Conde, pelo valor de 1:182$000 réis, cuja quantia se acha depositada na Nova Companhia Utilidade Pública; por isso são chamadas todas as pessoas, que se julguem credoras do referido iate, para que no prazo de 30 dias, a principiar nesta data, a apresentarem os seus créditos no cartório do escrivão Lessa.
Porto, 11 de Maio de 1877 (2873)
(Comércio do Porto, sexta-feira, 18 de Maio de 1877

Relativamente ao naufrágio representado na imagem do ex-voto, o mesmo explica-se por si, com o seguinte teor: - Hiate Rezulvido - Milagre que fes a imagem do Senhor Jesus, ao capitão Manoel Simões Vagos e à sua tripulação, no dia 3 quando cahio o contramestre ao mar às 11 horas da manhã. E no dia 4 é que dezalboramos às 11 horas da noite e no dia 5 é quando nos apareceu às 8 horas da manhã o vapor Villa Tarragona francês, procorando todos os meios para nos salvar i às 11 horas da manhã é que fomos salvos, em Janeiro de 1888.
O navio que procedeu ao resgate dos náufragos trata-se efectivamente do vapor francês “Ville de Tarragone”, com uma arqueação bruta de 1.546 toneladas, construído no estaleiro inglês de R. Thompson, sito em Southwick, em Dezembro de 1882, para a Compagnie Havraise Peninsulaire de Navegation à Vapeur, vulgarmente conhecida em Portugal como Linha Peninsular, já citada no blog, devido ao conflito de interesses com a Companhia Thétis, do Porto, face às disputas no valor dos fretes na ligação entre Portugal e a França. Este vapor perdeu-se por naufrágio devido a colisão, próximo à entrada do porto do Havre, a 13 de Novembro de 1907.
Uma última notícia subjacente ao naufrágio, com origem em Lisboa, no dia 6 de Janeiro, às 11 horas e 5 minutos da noite, faz constar ter saído um vapor da alfândega, para recolher alguns náufragos portugueses, transportados pelo vapor “Ville de Tarragone”, que para o efeito aguardava fora da barra do rio Tejo.

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