sábado, 2 de julho de 2011

Pesca do bacalhau - O lugre "Júlia Quarto "


No mar
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Temporal - Morte e ferimentos - Avarias

Vindo dos bancos da Terra Nova, da pesca do bacalhau, com 18 dias de viagem, entrou anteontem no porto de Leixões o lugre português “Júlia IV”, propriedade da Companhia de Pesca Atlântica, da Figueira da Foz.
Na noite de 4 para 5 do corrente o “Júlia 4º”, pelas alturas da Ilha de S. Miguel, apanhou um violento temporal, levando-lhe o mar o tripulante Ramiro Bola, da praia da Nazaré, que não pode ser salvo, apesar dos esforços empregados pela tripulação.
Na ocasião foi também arremessado à distancia o marítimo José Maria Morranga, de 33 anos, casado, também da praia da Nazaré, primo do Bola, que o mar levara e que ficara com a clavícula esquerda fracturada e muito contuso pelo corpo.
Este ferido veio ontem de Leixões para o hospital da Misericórdia, recolhendo à enfermaria nº 2, tendo-lhe prestado os primeiros socorros o sr. Dr. Arnaldo Mendes.
O “Júlia 4º” sofreu graves avarias a bordo. Outras embarcações, também procedentes da pesca do bacalhau, apanharam o temporal, tendo algumas igualmente sofrido avarias.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 13 de Outubro de 1918).

O lugre “ Júlia IV “ ou “ Júlia Quarto “
1914 - 1949
Companhia de Pesca Atlântica, Figueira da Foz

O lugre "Júlia Quarto" a navegar
Foto de autor desconhecido, eventualmente do arquivo do MMI

Nº Oficial: 436-C - Iic.: H.J.L.B. - Registo: Lisboa, 1915
Construtor: António Maria Bolais Mónica, F. Foz, 04.10.1914
Arqueação: Tab 220,66 tons - Tal 165,44 tons
Dimensões: Pp 38,56 mts - Boca 8,83 mts - Pontal 3,47 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 40 tripulantes
Capitães embarcados: Fernando Mathias Lau (1915), Manoel Tavares Pinto (1916), Gustavo Peixe (1917), José Thomé Rosa (1918), José Augusto Ramos (1919 a 1928 ) e Manuel Fernandes Mathias (1929 e 1930).

Nº Oficial: 436-C - Iic.: C.S.H.A. - Registo: Lisboa, 1934
Arqueação: Tab 256,69 tons - Tal 193,54 tons
Dimensões: Pp 37,58 mts - Boca 8,84 mts - Pontal 3,82 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 42 tripulantes
Capitães embarcados: João de Deus (1934), Manuel Francisco Chula (1935 e 1936)

Alterou o nome para “ Júlia Quarto “ em 1937
Nº Oficial: G-377 - Iic.: C.S.H.A. - Registo: Lisboa, 1939
Construtor: António Maria Bolais Mónica, F. Foz, 04.10.1914
Arqueação: Tab 260,06 tons - Tal 183,59 tons
Dim.: Ff 42,80 mts - Pp 38,21 mts - Bc 8,84 mts - Ptl 3,82 mts
Propulsão: Skandia, 1937 - 1:Sd - 2:Ci - 130 Bhp - 7 m/h
Equipagem: 40 tripulantes
Capitães embarcados: Francisco A. Bichão (1937 a 1940), António Marques (1941 a 1945), João Fernandes Parracho (1946 a 1948) e José Gonçalves da Silva (1949).

O “Júlia IV” foi um lugre de 3 mastros, construído com madeira de pinho e de carvalho, cujo preço orçou em Esc 18.000$00. Tinha proa de beque, popa redonda e convés com salto à ré. A carena estava forrada com latão.
Em 1929 o lugre mais os dóris foram avaliados em Esc. 309.500$00, tendo navegado com 43 tripulantes e utilizado 39 canoas. Para essa campanha foram disponibilizadas 185 linhas com anzóis, adquiridas por Esc. 3.700$00. No período entre 1928 a 1934, teve no ano de 1932, navegando com 36 tripulantes e dispondo de 34 canoas, a melhor campanha, com capturas na ordem das 207 toneladas, o que equivale a cerca de 3.450 quintais de bacalhau, que resultaram num valor comercializado muito próximo a Esc. 415.000$00. Só mais recentemente, por volta de 1946 viu alterado o No. Oficial para "LX-5-N", com o qual navegou até à data do naufrágio, motivado por incêndio, quando se encontrava em plena actividade piscatória no Virgin Rocks, Terra Nova, a 1 de Agosto de 1949.

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